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Crítica | Álbum de Família

por Rafael W. Oliveira
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Oscar. Oscar. Oscar. Quando os produtores Harvey Weinstein, Bob Weinstein e George Clooney (sim, George Clooney) decidiram levar para as telas do cinema a peça homônima de Tracy Letts, vencedora do Pulitzer e do Tony, a figura da estatueta de ouro possivelmente deveria estar encravada em suas mentes. Se há problemas em lançar filmes feitos quase que exclusivamente para ganhar prêmios? Nenhum. O problema é quando tal pretensão é colocada acima de todos os outros objetivos, e no caso deste Álbum de Família, não há objetivo nenhum que não seja o de gritar: “ME DÊEM UM OSCAR!”

Curioso é notar que as outras peças de Letts já adaptadas para o cinema, Possuídos e Killer Joe sempre trabalham sua ambientação em cima da sensação de claustrofobia, insegurança e vulnerabilidade, e se Álbum de Família puder ser definido com uma dessas palavras, seria com a primeira. E não digo isto devido ao ambiente isolado onde a história se passa, mas porque os exageros constantes do roteiro também escrito pelo próprio Letts saltam aos olhos de forma absolutamente gritante. Sim, nota-se toda a teatralidade que se faz presente na peça original, mas fica a certeza de que tudo deve funcionar muito melhor nos palcos do que na tela.

Pois sendo linguagens diferentes (apesar de próximas), cinema e teatro possuem suas próprias formas de retratação. E quando as características do teatro decidem ser mantidas numa adaptação, é preciso ter talento para que as características da arte teatral, como a dramaticidade extrema e as atuações carregadas não acabem tornando seus personagens em meras caricaturas na tela. O diretor John Wells, infelizmente, não possui olho para tanto, e Álbum de Família acaba deixando transparecer negativamente aquilo que não deveria: a excentricidade da história de Letts.

O filme guarda semelhanças com obras como Deus da Carnificina e Gata em Teto de Zinco Quente, mas aos contrário das obras de Roman Polanski e Richard Brooks sabiam manter a sutileza sem perder a força (e sem perder a acidez de seu humor também), o filme de Wells é somente um desfile de personagens estereotipados e situações surrealmente constrangedoras. Ao ser roteirizado pelo próprio Letts, muito do histrionismo da peça original acaba sendo mantido na fita, o que também se reflete nas atuações do elenco, em sua maioria, desperdiçados. Com exceção de Meryl Streep, que dribla a caricatura de sua personagem e concebe uma composição maravilhosamente apoiada em sutilezas (se for indicada ao Oscar, será merecido), o resto do elenco pouco tem a oferecer, pois Julia Roberts segue sendo Julia Roberts, ou seja, over durante boa parte do tempo. E presenças de peso como as de EwanMcGregor, Abigail Breslin e Benedict Cumberbatch acabam passando despercebidas diante de um roteiro que insiste em chamar a atenção para si, e não por bons motivos.

Numa definição mais popular, Álbum de Família pode ser definido como um “samba do crioulo doido”, ou basicamente uma novela de 120 minutos. Diversas são as surpresas ao longo da projeção, e diversos são os momentos onde os membros da família Weston ficam alfinetando uns aos outros. Vemos a existência de diálogos bem trabalhados e inteligentemente escritos, mas Wells, sem saber como trabalhar seus atores, apenas permitem que tais diálogos saltem de suas bocas de forma pouco orgânica (e por isso mesmo, a cena do almoço após o funeral do patriarca da família consegue ser extremamente dolorosa de tão longa que é). As surpresas e revelações vão surgindo, mas ao final, nada é resolvido, não há eco ou um objetivo concreto nesta reunião de família marcada por desavenças.

No fim das contas, Álbum de Família é um filme sem equilíbrio nenhum. A fórmula da peça de teatro é visivelmente reaproveitada aqui numa tentativa de despertar a simpatia dos figurões do Oscar para um tema tão chamativo e, de certa forma, pessoal para muitos. Mas tudo acaba sendo mal trabalhado, com situações sendo jogadas na tela sem a mínima cerimônia, forçando o melodrama para o espectador, mas aos invés de lágrimas, a única coisa que acaba sendo gerada é um profundo sentimento de irritação.

Álbum de Família (August: Osage County, EUA, 2013)
Roteiro: Tracy Letts, baseado em sua própria peça
Direção: John Wells
Elenco: Meryl Streep, Julia Roberts, Ewan McGregor, Abigail Breslin, Benedict Cumberbatch, Sam Shepard, Dermot Mulroney, Juliette Lewis, Chris Cooper, Margo Martindale, Misty Upham
Duração: 121 min.

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