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Crítica | Aliens vs. Predador 2

por Ritter Fan
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Só há uma coisa mais irritante do que continuações inúteis de filmes: continuações inúteis e piores que o original de filmes ruins. Isso é o que é Alien vs Predador 2, dirigido pelos inábeis Irmãos Strause, responsáveis pelo atentado chamado Skyline – A Invasão. O primeiro longa, sendo muito condescendente e simpático, até que era um filminho divertido, com clara conexão com os clássicos de Ridley Scott e de James Cameron (principalmente deste último). Era aquela pancadaria básica no meio do nada e pronto, tudo acabava bem (ou mal, dependendo do seu ponto de vista) e a mitologia dos monstros permanecia mais ou menos intacta.

AvPR (abreviação ridícula de Alien vs Predator: Requiem) é ruim não só tecnicamente, mas, também, por pisotear a história dos clássicos que o originou. Aqui, temos um “Predalien”, que foi o legado do primeiro filme, como ponto focal. O nascimento desse ser faz com que a nave que o carrega caia na Terra, bem na floresta vizinha à uma cidade perdida do Colorado. Junto com a nave cai um Predador semi-vivo, cujas únicas funções são mandar um pedido de socorro ao seu planeta natal e morrer. Naturalmente, alguns vidros com Facehuggers vivos se quebram e eles fogem pela floresta felizes da vida, junto com o Predalien.

No planeta natal dos caçadores interplanetários, um Predador metido a astro de filme de ação vai sozinho tentar resolver a situação na Terra. Por alguns segundos, vislumbramos o planeta natal dele, que mais parece um daqueles conjuntos habitacionais da CEHAB, em uma demonstração de que a direção de arte é um cargo que provavelmente não existiu nessa produção. Quando, enfim, a criatura chega na Terra e trata de apagar quaisquer traços da nave de seu compatriota, vemos os aliens se reproduzirem como coelhos.

Aí começa a palhaçada de verdade. O Predalien é, também, uma rainha que, para por ovos, os cospe pela boca diretamente para a boca das pessoas. A fase do Facehugger é convenientemente eliminada. Por sua vez, o Predador que vem caçá-lo nem de longe lembra aquele outro que fez Arnold Schwarzenegger cortar um dobrado para matá-lo (creio que nem Danny Glover teria muito trabalho, sendo muito sincero). O caçador desse filme só usa a tecnologia de invisibilidade quanto não tem ninguém olhando. Quando tem, ele faz questão de desligá-la. Da mesma forma, ele toma enormes cuidados para apagar todos os rastros de morte deixados pelos xenomorfos, mas, ao deparar-se com um policial, mata-o, tira sua pele e pendura-o em uma árvore para todos verem. Seria um Predador perfeito para fazer uma trinca com Jim Carrey e Jeff Daniels em Debi & Lóide.

Continuando a destruição dos mitos criados pelos filmes anteriores, o roteiro de Shane Salerno (perigosamente envolvido nos roteiros daquela meia dúzia de continuações de Avatar) resolve esquecer-se do tempo de gestação de um bebê alien e que só nasce um de cada hospedeiro. Nesse arremedo de película, os monstros nascem em ninhadas que orgulhariam os mais ativos cavalos marinhos e crescem quase que instantaneamente. Além disso, todos – com exceção do Predalien – têm instinto assassino enquanto que, nos filmes originais, ou o instinto era de sobrevivência do tipo “matar ou morrer” ou do tipo “tenho que permitir a reprodução levando esses hospedeiros fresquinhos para a rainha”. Aqui, eles são apenas monstros que matam ensandecidamente qualquer coisa viva que passe pela frente deles, retirando todo e qualquer traço de verossimilhança estabelecido anteriormente.

Mas, justiça seja feita, os alienígenas desta insuportável continuação são os mais bem desenvolvidos personagens. E de longe. Afinal de contas, todos os humanos, aqui, além de serem meras buchas de canhão tão úteis como os humanos na franquia Transformers, são personagens recortados em cartolina, obedecendo ao máximo possível o clichê hollywoodiano que estabelece, em seus manuais, que obras assim precisam de um gostosão marginal, um irmão abobalhado, a mulher mais linda da cidade, o valentão imbecil e uma mulher que acabou de voltar da guerra do Iraque. E nem perderei tempo falando de suas atuações,  pois tenho sinceras dúvidas se eles atuaram no filme ou se só passaram na frente das câmeras depois de serem achados pela produção no calçadão em frente ao estúdio uns 15 minutos antes, recebido algumas páginas de roteiro (o que por si só é algo que duvido que tenha existido) e as decorado. É como ver seres amorfos gastando celuloide e, pior, tempo e neurônios (pois dá para sentir o QI escorrendo pelos ouvidos a cada minuto de filme) dos espectadores em uma experiência mais parecida com uma visita ao dentista depois de cinco anos fugindo do sujeito e empanturrando-se de açúcar.

Por fim, talvez valesse a pena abordar os efeitos especiais. No entanto, o problema é que não tenho muito o que dizer, pois tudo se passa no escuro, com chuva e a montagem é feita de forma a induzir epilepsia ou impedir a compreensão das sequências por quem não tiver um ataque sináptico. Só é realmente possível reconhecer o Predador pelo sangue fosforescente e o Predalien pelos péssimos dreadlocks que fundamental e dolorosamente lembram-me daquele outro “filme” (assim mesmo, entre aspas) com personagens com dreadlocks tendo John Travolta e Forest Whitaker como vilões. Chega a ser triste constatar que o curta amador Batman: Dead End tem Predadores e Aliens muito mais convincentes compartilhando a mesma tela.

Em suma, o filme não presta para nada. Ou melhor, presta para afastar as pessoas do cinema. Mesmo aqueles que porventura tenham adorado o primeiro (existe alguém?), a continuação não passa pelo mais raso escrutínio. É uma lição de como não fazer filmes.

*Crítica originalmente publicada em 08 de maio de 2017.

Aliens vs. Predador (AVPR: Aliens vs Predator – Requiem, EUA – 2007)
Direção: Alguém revogue a licença de: Colin Strause, Greg Strause (Irmãos Strause)
Roteiro: Tem roteiro? Mas foi esse sujeito aqui o culpado: Shane Salerno
Elenco: Apenas indigentes que deveriam ser proibidos de atuar pelo resto da vida, ou: Steven Pasquale, Reiko Aylesworth, John Ortiz, Johnny Lewis, Ariel Gade, Kristen Hager, Sam Trammell, Robert Joy, David Paetkau, Tom Woodruff Jr., Ian Whyte
Duração: Tempo demais, ou 94 min.

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