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Crítica | Strange Tales #110, 111 e 114, 115 [A Origem do Doutor Estranho]

por Luiz Santiago
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Julho de 1963. A Casa das Ideias lançava nas bancas a Espetacular Homem-Aranha #3, com a primeira aparição do Doutor Octopus (Otto Octavius); a Tales of Suspense #43, com a primeira menção às Indústrias Stark e a Strange Tales #110, que além da regular e principal história da revista, focada no Tocha Humana (com participação do Quarteto Fantástico), trouxe para os leitores a primeira história do Doutor Estranho, personagem criado por Stan Lee e Steve Ditko.

De maneira simples e com uma história, para todos os efeitos, medíocre, a Strange Tales #110 serviu como uma amostra inicial do universo do personagem, elencando algumas de suas habilidades e problemas característicos de seu universo. Temos então Greenwich Village, em Nova York, local que serve de base para o Doutor; temos a citação imediata de que ele é um super-herói diferente, um Mestre da Magia Negra; temos a aparição de seu tutor místico (Yao, o Ancião, embora seu nome não seja fornecido aqui) e, ainda sem o nome pelo qual hoje o conhecemos, o “Amuleto Dourado”, objeto que a arte de Ditko destaca bastante ao longo das poucas páginas do conto e que vemos ser algo realmente poderoso.

Sem citar a origem, intenções ou quaisquer outras informações precisas sobre este Mago Supremo, Stan Lee escreve um conto misto de lição de moral e misticismo, um teor que estaria presente, em maior ou menor grau, nesta fase inicial do personagem. Este drama de estreia fala de um homem que tem terríveis pesadelos e resolve pedir ajuda ao enigmático Doutor Estranho. Sem muita explicação e sem nenhum desenvolvimento narrativo da história, vemos ações e decisões acontecerem abruptamente, situação que se agrava quando vemos que a visita de Estranho ao seu Mestre não serve para absolutamente nada na história. Lendo tantas décadas depois, claro que adicionamos aí o valor histórico de “primeira aparição”, mas em termos narrativos, a tal visita é apenas um dado incômodo no roteiro.

Perceba que ele aina não usa a famosa capa. Ela só apareceria na Strage Tales #114.

Perceba que no início ele ainda não usava a famosa capa. Esta só apareceria na Strange Tales #114.

Curioso observamos que mesmo o Doutor sendo um americano — isso não é dito aqui, apenas fica implícito, mas sabemos que ele é de fato americano, nascido na Filadélfia, Pensilvânia — Ditko o desenha com traços muito peculiares, certamente de ascendência para leste de Greenwich (o meridiano). Essa construção física é um diferencial para o personagem e ele nos chama a atenção de imediato; tem uma presença forte, mesmo em um contexto pobre.

Também na primeira aparição o leitor pode ver um leve movimento das mãos, nada tão característico e… mágico como viria a ser no futuro, mas certamente uma disposição nada comum das mãos que indica a preparação de um feitiço. Outro destaque também vai para a primeira aparição de Pesadelo (Nightmare), um dos maiores vilões de Estranho.

A edição #111 tem uma história um pouco mais densa, com maior conteúdo dramático, e também estreia o icônico arqui-inimigo do Mestre das Artes Místicas: o Barão Mordo. Aludindo a uma briga que parece ter se iniciado a bastante tempo — na edição #115 entenderíamos melhor essa relação entre os dois –, o roteiro consegue criar um intricado jogo de luta entre espectros (Stan Lee não foi um grande roteirista mas tinhas umas ideias fantásticas) e nos deixa em suspensão, com a promessa de um futuro encontro entre esses dois pupilos do Ancião que seguiram caminhos diferentes no uso da magia.

E eis aqui uma versão mais "atual" do personagem, em sua história de origem, na Strange Tales #115.

E eis aqui uma versão mais “atual” do personagem, em sua história de origem, na Strange Tales #115.

As edições #114 e 115 são importantes para ampliar os detalhes de vida sobre Estranho, a extensão de seu poder e em que outros tipos de aventuras ele pode se envolver. A bem da verdade, não existe muita variação de conceitos, mas, em compensação, há muitas adições de personagens e elementos para a mitologia do Mago. O aparecimento de Victoria Bentley e a tão esperada história de origem do Doutor Estranho — onde descobrimos que ele era um cirurgião arrogante e desprezível que após uma acidente de carro tem suas mãos incapacitadas de operar novamente e sai pelo mundo à procura de um lendário Ancião capaz de fazer milagres — definitivamente fecharam este primeiro bloco de histórias do personagem no ano de 1963.

Ainda na edição #115 ouvimos o Ancião invocar os poderes de Vishanti (a trindade que não aparece aqui, apenas é citada/invocada); citar os poderes de Agamotto e também de Dormammu, que igualmente não aparecem, apenas estão na citação durante a invocação do ancião para se defender do ataque de Mordo, na época, pupilo, e sob os olhares de um ainda incrédulo Stephen Strange. Claro que esta não é melhor história de origem escrita por Stan Lee, mas certamente serviu como um começo instigante — e a partir de então, definitivo — para o personagem, que já ganhava as graças do público. A Marvel conquistava, então, uma ala mística e muito rica em sua já admirável fauna e flora de personagens e lugares direta ou indiretamente ligados aos “outros mundos”. O resto, vocês já sabem, é História.

A Origem do Doutor Estranho (Strange Tales #110, 111 e 114, 115) — EUA, julho a dezembro de 1963
Roteiro: Stan Lee
Arte: Steve Ditko
Letras: Terry Szenics (110 e 111) e Sam Rosen (114 e 115)
Capas: Jack Kirby

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