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Crítica | A Conquista do Planeta dos Macacos

por Ritter Fan
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Com o final do cinema:

estrelas 2

Com o final original:

estrelas 2,5

Atenção: Há inevitáveis spoilers da franquia. Se não assistiu, sugiro fortemente que assista desde o começo.

Ainda que Conquista seja efetivamente bem melhor que De Volta ao Planeta dos Macacos, o fato é que a terceira continuação da franquia Planeta dos Macacos, depois do ótimo Fuga, era completamente desnecessária. E não só isso. Se a Fox tivesse juntado um time de roteiristas minimamente competente, não teriam feito a história que fizeram aqui, repleta de furos de lógica e, porque não, científicos também.

Conquista se passa 20 anos depois da fita anterior, com Milo (agora chamado Caesar e vivido por, adivinhem, Roddy McDowall), o filho de Cornelius e Zira, já adulto e vivendo sob a proteção de Armando (Ricardo Montalban) em seu circo. O respeito à mitologia criada se faz presente, portanto, com um começo que se encaixa perfeitamente dentro do que podemos esperar.

O problema, porém, jaz na invenção de Paul Dehn, o roteirista, de uma praga qualquer que teria dizimado os cães e gatos em 1983, 10 anos depois do ano em que o filme anterior se passa. Com isso, a população humana ficou literalmente carente de animais de estimação e, não demora, os símios passam a substituir os bichinhos perdidos.

Mas, como a maldade humana não tem limites, logo se percebe que os novos animais de estimação são especialmente inteligentes e bons com tarefas domésticas simples e uma situação de domesticidade transforma-se em uma de escravidão, em uma sociedade totalitária (o totalitarismo, porém, não recebe muita explicação). Vendo aquilo tudo e catalisado por uma situação em particular, Caesar, sendo mais evoluído, grita o correspondente símio à famosa frase de Charlton Heston no primeiro filme: “Lousy human bastards“. Armando, mais do que rapidamente, diz que foi ele quem gritou e, no meio da confusão, enquanto Armando se explica às autoridades, Caesar é enjaulado com seus pares menos desenvolvidos e lá começa a planejar uma revolução. Segue-se uma briga de baixo orçamento bastante violenta e com muito sangue fajuto e um final de esperança para os símios liderados por Caesar.

Ainda que a tentativa de crítica social do filme seja algo louvável, os problemas deste roteiro são muitos. Primeiro, que tipo de praga com base minimamente científica extermina integralmente duas espécies completamente diferentes, como cães e gatos? E só afetam cães e gatos, mais nada? E de onde é que saiu a ideia de que os humanos precisam tanto assim de bichos de estimação para sobreviver, ao ponto de adotarem símios? E porque símios, já que coelhos ou porquinhos-da-índia, por exemplo, seriam mais simples e menos custosos, ocupando bem menos espaço? Além disso, os símios comuns, por mais próximos que sejam dos humanos e por mais bem treinados que possam ser, não tem  a postura apresentada por eles na fita: andam quase eretos, cumprem tarefas mais do que básicas como se fossem humanos, são maiores que símios comuns e por aí vai. Vinte anos não são nem de longe suficientes para permitir mutações dessa natureza e isso vale mesmo para o caso em que alguém tente explicar isso por alguma mutação causada pela praga que afeta os cães e gatos, até porque essa explicação não consta do filme. E a coisa piora quando Caesar passar a liderar seus pares, pois todos eles demonstram grande inteligência, com um deles chegando até a falar…

Mas vamos fingir por um momento que o queijo suíço do roteiro seja algo que conseguimos perdoar com uma dose extra de suspensão da descrença. Nem nesse caso, porém, o resultado é apresentável como uma continuação do ótimo Fuga. A produção, que nunca foi das mais elaboradas na franquia, chegou a um novo nível de baixo orçamento em Conquista. Cenários de papelão, símios mal feitos (com exceção de Caesar, mas muito mais pelo carisma e habilidade de McDowall do que qualquer outra coisa), figurinos emprestados de séries de TV (roupas e computadores de Túnel do Tempo e macacões de Viagem ao Fundo do Mar) e efeitos práticos de dar dó. Tudo parece falso, até mesmo as sequências filmadas em locação, na Universidade da Califórnia. É notável a redução da injeção de dinheiro na franquia por parte da Fox à época, que, por mais que tenha conseguido esconder isso em Fuga, já que o filme se passa em ambiente quase sem símios e sem grandes conflitos, fica evidente demais em Conquista.

Vale uma palavra, também, sobre o final da obra. Na verdade, sobre “os finais”. Originalmente, durante o clímax, os símios matavam o Governador Breck (Don Murray) brutalmente, deixando uma evidente mensagem de que as duas espécies têm pleitos inconciliáveis, irremediáveis. O ódio seria eterno e o caminho, então, estava aberto para o futuro que veríamos no filme de 1968.

No entanto, depois de um teste perante a audiência, esse final foi rejeitado e, apesar do orçamento minguado, outro foi filmado, com Lisa (Natalie Trundy), o interesse romântico de Caesar gritando “não”, o que marca a primeira vez que um símio comum fala e, ao mesmo tempo, uma virada no posicionamento de Ceasar. Ele deixa a raiva passar, pensa melhor, impede o assassinato e dá a entender, com um discurso forçado e artificial, que haveria a possibilidade de paz entre as espécies beligerantes.

O tom de A Conquista do Planeta dos Macacos muda radicalmente com cada um dos finais e o que acabou prevalecendo como oficial não só desdiz o caminho natural que o roteiro estava tomando como, também, pelo menos em tese, impede o futuro de dominação total dos macacos sobre os humanos e o ódio entre eles.

Tamanho é o impacto dos finais diferentes que decidi dar duas notas diferentes ao filme, como se pode ver acima. No final das contas, porém, com um ou outro final, Conquista pouco acrescenta à mitologia do Planeta dos Macacos graças a um roteiro claudicante e a um orçamento de filme B que a franquia definitivamente não merecia.

Publicado originalmente em 2011 fora do Plano Crítico e em 16/07/2014 no Plano Crítico.

A Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes, EUA – 1972)
Direção: J. Lee Thompson
Roteiro: Paul Dehn (baseado em personagens de Pierre Boulle)
Elenco: Roddy McDowall, Don Murray, Natalie Trundy, Hari Rhodes, Severn Darden, Lou Wagner, John Randolph, Buck Kartalian, David Chow, Ricardo Montalban
Duração: 88 min.

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