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Crítica | “25” – Adele

por Handerson Ornelas
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“Hello. How Are You?” – assim Adele abre seu disco tão aguardado. Através da imensidão de fãs, prêmios e recordes que a cantora conquistou com seu disco 21 já parece normal ver ela quase como uma pessoa próxima, uma amiga. Depois de tudo que ela provocou no cenário musical com seu 21 – o mais vendido da era digital – era normal a expectativa gigantesca por trás de 25. O álbum mais esperado da década eu diria, já que não se vê há bastante tempo tanta publicidade por trás de um disco. Em 25, Adele segue construindo sua ótima discografia, mas não se trata de um álbum impecável ou um novo marco pra indústria da música. Parece não se importar em provar nada – e certamente não precisa, visto o que ela já provou – e segue apostando em time que está ganhando.

O single e clipe Hello que bateu recorde de acesso no Youtube me deixou com medo. Hello é satisfatório por um ponto bem simples: Adele. Se não fosse a fantástica voz da cantora e as notas impressionantes que esta atinge nela, não restaria muita coisa do single (e aqui me refiro exclusivamente a canção, visto que o clipe dirigido por Xavier Dolan é incrível). Perceba como o arranjo não possui nada que impressione como foi a genialidade do arranjo de Rolling In The Deep (a abertura do disco anterior). Aqui, em troca da ótima harmonia orgânica e rica de Rolling In The Deep, temos um arranjo com um piano monótono e batidas mais do que manjadas. Acho que Adele nos fez esperar mais do que isso vindo dela.

Send My Love serve pra tranquilizar bastante já que é Adele entrando muito bem em terreno nunca antes visto. A faixa possui um dos refrões mais pops da cantora e um dos climas mais “alegres” já vistos por ela. Visto o atual momento de Adele, era de se esperar que tais canções seriam as mais bem sucedidas. Convenhamos que no clímax de sua popularidade, nascimento de um filho e recordes sendo quebrados não são os maiores incentivos para canções dramáticas. É difícil aceitar, mas clássicos com essa carga emocional nunca surgiram nos melhores momentos dos artistas. Sábias as decisões de artistas que percebem isso e tomam uma direção diferente (vide o novo e alegre, How Big, How Blue, How Beautiful da Florence + The Machine).

Se a bateria de inúmeras canções de 21 chamavam atenção (Rumour Has It, He Won’t Go, Rolling In The Deep), aqui elas quase não aparecem, em parte devido a diferença de abordagem que a cantora parece ter optado. De qualquer forma tal característica aparece forte ao menos em I Miss You, chamando atenção por ampliar o clima dramático da faixa e dar mais profundidade a voz de Adele ao refrão – um dos que mais ficará em sua cabeça.

Por mais que a cantora tenha um certo medo de se arriscar e mantenha muita coisa de 21 (compreensível, jogou bem as regras do jogo), há uma inserção de novas sonoridades, benéficas ou não, dependendo de seu ponto de vista. Os efeitos dos sintetizadores de Water Under The Bridge são bastante interessantes, mas acabam caindo absurdamente em seu refrão, parecendo arranjo de canção de Imagine Dragons (sério, Adele???). Não acredita? Retire os belíssimos vocais da cantora (que fazem QUALQUER canção soar melhor) e perceberá.

Love In The Dark possui um arranjo sinfônico magnífico, no entanto, é só um dos exemplos que colocam em dúvida as declarações iniciais da cantora sobre o disco. Esta afirmou que 25 seria sobre algo diferente – um disco sobre “reatar relacionamentos”, enquanto 21 foi sobre a ruptura deles – mas aqui canta o mesmo sofrimento de separação que cantava em seus discos anteriores. E isso não acontece somente em uma canção de 25, mas em várias. Por outro lado, canções como River Lea tentam ir de oposto a isso e corroborar na afirmação da cantora. O próprio arranjo meio vintage e meio “música indie dançante” com a excelente letra (Consider this my apology, I know it’s years in advance – “Considere minhas desculpas, eu sei que são anos mais tarde”) ressaltam esse diferenciamento.

É interessante perceber o time de colaboradores e produtores (estes a cantora fez questão de chamar os melhores do mercado). Algumas colaborações nem mesmo passaram pelo corte final (vide o desentendimento entre ela e Damon Albarn), mas uma curiosa parceria foi noticiada há bastante tempo e, passando ou não pelo corte, parece ter influenciado Adele: Phil Collins. Escutar faixas como When We Were Young (parceria com o indie Tobias Jesso Jr.) e Remedy – típicas baladas melódicas ao piano com arranjo de vozes por trás – podem lembrar bastante características do cantor. É difícil não imaginar (a ótima) When We Were Young como trilha sonora de Tarzan e outros filmes da Disney, por mais ridículo que isso possa soar. Tais canções estão muito longe de serem chamadas “fracas”, mas também não conseguem impressionar.

Provavelmente o maior acerto do disco fica com sua sequência final de canções. Million Years Age se destaca bastante por mostrar uma Adele a lá trovadora solitária, apenas sua voz e um violão contando lembranças “de milhões de anos atrás”. Se trata de uma brilhante canção sobre saudade e arrependimento com uma letra de cortar o coração. Em seguida temos All I Ask, melhor faixa do disco e a mais propícia a emoções. Adele faz uma performance memorável – e aqui ela realmente convence de seu “sofrimento” –  e através das doces notas do piano é criada a canção mais Soul e Heartbreaking, do nível de clássicos da Motown. Sweetest Devotion fecha então o disco de maneira bastante interessante, menos pelas notas alcançadas pela cantora e mais por ser Adele abrindo uma nova página de sua vida, cantando sobre seu filho (que inclusive está presente em alguns sons da faixa).

Como todo artista, Adele teve que passar pelo desafio do terceiro álbum. 25 não é o trovão que tantos esperavam arrebatar a indústria como o disco anterior fez. Adele segue uma boa estratégia: fica em cima do muro, reveza entre entregar músicas diferentes ao mesmo tempo que oferece o mesmo prato que a tornou tão popular. Claro, mesmo esse “prato” continua surpreendente, mas bem menos que 21. 25 virá a quebrar vários recordes, assim como fez seu predecedor, mas será muito mais pelo que Adele já construiu e pela publicidade do que pelo real conteúdo. Visto que a cantora encanta qualquer ouvido que sua voz chega, isso é mais que merecido.

Aumenta!: All I Ask
Diminui!: Hello
Minha canção preferida: Million Years Ago

25
Artista: Adele
País: Inglaterra
Lançamento: 20 de novembro
Gravadora: XL
Estilo: Pop, Soul

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