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Crítica | 007 Contra GoldenEye

por Ritter Fan
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O filme anterior da franquia, 007 – Permissão Para Matar, foi injustamente um dos que menos sucesso obteve na história bilionária de James Bond. Além disso, muitos reclamaram de seu tom sombrio e da violência, como se essas características não pudessem se encaixar na persona feroz de Bond. No entanto, o relativo fracasso financeiro não foi a razão do maior espaço de anos entre dois filmes da série. Afinal, foram longos seis anos de espera até o lançamento de GoldenEye (o título em português não faz nenhum sentido).

Só para se ter uma idéia, o maior intervalo até então havia sido os três anos entre 007 Contra o Homem Com a Pistola de Ouro e 007 O Espião Que Me Amava, causado pela saída traumática de Harry Saltzman da produção por problemas financeiros, pela demora na escolha de um diretor, pois um tal de Spielberg, cotado para o cargo, queria saber qual seria o futuro de seu filme sobre um certo tubarão assassino e pela liminar obtida por Kevin McClory para impedir a Eon Productions de usar Blofeld e a S.P.E.C.T.R.E. como elementos de seus filmes (mais sobre McClory aqui).

O problema entre 007 – Permissão Para Matar e GoldenEye, porém, foi um só: a MGM/UA foi vendida em 1989 para o grupo australiano Qintex, que queria, por sua vez, fazer uma fusão com a Pathé. Isso levaria os filmes da série a serem licenciados para a distribuidora francesa e a Eon Productions não gostou nada disso, entrando com uma ação para impedir esse troca-troca de propriedade de seus filmes.

A pancadaria fez com que tudo andasse a passos lentos e Timothy Dalton, que ainda tinha contrato para mais um filme, perdeu a paciência e saiu fora. A procura por um novo Bond começou, mas não demorou tanto pois Pierce Brosnan já havia sido cotado para substituir Roger Moore, o que só não acabou acontecendo porque ele, há época, vivia o personagem Remington Steele na série de TV homônima que estava para ser cancelada. Como o interesse pela série começou a crescer pelos rumores da contratação de Brosnan para viver Bond, a ABC exerceu a opção de renová-la e o ator não podia negar sob pena de pagamento de pesada multa. Agora, porém, ele não tinha mais obrigações e pode vestir o manto de James Bond.

O neozelandês Martin Campbell, diretor que, até então, não havia feito nada realmente de nota em sua carreira, abraçou o projeto e, demonstrando um impressionante domínio do espaço e da montagem de cenas de ação, acabou ressuscitando 007 para a década de 90. Sob seu comando, James Bond ganhou novamente o charme cínico e o forte flair britânico de Sean Connery. Por outro lado, perdeu toda a intensidade assassina do Bond de Timothy Dalton. GoldenEye não tem sangue, ainda que seja um engano achar que não tem mortes. Muito ao contrário, pois essa fita é a que mais contém mortes causadas diretamente por James Bond, muito a frente de qualquer outro filme da série (47 para quem tiver curiosidade, contra 31 de 007 – O Espião Que Me Amava e 007 – Um Novo Dia Para Morrer).

O trabalho de Campbell é tão seguro que ele consegue compensar um roteiro picotado, que não só não explica satisfatoriamente a trama como, também, facilita determinadas situações que poderiam ter sido mais bem trabalhadas. Por exemplo, Janus é um misterioso personagem que nunca apareceu para ninguém, mas Bond encontra-o facilmente, como se tivesse colocado um anúncio de “procura-se” no jornal local. Faltou ao roteiro de Jeffrey Caine e Bruce Feirstein a sofisticação de alguns dos roteiros do veterano Richard Maibaum, que falecera em 1991.

Mas há momentos de puro brilhantismo, como a que talvez seja a melhor cena pré-créditos de um filme da franquia: Bond (Brosnan) faz bungee jumping do topo de uma represa soviética, encontra Alec Trevelyan (Sean Bean), o agente 006 e, juntos invadem o local. Trevelyan é assassinado a sangue frio e Bond corre atrás de um avião desgovernado, pula em uma moto e se joga, sem titubear e sem paraquedas, em um abismo atrás do avião, que também está em queda livre, entra e toma controle da aeronave. É de tirar o fôlego de qualquer um.

A partir desse ponto, porém, a trama cai um pouco em lampejos de criatividade, com Bond encontrando-se vezes demais com a femme muito fatale Xenia Onatopp (a bela Famke Janssen), que tem orgasmos matando pessoas com seu cruzamento de pernas e pulando de lugar em lugar em uma pseudo-investigação.

Como disse, porém, a câmera certeira de Campbell não deixa o ritmo da película cair, no que é ajudado pela eficiente e bela fotografia de Phil Meheux. No quesito efeitos especiais, porém, o filme mostra sua idade prematuramente, pois o uso de maquetes e de algumas pinturas matte deixa claro o ar artificial de algumas cenas.

GoldenEye revitalizou a franquia sem verdadeiramente inovar. Apesar do enorme sucesso do filme e de eu particularmente tê-lo visto e revisto em sua época (além de ter jogado incessantemente o sensacional videogame homônimo da Nintendo), uma nova análise me faz concluir que ele significou uma espécie de volta ao terreno seguro do James Bond sessentista, com Connery na pele do personagem. Não há nada de errado nisso na verdade, mas, depois de John Glen e Timothy Dalton terem verdadeiramente transformado a série com os dois filmes anteriores, GoldenEye parece um retrocesso. Mas certamente um retrocesso gostoso de se ver e rever.

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