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Crítica | A Tempestade

por Guilherme Coral
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A adaptação da peça de mesmo nome de Shakespeare faz uma modificação em seu elenco, ao transformar a personagem principal em uma mulher. Prospero se torna Prospera (Helen Mirren) em uma brincadeira com as peças originais do dramaturgo que tinham homens interpretando o papel de mulheres. Essa pequena alteração garante um tom diferente à obra desde o princípio. Este, contudo, é mal aproveitado e estragado, junto com a trama, pela péssima adaptação da peça original.

Os problemas de A Tempestade se tornam evidentes logo nos primeiros dez minutos de projeção. Assistimos uma odisseia de atuações forçadas, com atores que parecem realizar grande esforço para sequer se lembrarem de suas falas, que mais soam como um recital do que uma atuação propriamente dita. A direção errática de Julie Taymor, neste seu segundo longa Shakespeariano (o primeiro tendo sido Titus), provoca uma dramaticidade em seus personagens que chega a ser vergonhosa – basta vermos Helen Mirren agitando sem parar seu cajado ao longo do filme.

Saímos, então dos planos abertos daquela ilha desolada e somos transportados para o interior de uma espécie de esconderijo que já começa a evidenciar os problemas da direção de arte. Vemos ambientes cavernais que, na cena seguinte, se encaixam com uma casa à céu aberto, similar a uma villa italiana. De maneira discreta tais transições desconstroem a imersão do espectador que já são prejudicadas pela própria montagem que enfatiza as atuações excessivamente dramáticas.

Os problemas da arte, porém, não param por aí. Julie Taymor consegue destruir sua tentativa de adaptação por completo com a aparição do espírito Ariel (Bem Whishaw). Aqui qualquer crítica aos terríveis efeitos visuais não conseguiriam exprimir a tragédia das cenas que somos forçados a ver tal personagem. São sucessivas mesclas de vergonha alheia com quebra de imersão enquanto assistimos Bem Whishaw realizando peripécias pelo ar e pela terra, muitas vezes junto de uma música que sequer começa a se encaixar com o filme. Tais sequências chegam a ser tão inacreditáveis que chegam a provocar risadas espontâneas.

Não bastassem todos esses elementos para completamente estragar o longa-metragem, Julie Taymor consegue distanciar o espectador ainda mais de sua obra, nos trazendo um roteiro que parece simplesmente nos jogar entre acontecimentos desconexos. A linha narrativa está oculta a tal ponto que nos deixa poucos motivos para continuar assistindo a obra que tenta nos contar a história de uma feiticeira e sua filha exiladas que busca ganhar de volta seu merecido lugar como Duquesa de Milão.

A Tempestade é uma obra que luta pela atenção do espectador, ao ponto que consegue estragar praticamente todos os elementos que o fazem ser considerado um filme – atuações, direção, roteiro, fotografia, efeitos especiais, nada se salva. No fim temos uma péssima adaptação shakespeariana e uma completa perda de tempo do espectador.

A Tempestade (The Tempest, EUA – 2010)
Direção: Julie Taymor
Roteiro: Julie Taymor, baseado na peça de William Shakespeare
Elenco:  Helen Mirren, Felicity Jones, Djimon Hounsou, Reeve Carney, David Strathairn, Tom Conti, Alan Cumming, Chris Cooper, Ben Whishaw, Russell Brand, Alfred Molina.
Duração: 110 min.

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