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Crítica | Abraços Partidos

por Leonardo Campos
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Em uma cena de Abraços Partidos, a personagem Lena (Penélope Cruz) assiste ao filme Viagem à Itália, de Rosselini. Emocionada e com lágrimas nos olhos, a personagem parece uma representação do diretor espanhol Pedro Almodóvar, um profissional “autor” que geralmente está por dentro de toda realização fílmica, desde a criação do roteiro ao processo de montagem. Amante do cinema, neste filme, ele trata de fazer uma bela homenagem aos bastidores de produção, utilizando-se da paródia aos melodramas hollywoodianos dos anos 1950 e algumas farpas de cinema noir.

Assim como em Volver e Má Educação, Abraços Partidos apresenta personagens que precisam exorcizar o passado. Lançado em 2009, a produção de 127 minutos possui o seguinte enredo: Harry Craine (Lluís Homar) é um escritor e cineasta cego que vive sob os cuidados da sua amiga produtora Judit (Blanca Portillo). Ao saber que o empresário Ernesto Martel (José Luis Gómez) morreu, começa a rememorar fatos do passado.

Logo, recebe o convite para trabalhar com um jovem diretor chamado Ray X. Após conhecer de perto o rapaz, descobre que este é Ernesto Jr, filho homossexual retraído do empresário falecido. Com sérios transtornos psicológicos, o rapaz pretende produzir o filme para apagar os conflitos em relação ao pai. Harry nega a participação, e a partir daí, começa a relembrar os acontecimentos do passado.

Através de flashbacks, somos remetidos aos anos 1990. Harry, na época, Mateo Blanco, produzia um filme chamado Garotas e Malas. Ao fazer o teste com a atriz Lena (Penélope Cruz), ambos se apaixonam de imediato, dando início a um tórrido romance que ceifará muitas relações que gravitam em torno do casal. Como é de se esperar e a narrativa já deixa a entender, tragédias acontecerão e Harry decide remontar as peças do passado para melhor compreender o presente.

Em Abraços Partidos, o espectador é colocado como observador da sessão de psicanálise dos personagens: temas como voyeurismo, repressão psicológica, vingança, amor, ódio, obsessão e sexualidade são abordados. No campo metalinguístico, o filme traz toques de Hitchcock, referências ao filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, dentre outras passagens intertextuais.

No campo técnico, Abraços Partidos apresenta o que há de bom na produção do diretor: direção de arte forte e eficiente, com o bom uso dos tons vermelhos; a trilha sonora, assinada por Alberto Iglesias, com alguns acordes de noir e mescla gêneros musicais; os movimentos e enquadramentos ajudam a narrativa a ser contada da melhor maneira; e o roteiro, cheio de intertextualidade, se confunde às vezes, com uma expressão exacerbada de cinefilia, ao invés de se preocupar com cenas que nada acrescentam, como por exemplo, a relação do personagem Diego com as drogas. No requisito montagem, essa cena bem que poderia ser cortada (no entanto, caro leitor, acredito que tenhamos que analisar o filme pelo que ele é, não pelo que deveria ser, mas foi quase irresistível não tocar nesse fator ao escrever sobre esta parte técnica).

Abraços Partidos é o 17º filme do cineasta e concorreu aos mais badalados prêmios da indústria cinematográfica: o Globo de Ouro, a Palma de Ouro de Cannes e Goya, dentre outros. Se não é o melhor filme do diretor, possui a capacidade de levar o espectador à experimentar o “gosto” do cinema de Almodóvar, uma bruma que envolve paixão, ciúmes, vingança e obsessão, apresentados com maestria e beleza através da sempre eficiente montagem, aliada ao ótimo trabalho de direção de arte e trilha sonora.

Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, Espanha – 2009)
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Blanca Portillo, Lluís Homar, Angela Molina, Dassy de Palma, José Luiís Gómez, Carmen Machi, Tomar Novas
Duração: 127 minutos

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