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Crítica | Aliança de Aço

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

A construção da primeira ferrovia transcontinental foi um dos temas mais recorrentes nas Union Pacific stories uma das temáticas mais ricas do western. Quase sempre de mãos dadas com as “histórias de cavalaria” e “histórias sobre indígenas”, essa temática disseca a grande empresa da engenharia do século XIX nos Estados Unidos e, no cinema, sempre foi um grande filão para os westerns sobre o Destino Manifesto.

Em 1939, Cecil B. DeMille deu a sua contribuição épica (como não poderia deixar de ser) para o tema, seguindo com cuidado a trilha deixada por John Ford e seu Cavalo de Ferro (1924), mas adicionando elementos de uma nova época, um toque pomposo que jamais constaria num faroeste de Ford e um orgânico triângulo amoroso, trabalhado com bastante humor e instigante propensão a reviravoltas, resultado de um roteiro muitíssimo bem escrito.

A história de Aliança de Aço é um misto de romance e western colonizador. Diferente de Ford, que começou a sua trama de maneira familiar e política partindo em seguida para a ação, DeMille abre o longa com os bastidores do evento, mostrando a discussão entre os investidores, a assinatura do presidente Lincoln e o primeiro passo para a corrupção. Na segunda parte da obra, ao invés de termos unicamente os impasses da construção da ferrovia – ou pelo menos esse elemento como foco principal da trama – vemos um misto das relações sociais e amorosas se apresentarem na tela. Paralelamente, temos cenas que nos mostram o cenário da construção, a frequente citação dos problemas relacionados a ela e, apenas na reta final, a atenção primordial do roteiro para a luta contra os indígenas, o “empecilho maior”.

O filme de DeMille ainda mostra os nativos americanos como vilões estúpidos, aqueles que impedem o avanço da tecnologia e da civilização para as terras selvagens. Como não existe um verdadeiro herói branco na trama, sendo o triângulo protagonista o ponto de maior atenção do lado dos mocinhos, o sonho do desenvolvimento ganha ares de lema nacionalista, uma vontade de todos. Essa mesma ideia é repetida quase que literalmente ao final do longa, quando o prego de ouro é enfim fixado nos trilhos.

O roteiro de Aliança de Aço é a adaptação do romance Trouble Shooters, de Ernest Haycox e contou com sete escritores para finalizá-lo. Um trabalho que passou por tantas mãos e ideias tende a apresentar alguma inconstância em seu desenvolvimento, especialmente no caso de um western com mais de 2h de duração. Todavia, isso não acontece em Aliança de Aço. O filme traz uma estrutura épica com tendências líricas, especialmente no trato com as personagens femininas (Barbara Stanwyck, no topo), guiando muito bem a passagem de um momento a outro e ajudada por uma edição precisa, que não abusa de fades e corta a ação exatamente no momento em que ela diz tudo o que era para ser dito, não deixando cenas de isopor ao longo da trama.

Com um texto tão bem escrito, cabia ao elenco dar vida e significado à história, coisa que o espectador não se preocupa após os primeiros minutos de reprodução. Barbara Stanwyck, Joel McCrea e Robert Preston encaram maravilhosamente bem seus personagens, seguidos por um excelente Akim Tamiroff no papel de “Fiesta” além de um grande elenco de apoio. A direção de DeMille não deixa escapar fraquezas em cena, nem do elenco, nem na condução da história.

Aliança de Aço trata de um tema já bastante abordado no cinema (e que voltaria muitas outras vezes no futuro) através de um viés de relações pessoais plenamente ligadas à história da construção da ferrovia. Os elementos clássicos do western e o poder de sedução do público comuns a DeMille estão todos lá, em grande estilo, fazendo de Aliança de Aço um dos grandes filmes do final da década de 30 e marcando fortemente esse período de apogeu do faroeste nos Estados Unidos.

Aliança de Aço (Union Pacific) – EUA, 1939
Direção: Cecil B. DeMille
Roteiro: Walter DeLeon, C. Gardner Sullivan, Jesse Lasky Jr., Jack Cunningham, Ernest Haycox, Frederick Hazlitt Brennan, Ernest Haycox, Jeanie Macpherson, Stanley Rauh
Elenco: Barbara Stanwyck, Joel McCrea, Akim Tamiroff, Robert Preston, Lynne Overman, Brian Donlevy, Robert Barrat, Anthony Quinn, Evelyn Keyes, Stanley Ridges, Henry Kolker
Duração: 135 min.

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