Home FilmesCríticas Crítica | A Princesa e a Plebeia (2018)

Crítica | A Princesa e a Plebeia (2018)

por Roberto Honorato
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Notável. Semelhança Notável. Parece uma princesa para mim.

A Netflix sofre com uma certa inconsistência quando falamos em qualidade de produções. Não é de hoje que o serviço de streaming investe em longas baratos e mal recebidos criticamente, como os recentes A Barraca do Beijo (doloroso de assistir) ou Sierra Burgess é uma Loser (dor em dobro), mas recentemente tenho me surpreendido com alguns lançamentos mais ambiciosos: só este mês tivemos O Outro Lado do Vento, de Orson Welles e A Balada de Buster Scruggs da dupla de diretores Ethan e Joel Coen, e logo mais teremos Roma, de Alfonso Cuarón. Tudo parece maravilhoso mas pode ficar ainda melhor porque acabo me deparando com A Princesa e a Plebeia, o novo filme estrelado por Vanessa Hudgens e dirigido por… alguém.

Não me entenda mal. Eu não tenho nada contra o diretor, Mike Rohl (tive que pesquisar aqui, mas ele tem um currículo grande. Nada de surpreendente, o que provavelmente rendeu o convite para dirigir A Princesa e a Plebeia), e você sabe que eu considero Vanessa Hudgens um tesouro nacional para qualquer um que tenha crescido ouvindo High School Musical, o clássico do movimento cinematográfico Disney adolescente, que rendeu obras como Camp Rock, As Feras da Música (eterno Cheeta Girls) e o aguardadíssimo Camp Rock 2: The Final Jam. Foi neste antro de artistas promissores que Hudgens brilhou e é uma pena não ter feito algo tão refinado nos anos seguintes, tendo feito apenas Spring Breakers: Garotas Perigosas como algo de destaque. Felizmente, ela está de volta para mostrar que não é só a Barbie, Lindsay Lohan ou Tony Ramos que podem ter um filme sobre altas confusões envolvendo troca de corpo com outra pessoa (tudo bem que aqui é mais uma troca de roupa e lugar, mas Hudgens é boa demais para se limitar a isso e provavelmente tinha outro filme na cabeça – ler o roteiro eu sei que ela não leu).

A Princesa e a Plebeia conta a história de Stacy De Novo (Hudgens), uma jovem confeiteira que parte em uma viagem para Belgravia com o intuito de participar do concurso de confeitaria do natal da realeza. Lá, por motivos de conveniência do roteiro, ela encontra Lady Margaret (Hudgens, a versátil), a duquesa de Montenaro com uma aparência idêntica a sua. Elas ficam surpresas com a semelhança visual, assim como nós por conta do sotaque falso de Hudgens, então decidem fazer o clássico truque da troca de lugares por dois dias. Lady Margaret viverá como a plebeia e Stacy como… você sabe onde isso vai dar. Mas é claro que nada é perfeito, uma está prestes a conhecer seu pretendente enquanto a outra tenta esconder o segredo de seu amigo.

Esse é um filme complicado. Isso não se dá apenas pelo péssimo roteiro, a direção preguiçosa ou a falta de verba do departamento de arte (em certo ponto podemos ver nitidamente um dos fundos falsos mais evidentes do cinema), mas pela forma que a própria Netflix admite que este é apenas um filme feito às pressas para ter algo extra no catálogo. Há uma cena em que Lady Margaret procura algo para assistir na TV e abre o serviço de streaming, escolhendo o filme O Príncipe do Natal, outra pérola descartável. Esse momento não serve apenas como óbvia propaganda, pelo tempo de duração da cena fica claro que a intenção deste filme é ser nada mais que uma produção genérica feita com o dinheiro que sobrou de alguma coisa na qual o “estúdio” confia mais. Tudo bem, eu sei que posso soar negativo demais, mas existem filmes de natal inocentes e românticos bem feitos, não podemos culpar o subgênero.

Hudgens até tenta, fica claro que ela é carismática o suficiente para me fazer assistir esse filme até o fim, e ela tem trabalho em dobro porque o próprio longa faz questão de tentar me afastar constantemente (como diria Gabriella Montez: Walk, walk, walk away). Por sorte, A Princesa e a Plebeia funciona como uma comédia, mesmo quando não quer ser uma. É claro que os personagens são o cúmulo da caricatura, mas há uma governanta hilária que participa de várias tomadas de reação com um sorriso bobo e olhar cansado que sempre me fazem perguntar se um dia não esqueceram a câmera na sua direção e gastaram um dia inteiro de trabalho nisso, então para economizar os dias no set simplesmente deram um espaço absurdo de tempo para as suas reações. Também me pergunto se isso não aconteceu em uma sequência que deveria funcionar como uma montagem de Margaret ensinando as maneiras reais para Stacy.

Uma edição decente, com cortes rápidos deixaria tudo mais dinâmico. Mas também não adianta ter um ritmo melhor com todo o resto que não dá para perdoar, como a necessidade de inserir dois antagonistas aos 45 do segundo tempo (usei a expressão corretamente?) e nem se dar ao trabalho de manter isso até o fim – o antagonismo dura apenas uma ou duas cenas e logo depois é abandonado porque lembraram que isso seria ainda mais cliché do que já estava sendo. E posso deixar uma última reclamação? Você não precisa de uma aparição misteriosa de um velhinho sorridente falando com algum personagem sem motivo algum só para nos lembrar que estamos vendo um filme natalino.

Eu tenho uma alta tolerância para estupidez e assisto algumas coisas pela pura diversão de brincar com o que estou assistindo, mas A Princesa e a Plebeia é mais tedioso e batido do que apenas ruim, com péssimas atuações, diálogos sofríveis e uma qualidade de especial de TV feito às pressas, impossibilitando a diversão até daqueles que costumam assistir algo ironicamente. Eu preciso parar de fazer isso, estou ficando velho demais e não faz bem pra minha ciática.

A Princesa e a Plebeia (The Princess Switch) – EUA, 2018
Diretor: Mike Rohl
Roteiro: Robert Bernheim, Megan Metzger
Elenco: Vanessa Hudgens, Vanessa Hudgens, Sam Palladio, Nick Sagar, Alexa Adeosun, Suane Braun, Sara Stewart, Robin Soans
Duração: 101 min.

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