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Crítica | A Centopeia Humana

por Fernando Annunziata
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A mais bela das criaturas.

Um conhecido filme de terror, A Centopeia Humana conquistou o público pela sua bizarrice extrema, não só pelo gore presente nas cenas, mas também na pauta inusitada. Apesar de cumprir com a premissa diferente e contar com sequências marcantes, infelizmente a obra se perde em momentos decisivos e constrói ações burras, de tal modo que nem o estilo trash perdoa. Lindsay (Ashley C. Williams) e Jenny (Ashlynn Yennie) se encontram perdidas e sem comunicação. A esperança das garotas está na casa do Dr. Heiter (Dieter Laser), um médico que esconde um projeto de criar uma centopeia composta por humanos.

Não dá para negar que Centopeia Humana de fato é uma referência ao gore. Se a pauta já enxerga algo perturbador, as cenas não deixam a desejar: tudo causa nervoso, desde o mais simples (como o barulho do Dr. Heiter comendo uma carne mal passada) até o mais complexo (a cena em que o sistema digestório da centopeia começa a funcionar). E isso é uma das maiores conquistas que um filme do gênero pode trazer. Ora, se a pauta inicial era justamente trazer algo que causasse nervoso no espectador, todas as cenas deveriam levantar esse clima, inclusive as mais simplórias. Ainda mais que devemos lembrar que um bom projeto é aquele que cumpre o que promete; não necessariamente precisa ter grande cunho social ou crítico.

Alimentando esse elemento perturbador, é interessante que as cenas não demoram a começar. Normalmente é uma grande enrolação até que se chegue ao clímax. Aqui, entretanto, o ápice acontece na transição do primeiro pro segundo ato, com cerca de 30 minutos de trama. Assim, as cenas gore cobrem grande parte do filme, em especial com a presença prematura da centopeia. Por outro lado, antes da primeira meia hora de filme, a obra parece que não engaja: é repleta de ações inúteis e burras, tratando o espectador com deboche. O maior exemplo (e que me fez colocar a mão na cabeça e fingir que não estava vendo) é quando Lindsay tinha clara oportunidade de fugir, porém resolveu voltar para a sala de cirurgia a fim de carregar a amiga desacordada (?). Qualquer pessoa com mais de 20 de QI teria corrido e chamado ajuda. Porém, como sempre acontece, protagonistas do gênero são burros, o que vem a se tornar um defeito quando essa falta de raciocínio ultrapassa o limite permitido pelo trash e afeta também a inteligência do espectador. Roteirizar personagens burros é um assunto; rir da cara dos espectadores é outro. O final também é corrido, com a presença de policiais aleatórios que simplesmente aparecem na casa e, mais uma vez, são tratados da maneira mais idiota possível. 

Com grande espetáculo, porém, a atuação de Dieter Laser é muito eficiente. Mesmo que já saibamos a verdadeira intenção do médico, as expressões do ator ajudam a decifrar que há algo de estranho no homem. Uma das cenas que mais exemplificam essa boa atuação é quando ele está jantando ao lado da centopeia humana e transmite uma expressão de calma e realização por ter efetivado o projeto de criar “aquilo”, ao mesmo tempo que demonstra um sentimento de culpa. Isso tudo sem falar uma palavra! É uma pena que, mais uma vez, a falta de inteligência das protagonistas ofusca esse elemento. Com a atuação eficiente, qualquer pessoa perceberia que Heiter é um homem com más intenções. Porém, de imediato, o médico não chega a amedrontar as protagonistas. Este efeito “óbvio, porém apenas pro espectador” constrói um clima forçado, que nos faz sempre relembrar que estamos assistindo a uma obra cinematográfica, nos distanciando cada vez mais na imersão da película. Inclusive, este artifício a longo prazo, traz até a comicidade em um projeto que não queria ter: colocamos a mão na cabeça, rimos e dizemos “não é possível que eles caíram nisso”.

A Centopéia Humana é uma boa obra para se assistir como passatempo, sobretudo pela ousadia da pauta e pelas cenas perturbadoras. A atuação de Dieter Laser é mais um forte pilar do filme, mas que infelizmente é ofuscada por sequências que tratam as protagonistas e, pior, o espectador como idiotas. De qualquer maneira, o projeto cumpre com a premissa.

A Centopéia Humana (The Human Centipede: First Sequence) – Países Baixos, 2009
Direção: Tom Six
Roteiro: Tom Six
Elenco: Dieter Laser, Ashley C. Williams, Ashlynn Yennie, Akihiro Kitamura, Andreas Leupold, Peter Blankenstein, Bernd Kostrau, Rene de Wit, Sylvia Sidek, Rosemary Annabella, Mauricio d’Orey
Duração: 92 min.

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