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Crítica | A Floresta Petrificada (1936)

por Leonardo Campos
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A Floresta Petrificada é aquele tipo de filme caracterizado pelos bons diálogos dentro de uma estrutura narrativa claustrofóbica. Recorda-se de Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock? Já assistiu ao vigoroso Punhos de Campeão, de Robert Wise? Conhece à crítica social arrebatadora de Luis Buñuel em O Anjo Exterminador? Se não conhece, procure urgentemente: são filmes excepcionais, pois se tratam de narrativas que prendem o espectador aos diálogos afiados, tendo como cenografia um ambiente limitado desde os primeiros momentos até o derradeiro minuto de projeção. São basicamente levados na ótica do “que os olhos não veem os ouvidos sentem”. E como sentem.

As poucas cenas de ação ou deslocamento dos personagens são trocados por diálogos primorosos, inteligentes e bem mais interessantes que tiros desferidos em momentos de tensão, porradas entre protagonistas e vilões ou bombas desarmadas por heróis. A Floresta Petrificada, primeira aparição do galã hollywoodiano Humphrey Bogart nos cinemas possui o mesmo estilo narrativo, mesmo que não seja tão bom quanto os filmes citados para exemplificação.

O roteiro é uma adaptação da peça homônima de Robert E. Sherwood: no filme, uma gangue liderada por Duke Mantee (Humprhey Bogart) invade um pequeno restaurante na estrada deserta. Entre os reféns há Gaby (Bette Davis, sempre ótima), uma garçonete que sonha em viver na França; Alan (Leslie Howard), um homem falido e desiludido que viaja rumo ao Pacífico; e o grandalhão Boze (Dick Foran), insistente na sua meta conquistadora em relação à Gaby, além de outros personagens que surgem para reforçar os conflitos centrais do roteiro.

Na seara visual, o filme não possui muitos atrativos que o torne excepcional dentro do que a indústria hollywoodiana produzia no período: os cenários são estilizados, teatrais, com wallpapers de nuvens, terra e cactos, tendo ainda um restaurante típico de beira de estrada como espaço para 90% da narrativa. O clima claustrofóbico impera, tendo como aliado a iluminação bem próxima ao utilizado no que convencionou-se chamar de Filme Noir, um gênero cinematográfico “inventado” alguns anos depois pelo campo da crítica.

Bettes Davis e sua personagem Gaby possuem grande destaque. Mais adiante, a atriz iria colecionar uma série de sucessos no cinema, tornando-se uma das principais Divas da sua época. Com atuação forte, não caricata e calculada na medida certa para cada papel desempenhado, não há revestimento aurático no trabalho da atriz: ela era realmente muito boa, principalmente em papeis dramáticos que exigiam carga irônica. Sonhadora, a sua personagem recebe constantemente postais da França, enviados por sua mãe, personagem que surge apenas nos diálogos e incentiva a inclinação da filha por produzir pinturas, numa espécie de combustível para alimentação do sonho da moça de deixar o cargo no restaurante e seguir uma vida menos ordinária.

Ainda sobre os personagens, Bogart faz o estilo “malvado com coração”, reprisando ao lado de Leslie Howard os papeis que ambos desenvolveram juntos na versão teatral do texto. Paul Harvey interpreta Mr. Chrisholm, um homem que é o capitalismo em estado antropomórfico. Possui um amor comprado, bem como tudo que conquista, em suma, uma pessoa que não agrada se a carteira estiver fechada e sem dólares pululando.

Resumindo: o filme faz desfilar uma série de fracassados em busca do american way of life, numa trama situada num período político marcante para os Estados Unidos. Considerado um predecessor do filme Noir, A Floresta Petrificada ainda funciona na contemporaneidade, afinal, os seus bons diálogos e a duração razoável do tempo em tela fazem do filme algo além de mais um documento histórico para registro das atividades cinematográficas no século XX.

Com direção segura de Archie Mayo, a produção não foi um tremendo sucesso de bilheteria, mas abriu as portas para alguns dos seus atores, rumo ao sucesso absoluto em filmes posteriores que se tornaram marcos da linguagem cinematográfica. A Floresta Petrificada foi adaptado para a TV em 1955, com participação de Humprey Bogart em interpretações ao vivo, na época, já famoso e membro mitológico do Olimpo hollywoodiano.

A Floresta Petrificada (The Petrified Forest) – EUA, 1936.
Direção: Archie Mayo.
Roteiro: Charles Kenyan e Delmer Daves, baseado na peça homônina de Robert E. Sherwood.
Elenco:  Bette Davis, Humphrey Bogart, Leslie Howard, Paul Harvey, Dick Foran, Poter Hall, Charles Grapewin.
Duração: 83 min.

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