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Crítica | 127 Horas

por Iann Jeliel
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127 Horas

127 Horas é baseado num livro homônimo de mesmo nome, por sua vez narrado por experiência vivenciada pelo seu autor Aron Ralston (James Franco), um engenheiro metido a alpinista, que sai para explorar Blue John Cânion sem avisar a ninguém próximo e acaba em acidente, prendendo seu antebraço numa rocha, forçando-o a sobreviver por um pouco mais de cinco dias na fenda de um desfiladeiro, até decidir cortar o próprio membro para conseguir escapar.

Pela premissa e se tratando de um filme do enérgico cineasta Danny Boyle, já temos um fato contundente sobre a narrativa: Ela vai procurar mais o que contar. Não que o exercício de sobrevivência descrito pela história real não fosse um material suficiente para render um longa-metragem de noventa minutos, mas conhecendo um pouco o estilo do diretor, é evidente que sua lente ansiosa não se contentaria somente com a contemplação do sofrimento do incidente, até por isso – justificando eu ter contado “spoiler” sobre a história –, ele a observa de maneira secundária na dramática. O filme, na verdade, é sobre a transformação de um homem que ficou muito próximo da morte, em uma leitura deveras, não tão particular quanto poderia, contrariando o que indica o material fonte.

O texto adaptado de Danny Boyle em parceria a Simon Beaufoy, procura escapar de didatismos biográficos, sempre procurando outros recursos visuais para oferecer particularidades da personalidade do personagem, para montarmos o seu quebra-cabeça psicológico e termos discernimento do que mudará, de antes para depois da tragédia. Flashbacks com lapsos de tempo ilustrando do que ele pode ter se arrependido, vídeo-vlogs para que o personagem dialogue com o público sobre o que está sentido ainda que com desabafos subjetivos, sequências lúdicas do que ele estaria fazendo se não estivesse ali, montagens com paralelismos entre diferentes tempos na rocha e fora dela. Boyle vai intercalando constantemente essas diferentes perspectivas, forçando uma estilização visando atingir um maior aprofundamento a psique de Aron.

No texto a ideia é ótima, mas na prática, mesmo com um James Franco devidamente inspirado na expressividade reativa as dificuldades naturais e comprometido a dar camadas sentimentais ao personagem conforme o tanto de tempo que ele passa ali, a estilização do diretor funciona mais como um objetivo funciona mais como um objeto de dinâmica rítmica ao filme, para que ele não caia no marasmo, do que um aprofundamento existencialista do “dar valor a vida” que circunda a mensagem final. Porque as motivações apresentadas, no fim das contas, não passam tanto do básico da informação levantada no início. Até pelo recorte adotado, não sabemos as origens reais das dificuldades de relacionamento de Aron com os pais ou antiga paixão para além de consequências ao seu estilo de vida compulsório, o grande ponto de virada ao micro estudo de personagem.

Acontece que não era preciso ter investido tanto tempo para evidenciar as mudanças, no caso, a ponto de precisar desviar várias vezes do potencial da atmosfera claustrofóbica engolidora da situação. Por mais que a sobrevivência fosse de um viés secundário a proposta, ela não podia ser apática, deveria haver alguma construção acumulativa de tensão, para que tornasse a derradeira cena do corte no braço uma saída inevitável. Os entrecortes da montagem, tampouco se arriscam em demonstrá-la da forma explicita, uma escolha coerente para manter o viés otimista buscado na história, mas decepcionante no efeito de contagem, errôneo pensando num filme que foi tão estilizado por enxerto a agregá-la e não consegue vender seu principal atrativo, no mínimo, com o mesmo apelo.

Obvio, há um desconforto vigente pensando que aquilo aconteceu de verdade e uma empatia quase que automática vindo disso e da caracterização do espírito aventureiro e altruísta falando mais alto do que a calamidade, tanto que a montagem ao final, deixa bem claro que Aron não deixou de ser alpinista pela falta do braço, pelo contrário, isso só fomentou sua vontade de viver melhor a vida e aproveitá-la de forma menos egoísta. Mas tudo isso, sinto que é do típico filme em que a história é mais interessante que a forma em que ela foi contada. 127 Horas definitivamente, se encaixa nesse rótulo.

127 Horas (127 Hours | EUA – Reino Unido, 2010)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Danny Boyle, Simon Beaufoy (baseado em livro de Aron Ralston)
Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams
Duração: 94 min.

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