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Crítica | A Mansão Marsten (1979)

por Fernando Campos
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Os dois primeiros livros escritos por Stephen King foram Carrie, A Estranha e A Hora do Vampiro. Ambos, logo de cara, renderam ao escritor reconhecimento no meio literário, resultando na venda dos direitos de suas obras. A primeira a receber uma versão cinematográfica foi Carrie, sendo um enorme sucesso de público e crítica. Com esses números, outras adaptações de Stephen King foram encomendadas, algo que ocorre até hoje, resultando em A Mansão Marsten, baseado no segundo livro do escritor, A Hora do Vampiro.

O longa tem como protagonista Ben Mears (David Soul), um jovem escritor que retorna à sua cidade natal, Salem’s Lot, no estado do Maine, atraído por acontecimentos passados que o traumatizaram. Em busca de explicações, ele vigia e velha mansão Marsten, descobrindo suspeitas ligações entre eventos estranhos na cidade e a casa, que esconde um terrível segredo.

Antes de ser convertida em filme, A Mansão Marsten foi lançada como uma minissérie, de 6 capítulos, para a TV. Devido a isso, o longa possui uma duração de 3 horas, resultando em prós e contras. Ao mesmo tempo que essa extensão gera momentos monótonos e desnecessários, como a trama de traição envolvendo um caminhoneiro e sua esposa, ela também permite um desenvolvimento maior de personagens, como o protagonista Ben, que tem seus traumas explorados com eficiência. Até mesmo elementos secundários para a trama recebem atenção, como o jovem Mark Petrie, viciado em histórias de terror.

Mais do que isso, o longo tempo de projeção é perfeito para pontuar a maneira lenta e gradativa com que a cidadezinha de Salem’s Lot é tomada pelos vampiros, ficando claro o método das criaturas e a motivação que cada uma tem para escolher suas vítimas. O pequeno Ralphie Glick, por exemplo, procurou seu irmão, criando uma espécie de linha familiar entre os monstros.

Aliás, a maneira com que o diretor Tobe Hooper cria uma crescente sensação de insegurança e suspense é o melhor fator da obra. Se o início não proporciona quase nenhum susto, apesar de atrair nossa curiosidade logo de cara, principalmente por apresentar a mansão Marsten na primeira cena, jogando o público no mistério de maneira impactante, a partir da metade uma constante desconfiança toma de quem assiste, parecendo que qualquer um ali pode ser um vampiro. A estratégia que Hooper utiliza para isso é escurecer gradativamente a paleta de seu filme, aumentando a freqüência de tomadas noturnas. No entanto, a cinematografia é televisiva demais, por motivos já explicados, utilizando incansavelmente planos médios e close-ups médios. Para compensar, esporadicamente, Hooper recorre à alguns bons movimentos de câmera, como aquele que mostra Ben entrando na mansão Marsten, pela primeira vez, recuando até enquadrá-lo em plongée, ressaltando sua invulnerabilidade, naquele local.

No entanto, Hooper não possui a mesma competência na montagem de sua obra. O longa intercala a ação de diversos personagens, contudo, não proporciona tempos iguais para cada um, ou seja, quando um elemento é resgatado pela história, sua presença já não parece tão importante. Outro elemento que falha é a maquiagem, visto que os vampiros são extremamente artificiais e não causam medo.

Apesar disso, a obra acerta em cheio na trilha sonora, criando perfeitamente uma sensação de mistério e perigo iminente. Aliás, o diretor não economiza na utilização da trilha, mas é preciso em inserir silêncio, em cenas chave, aumentando a tensão. No que diz respeito à direção de elenco, Hooper extrai um nível aceitável de seus atores, mas o único que merece destaque é James Mason, construindo em Straker um sujeito instigante, falando de maneira pausada e educada, mas, ao mesmo tempo, ofensiva.

Voltando à história, a grande sacada do roteiro, escrito por Paul Monash, é destacar como a maldade cresce aos poucos naquela cidadezinha, algo que fica claro pelo critério do vilão ao apenas escolher vilarejos isolados para atacar, passando uma boa mensagem anti-isolamento. Além disso, a história também possui em seu subtexto a importância de deixarmos para trás os traumas de nosso passado, exemplificado pela história de Ben que volta às origens para solucionar traumas, quase morrendo por isso.

Para os fãs de um terror mais pesado, A Mansão Marsten pode ser uma grande decepção, uma vez que a obra cria suspense, mas não choca, sem contar que os sustos não são fortes e até mesmo os vampiros não assustam. Porém, para quem aprecia Stephen King e uma boa história de mistério, o longa é satisfatório, apesar de ser prejudicado por sua longa e sonolenta duração.

A Mansão Marsten (Salem’s Lot) — EUA, 1979
Direção: Tobe Hooper
Roteiro: Paul Monash
Elenco: David Soul, James Mason, Bonnie Bedelia, Lew Ayres, Julie Cobb, Elisha Cook Jr, George Dzundza, Ed Flanders, Clarissa Kaye-Mason, Geoffrey Lewis, Barney McFadden, Kenneth McMillan, Fred Willard, Marie Windsor, Brad Savage, Ronnie Scribner, Ned Wilson James Gallery
Duração: 184 min.

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