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Crítica | Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X01 e 5X02: Orientation

por Ritter Fan
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Parte Um

Parte Dois

Aviso: Há spoilers do episódio e da série. Leia as críticas dos outros episódios aqui e de todo o Universo Cinematográfico Marvel aqui.

Quanto mais Agents of S.H.I.E.L.D. periga não ser renovada, mais seus showrunners arriscam, quase como se eles estivessem provocando a ABC a largar de vez a série. Já foi complicado chegar na quarta temporada e, lá, tivemos não só a inteligente divisão em arcos bem marcados, até com títulos próprios, como uma excelente mistura entre o lado místico e tecnológico do Universo Cinematográfico Marvel, começando com a chegada do Motoqueirorista Fantasma e terminando com o inspiradíssimo arco que transportou a equipe para uma outra realidade, dominada pela Hidra.

E, como prometido pelo misterioso epílogo de World’s End, que, quando foi ar, trouxe também a notícia de que a série havia sido renovada para mais uma temporada de 22 episódios, só que com a ABC removendo-a para a “sexta-feira da morte” em sua programação e com um corte sensível em orçamento, vemos uma completa mudança de status quo. Talvez desafiados, talvez em uma última cartada para dar outra sobrevida à série que só vem crescendo em qualidade, temporada a temporada, Jed Whedon, Maurissa Tancharoen e Jeffrey Bell, então, apostaram no mergulho completo na ficção científica, com direito a uma estação espacial, a volta dos Krees e a apresentação dos Vrellnexians (bicharocos insectoides criados por Gerry Conway e John Buscema em 1973, como inimigos de Asgard).

Ah, e como ia me esquecer que, como a cereja no bolo, a ação que achávamos que era “só” no espaço é, na verdade, em um futuro razoavelmente distante, após a destruição da Terra e que a estação espacial (batizada de Lighthouse, ou Farol), flutuando em meio aos escombros de nosso planeta, é uma colônia com os últimos humanos sobreviventes controlados por Krees que vivem no andar de cima em um spa cinco estrelas. Nada mal para uma série que começou tímida lá em 2013 e que até hoje muita gente torce o nariz ao ouvir o nome, não?

Começando com a estrutura de dois episódios debaixo de um mesmo título indo ao ar no mesmo dia assim como o final da segunda temporada, a quinta temporada rebobina um pouco a ação para lidar com os momentos anteriores à invasão do restaurante onde estavam o Agente Coulson e equipe ao final de World’s End. Foi uma boa escolha do roteiro de Whedon e Tancharoen para imediatamente nos fazer coçar a cabeça pelo menos por alguns segundos para tentar entender o que raios aquele sujeito careca mergulhando em sua piscina tem a ver com a história. Espertamente, também, a dupla não perde tempo e já deixa claro que estamos diante de um alienígena (seria a versão do UCM de Invasão Secreta?) comandando a equipe que captura os agentes, paralisando-os e, pelo visto, ejetando-os para o futuro por intermédio de um totem branco com linhas vermelhas(???).

Apesar de chamar-se Orientation, a primeira parte, na verdade, deveria ter sido Disorientation. E não escrevo isso de maneira pejorativa. Longe disso, na verdade. O que o roteiro faz, ajudado pela ágil direção de Jesse Bochco, não coincidentemente responsável pelo excepcional 4,722 Hours, é literalmente colocar-nos nos sapatos de nossos agentes preferidos em uma frenética e constante tentativa de entender o que está acontecendo afinal de contas. Sem dúvida alguma, a manutenção do mistério é um artifício batido e havia risco de tornar esse começo enfadonho, mas o que vemos, na verdade, é quase (e esse “quase” é importante – mais sobre isso adiante) que um soft reboot da série ou, pelo menos, um arco de “entrada”, daqueles que não exigem muito conhecimento prévio do que veio antes, na esperança de ampliar o número de espectadores.

E, sob todos os aspectos, a intenção dos showrunners é integralmente alcançada na primeira parte de Orientation. Pouco aprendemos sobre os detalhes, mas vamos, aos poucos, caminhando para a grande reviravolta ao final que revela que nosso heróis estão no futuro, no espaço, em órbita do que sobrou da Terra, sendo caçados por versões genéricas do xenomorfo de Ridley Scott (antes do diretor esculhambar sua criação, claro) em uma base aos cacarecos comandada por Krees nada simpáticos. Pronto. Temos absolutamente tudo o que precisamos para no mínimo um arco da nova temporada, quiçá mais ainda.

Como se isso não bastasse, a produção faz todo o esforço possível para fisgar novos e manter antigos espectadores também pelo lado do deslumbramento com CGI, algo que muita gente dá importância demais nos dias atuais, infelizmente. Mas o risco que é assumido aqui efetivamente gera dividendos, pois, apesar daquele verniz típico de videogame para as tomadas espaciais, o resultado final é fora de série. E o melhor é que nem mesmo parece – nesse começo – que o CGI está sendo usado só como caviar em canapé, pois há um esbanjamento de cenas talhadas para embasbacar e mostra que AoS subiu mais um patamar. A qualidade nesse tocante, vale dizer, continua também na segunda parte, o que me faz suspeitar que todo o orçamento alocado para esses efeitos foi gasto aqui nesse começo, ainda que eu espere estar errado.

De toda maneira, muito espertamente, o roteiro trabalho espaços confinados e, ainda por cima, não-tecnológicos, o que permite gastos mínimos no grosso dos episódios, com aquelas obrigatórias – e breves, muito breves – panorâmicas espaciais. Une-se, assim o útil ao agradável, tentando fazer a série funcionar para gregos e troianos ou para Krees e Skrulls, só para ficar no clima da série.

Na segunda parte, o clima de mistério e deslumbre naturalmente arrefece e o roteiro de DJ Doyle, também veterano na série, começa a estabelecer elementos de complexidade, expandindo essa nova mitologia e nos apresentando com mais vagar a Deke (Jeff Ward), que, sem muita boa vontade, salva o grupo de deslocados no tempo seguindo os desejos do falecido Virgil (Deniz Akdeniz, em uma ponta) e a Tess (Eve Harlow), amiga de Virgil que percebe que a obsessão dele pelo passado era mais do que apenas isso. É também aqui que temos um vislumbre da hierarquia Kree, com soldados buchas de canhão, uma executora com direito a esferas de metal voadoras à la Magneto e aparentemente um líder que aprecia uvas – e escravos de testas douradas – em seu estranho quartel-general, o tal spa cinco estrelas que mencionei mais acima e que é o único elemento do design de produção que efetivamente me desapontou por sua tentativa barata em criar o choque entre a turba andares abaixo e aquele local idílico fortemente clichê com que Jemma se depara. Pode ser que, com o tempo, eu me acostume, mas, por agora, creio que poderiam ter optado por algo mais orgânico, que parecesse menos o quartel-general do Dr. No.

Mais acima, mencionei que Orientation quase parecia um soft reboot e a razão pela qual fiz questão de enfatizar o “quase” é muito simples: nada, absolutamente nada do que veio antes é esquecido pelos roteiros. Desde menções brevíssimas às ameaças místicas que o grupo enfrentou e Nick Fury, passando por coisas “triviais” como a mão cortada de Coulson, e também pelos inumanos em si (algo que potencialmente será muito usado, considerando-se a forte presença Kree na temporada), até a sensacional forma orgânica como o Framework é reinserido na história. Novamente, não são citações ou usos que exigem conhecimento prévio da série, ainda que, com eles, ela seja mais bem aproveitada, sem dúvida. Mas está tudo lá, com especial destaque para o mundo virtual criado pelo Dr. Holden Radcliffe e modificado por Aida, que é a base para o “ópio digital” (olha a crítica social aí, meus caros!) de Deke e que promete ter grande utilidade mais para a frente.

Em outras palavras, apesar da modificação mais do que completa de status quo, Orientation consegue ser encaixado como uma evolução natural da série, algo perfeitamente esperável por aqueles que conseguem perceber o franco desenvolvimento de Agents of S.H.I.E.L.D. em algo mais do que apenas uma série de super-heróis. É um começar de novo sem efetivamente zerar tudo. É mais um inteligente sopro de originalidade por parte dos showrunners que, pelo visto, não pretendem deixar a série ser cancelada sem antes brigar muito por ela.

Apontamentos:

  • Muito bem bolado manterem Fitz no passado sem nem mesmo sucumbirem à tentação de mostrá-lo, mas mantendo-o presente pelas lembranças de Jemma e, claro, o cartão postal com “I’m on it“.
  • Yo-Yo perguntando a Coulson se a S.H.I.E.L.D. não tinha uma base espacial que se chamava S.P.E.A.R. foi sensacional, hein?
  • Mack está impagável com suas tiradas. Quando, no começo, ele usa suas clássicas citações de filme para convencer seus colegas a não se separarem, especialmente porque “vocês sabem quem morreria primeiro”, deu para perceber o agradável passeio que seria Orientation.
  • E Stan Lee? Foi super-indiretamente lembrado com a famosa frase “True Believers” que ele usava nas seções de cartas das publicações Marvel.
  • Quem são os convidados dos Krees? Alguma aposta? Skrulls? A Ninhada? Shi’ar? Badoon? Falange?

Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X01 e 5X02: Orientation (EUA, 1º de dezembro de 2017)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Jesse Bochco (5X01), David Solomon (5X02)
Roteiro: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen (5X01), DJ Doyle (5X02)
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Eve Harlow, Pruitt Taylor Vince, Coy Stewart
Duração: 43 min. (cada parte)

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