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Crítica | A Maratona (1988)

por Luiz Santiago
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O cinema tem uma imensa capacidade de encantar, de criar situações que de outra forma não teriam o mesmo peso ou significado para o espectador. Seja ilusão ou cópia da realidade, encontramos na 7ª Arte um suspiro de ilusão que nos toma para o seu mundo e nos convida a partilhar de suas experiências – isso, é claro, nos melhores exemplares da grande tela. A Animação, um dos gêneros mais antigos do cinema, tem esse caráter ilusório ainda mais forte porque seu mundo já é uma criação artística antes mesmo de se tornar cinema: o desenho, os quadrinhos, as pinturas são preparados antes de a câmera se tornar necessária e depois que essas obras imóveis ganham alma (ou são “animadas”), um terceiro produto surge: o filme de animação.

Com o passar dos anos o gênero ganhou força e importância no cinema, ultrapassando as fronteiras do público infantil e dos temas pueris para trabalharem questões polêmicas, históricas, ambientais, etc. Em A Maratona, o primeiro filme de Aleksandr Petrov (codirigido por Mikhail Tumelya) temos uma questão importantíssima tratada de um modo bem simples: as fases da vida de um homem.

O curta é uma homenagem à comemoração dos 60 anos da personagem de Walt Disney e Ub Iwerks: Mickey Mouse. Na tela, um garoto caminha em direção a um espelho. Ao colocar a testa na superfície do objeto, a mão mágica de um artista toca o reflexo do garoto que, ao se afastar, está defronte a um recém-criado Mickey Mouse. É dada a largada. O pequeno garoto e a nova personagem começam a dançar ao passo que os anos (contados como um cronômetro no alto da tela) disparam. O garoto se torna adolescente, jovem, adulto, e então chega aos 60 anos. Cansado, já não consegue mais seguir o ritmo frenético da dança, enquanto Mickey permanece com o mesmo vigor. O velho senta-se em uma cadeira e seu neto vê na televisão a figura da personagem criada 60 anos antes. Uma situação parecida com a do início do filme ensaia-se, mas não se completa. Entendemos que esse ciclo é infinito. Passam-se as gerações mas as personagens da infância nunca envelhecem.

Apesar de ser um curta muito simples, A Maratona apresenta uma enorme inventividade, tanto na homenagem feita ao Mickey quanto na mensagem que nos passa. E sua constituição nos lembra um teatro de sombras.

O cenário muda a cada nova “idade” do garoto. A chuva, o outono, os figurinos, diversos elementos cênicos vão ampliando as possibilidades espaciais sem nunca sair do primeiro modelo de representação. A vida se apresenta como uma corrida ao lado de ícones que nos seguirão até o fim. Em dois minutos temos 60 anos de vida e uma pequena injeção de realidade: percebemos que aquela é também a nossa história. A despeito da simplicidade técnica, A Maratona é um curta-metragem encantador. Petrov já mostrava aquilo que seria um tema recorrente em sua filmografia: o encanto, a beleza e o amargor da vida.

A Maratona (The Marathon) – URSS, 1988
Direção: Alksandr Petrov e Mikhail Tumelya
Roteiro: Alksandr Petrov e Mikhail Tumelya
Duração: 2min.

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