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Crítica | Alta Fidelidade

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Dificilmente encontramos alguma obra, seja livro, filme, ou até mesmo música, que lide com relacionamentos de uma maneira madura e realista. Em geral vemos a mesmice, a vitimização de um dos lados, transformando um namoro, ou casamento, em um ensaio maniqueísta. Alta Fidelidade marca como uma das exceções, trazendo-nos um personagem que, a princípio, é justamente o clichê pós-termino, que, aos poucos, transforma o filme do qual faz parte em uma narrativa adulta sobre separações e seus impactos no indivíduo.

Rob Gordon (John Cusack) é o dono de uma loja de discos que acabou de ser deixado pela namorada. Um homem desmotivado, apático, soando, em diversos momentos, depressivo. Em uma forma de lidar com o fim de seu relacionamento, o personagem quebra a quarta barreira, nos contando sobre as suas cinco piores separações, ao mesmo tempo que lida com esta última. Desde os minutos iniciais, o longa já conta com um tom irônico dado voz por Rob. John Cusack nos traz a figura perfeita de uma pessoa que simplesmente é levado pela vida, sem ter, em momento algum, qualquer voz ativa. A retratação de seus namoros passados, apesar de contarem com o sentimento de pena própria do personagem, são visões realistas e perfeitos exemplos de relacionamentos ao longo da vida de uma pessoa e como eles evoluem (ou, no caso do protagonista, seguem um padrão inerente à personalidade do homem ou mulher).

Aos poucos, através da ótima direção de Stephen Frears, que sabe utilizar, de forma precisa, seus atores, tais namoros ganham uma luz ainda mais verossímil. Paralelo a isso temos a confissão de Gordon, que admite não ser apenas uma vítima perante as separações. Aqui o roteiro maduro, baseado no livro de Nick Hornby, se destaca da simples comédia romântica. Queiramos ou não, todos temos uma voz nos relacionamentos, o filme mostra isso claramente através de plot-points discretos, que não vem como uma revelação, e sim como uma confirmação do que já era insinuado ao longo de sua narrativa.

A fotografia do experiente Seamus McGarvey (Os Vingadores, Anna Karenina) não produz planos ou movimentos de câmera mirabolantes. Ao invés disso, seu trabalho foca especificamente em closes dos rostos dos personagens, ampliando ainda mais o tom intimista do filme e trazendo à tona cada nuance de suas atuações – desde a passividade de Gordon até a excentricidade das duas figuras opostas, Dick (Todd Louiso) e Barry (Jack Black). Aqui abro um parênteses sobre esses dois personagens que podem soar exagerados, mas que atuam como perfeitas metáforas da personalidade conflitante do personagem principal, como se ele lutasse para escolher entre as duas, quando, na verdade, precisa encontrar o meio termo.

É claro que, em um filme cujo próprio pôster é um vinil, a trilha sonora não seria deixada de lado. Composta por Howard Shore (trilogia O Senhor dos Anéis) temos uma perfeita captação daquele momento único da vida do protagonista. O que destaca, contudo, são peças musicais já existentes, que vão desde Marvin Gaye até belos covers de Peter Frampton, que sempre ganham relevância dentro da trama através dos comentários – elogiosos ou não – dos três trabalhadores da loja de vinil. Trata-se de um longa cujo tom só se forma por completo através de sua ampla coleção musical.

Seja devido ao ótimo texto, direção, fotografia ou músicas que ficam na cabeça, Alta Fidelidade é uma obra de destaque, que prende o espectador do início ao fim. É uma luz dentre os filmes do gênero, trazendo uma visão adulta sobre um tema mais do que explorado em diversas mídias. Stephen Frears joga fora a vitimização e nos dá uma realista retração sobre o que é um relacionamento de verdade.

 Alta Fidelidade (High Fidelity) – Reino Unido/ EUA, 2000
Direção: Stephen Frears
Roteiro: D.V. DeVincentis, Steve Pink, John Cusack, Scott Rosenberg (baseado no livro de Nick Hornby)
Elenco: John Cusack, Iben Hjejle, Todd Louiso, Jack Black, Lisa Bonet, Catherine Zeta-Jones, Joan Cusack, Tim Robbins.
Duração: 113 min.

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