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Crítica | A Batalha do Planeta dos Macacos

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Atenção: Há inevitáveis spoilers da franquia. Se não assistiu, sugiro fortemente que assista desde o começo.

Depois da decepção com Conquista do Planeta dos Macacos, filme que, apesar de desnecessário, poderia ter sido realmente muito bom – mesmo com o baixíssimo orçamento – se Paul Dehn, o roteirista, não tivesse sido preguiçoso, não esperava nada mais da parte final dos filmes clássicos que não uma mixórdia total. Mas, por incrível que pareça, apesar da mixórdia estar efetivamente presente e de maneira gritante, a produção conseguiu manter um certo equilíbrio e fechar a “pentalogia dos macacos” de maneira minimamente razoável com A Batalha do Planeta dos Macacos.

O filme começa pelo menos 12 anos depois dos acontecimentos de Conquista (há controvérsia sobre o tempo exato que se passou, mas isso não é lá muito importante) e mostra Caesar (Roddy McDowall), filho de Cornelius e Zira, como líder de uma aldeia em que um frágil equilíbrio entre símios e humanos existe. Ele está casado (ou seja lá o que símios evoluídos fazem nessa área) com Lisa (Natalie Trundy), a símia que falou “não” no filme anterior e com ela tem um filho, Cornelius (Bobby Porter). O gorila General Aldo (Claude Akins) não está muito satisfeito com a benevolência de Caesar com os humanos e planeja um golpe de estado. Mas a confusão começa de verdade quando Caesar é informado pelo humano MacDonald (Austin Stoker, mas vivido por outro ator no filme anterior) que há informações sobre os pais de Caesar na Cidade Proibida (ruínas nucleares de uma cidade humana). Caesar, juntamente com um grupo próximo de aliados, viaja para a cidade para recuperar essas informações e bate de frente com o Governador Kolp (Severn Darden), um humano mutante afetado pela radiação (semelhante aos humanos de De Volta ao Planeta dos Macacos). Por outro lado, o General Aldo vê isso como uma perfeita oportunidade para precipitar seu golpe militar.

Um dos problemas desse filme é que, obviamente, ele parte do final “feliz” de Conquista e não do sombrio e pesado, que mostra que humanos e símios jamais poderiam reconciliar-se. Assim, a convivência entre humanos e macacos, que começou com uma guerra, agora fica parecendo a tranquilidade da aldeia dos Smurfs. Além disso, o roteiro exige que nós aceitemos que, em meros 12 anos (ou 20 ou 30, pouco importa), diversos outros símios de várias espécies e nenhum deles descendentes de Caesar, aprenderam a falar (e, ainda por cima, fluentemente), além de costurar roupas, construir casas e a viver em sociedade de maneira muito semelhante (até demais) aos humanos. Aceitaria que tudo isso acontecesse ao longo de séculos (na verdade, milênios), mas em uma ou mais décadas é exigir demais da suspensão da descrença do espectador. E, como se isso não bastasse, temos que acreditar também que, por alguma razão qualquer, houve uma guerra nuclear nesse meio tempo e que ela não atingiu os símios e fez o homem reverter a um estágio quase Neandertal.

Mas há o lado bom também. Para começar, os roteiristas de Batalha, John William Corrington e Joyce Hooper Corrington (contratados para mexer no roteiro original de Paul Dehn, que abandonou o projeto em razão de doença) foram inteligentes ao encapsular a ação principal, que tratei acima, em uma aula do Lawgiver (vivido por ninguém menos do que o grande John Huston), 600 anos no futuro. Ou seja, o filme começa com a narração desse personagem, citado lá no primeiro filme da franquia, e termina ali também, revelando um final que definitivamente não é surpreendente, mas que demonstra um mínimo de competência cinematográfica. Aliás, essa escolha permite até – com benevolência – que relevemos completamente as incongruências do roteiro, pois, se o Lawgiver está contando uma história de 600 anos atrás, ele está, na verdade, contando uma lenda e é normal que, nessas circunstâncias, os detalhes do que efetivamente ocorreu tenham se perdido, misturado ou, simplesmente, esquecidos ou até alterados convenientemente. Esse artifício torna a fita muito mais interessante, além de abrir portas paras as mais diversas interpretações.

Além disso, as próteses símias estão melhores aqui do que na obra anterior, algo particularmente importante para permitir a imersão do espectador. Afinal, esse filme, assim como o primeiro, tem como ambientação uma vila símia, obviamente com uma maioria de personagens não-humanos. Se o trabalho de máscaras e maquiagem fosse pobre aqui como foi em Conquista, poderia haver uma ruptura do fluxo narrativo com momentos do tipo “olha lá a máscara de macaco”. Com o cuidado neste departamento, o filme mantém sua fluidez e tem um resultado final nesse quesito muito satisfatória, talvez só inferior mesmo ao primeiro filme.

Outro aspecto que surpreende em Batalha é o tratamento da relação chave entre Caesar, Aldo e Cornelius. O diretor J. Lee Thompson, responsável pelo capítulo anterior, soube trabalhar muito bem o triângulo existente entre os três, destrinchando um roteiro que não escolhe o caminho mais fácil.

O resultado é uma obra que vai até as últimas consequências para mostrar um final minimamente competente para uma série que deveria ter acabado no terceiro episódio.

*Crítica originalmente publicada em 2011 fora do Plano Crítico. Publicada no site em 17 de julho de 2014. Revisada e ampliada para republicação.

A Batalha do Planeta dos Macacos (Battle for the Planet of the Apes, EUA – 1973)
Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: John William Corrington, Joyce Hooper Corrington (baseado em história de Paul Dehn e em romace de Pierre Boulle)
Elenco: Roddy McDowall, Claude Akins, Natalie Trundy, Severn Darden, Lew Ayres, Paul Williams, Austin Stoker, Noah Keen, France Nuyen, Michael Stearns, John Landis, Paul Stevens, Bobby Porter, John Huston
Duração: 93 min.

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