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Crítica | A.K. (1985)

por Luiz Santiago
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O cinema é uma das poucas artes cujo formato metalinguístico funciona como uma epifania, que desperta, em todo espectador, uma vontade imensa de espiar os bastidores de qualquer produção. Essa curiosidade é ainda mais intensa quando se trata de uma homenagem a algum profissional da área. As homenagens cinematográficas são verdadeiras declarações de amor. Filmes como Dirigido por John Ford (1971), Um Filme Para Nick (1979), TokyoGa (1985) e Uma Carta Para Elia (2011) são bons exemplos dessa safra de glórias a grandes mestres do cinema, filmes também realizados por grandes diretores.

Em 1985, o recluso diretor e fotógrafo francês Chris Marker acompanhou as filmagens de Ran, um épico shakespeariano dirigido por Akira Kurosawa. O resultado desses meses de filmagem foi A.K., um documentário que fala muito sobre Kurosawa, sem expor de maneira didática ou cronológica a sua vida ou a sua obra. Valendo-se de uma dupla abordagem documental – a filmagem em estúdio e em locação –, Chris Marker nos traz com muita engenhosidade o difícil processo de realização de Ran e as principais características da filmografia de Kurosawa.

As subdivisões em A.K. nos mostram blocos fílmicos que contém batalhas, cavalos, violência e cenas sob a chuva, os principais ingredientes dos filmes maduros do Mestre japonês. Além disso, somos apresentados informalmente aos membros da equipe de produção e, em igual medida, às ideias estéticas e morais que Kurosawa imprimia a todos os seus filmes. Com uma dose de bom humor, Marker ironiza alguns atos da equipe de produção cenográfica, dos figurantes, e dele próprio, como diretor do filme que “rouba a beleza do filme dos outros”.

Através de fotografias e de um precioso material de bastidor, A.K. constitui-se um ótimo presente para os admiradores de Akira Kurosawa. Em pouco mais de uma hora, temos uma breve exposição de episódios da vida pessoal do diretor, seu método de trabalho, sua rotina de filmagem, seus filmes em retrospecto. O poder de síntese do filme é impressionante, e isso se deve principalmente à rigorosa edição de Marker, que prioriza o essencial. Mesmo após o corte final, as imagens de preparação dos cavaleiros no castelo ao pé do Monte Fuji ficam em nossa mente, junto com a vontade de correr atrás de tudo o que ainda não conhecemos de Kurosawa.

A.K. se torna um documentário fundamental porque ao mesmo tempo que nos ensina, nos instiga a conhecer mais. De homenagem, o documentário passa a ponto de partida para uma longa viagem através da beleza, do perfeccionismo e da humanidade criada pelo grande Akira Kurosawa.

A.K. (França, Japão, 1985)
Direção: Chris Marker
Roteiro: Chris Marker
Duração: 75 min.

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