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Crítica | Amityville: O Despertar

por Guilherme Coral
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Aqueles que acompanharam nossa retrospectiva da franquia Amityville, na qual, eu e Ritter Fan, nos aventuramos pelos cinco, dos dezessete (!!!), filmes lançados no cinema, já sabem muito bem o quanto consideramos um completo mistério o fato dessa série ter durado tanto. Enquanto longas franquias cinematográficas, como 007, renovam-se através de mudanças no estilo de sua narrativa e pela troca do ator principal, além, é claro, de novos vilões, essa obra de terror parece não se preocupar nem um pouco com a inovação e, longa após longa, tudo o que vemos é mais do mesmo, tendo o estúdio a audácia de realizar um remake. Com isso em mente, é seguro dizer que a franquia jamais foi boa, guilty pleasures ao lado, com cada entrada apresentando erros próprios, além da já citada falta de novidade, que cansa o espectador.

Eis que, depois desses dezessete filmes, ganhamos mais uma tentativa de se lucrar em cima da velha casa mal-assombrada, com Amityville: O Despertar, lançado em terras tupiniquins, não sei se por coragem ou estupidez, enquanto It: A Coisa ainda leva grande parte da bilheteria mundial. Esse “ganho” nosso, contudo, não passa de pura enganação, já que soa como um presente repetido, visto que, mais uma vez, a série repete a exata mesma fórmula, já bastante batida, considerando não apenas os Amityville anteriores, como todas as obras cuja premissa básica é a mudança de uma família para uma casa amaldiçoada.

Começamos a história, pois, com a chegada de Joan (Jennifer Jason Leigh), suas duas filhas, Belle (Bella Thorne) e Juliet (Mckenna Grace), e seu filho em coma, James (Cameron Monaghan), na infame casa em Amityville. Enquanto a mãe sabia do histórico da casa, as meninas eram ignorantes em relação a tal fato e Belle somente descobre sobre os assassinatos ocorridos ali depois de seu primeiro dia na escola. Enquanto isso, o rapaz em coma começa a apresentar estranhos sinais de súbita melhoria, indicando que a casa pode ter alguma coisa a ver com essa recuperação. O que não esperavam é que ele seria possuído pela entidade que ali habita.

Poderíamos muito bem perdoar o fato de Belle desconhecer o passado da casa na qual mora, não fosse o fato de que os filmes da franquia (inclusive o remake de 2005) existem nesse universo, metalinguagem essa que funciona apenas para garantir a artificialidade do roteiro. Levando em conta que Amityville não é exatamente aquela série de longa-metragens obscura, acreditar que a protagonista jamais tenha ouvido falar nessas obras é simplesmente pedir demais. Tudo isso piora com a constatação, já na segunda metade da projeção, de que a presença desses filmes não desempenha qualquer valor narrativo, além de aumentar as suspeitas da garota sobre a casa, algo que já ocorreria naturalmente, considerando as nefastas manifestações ocorridas ali.

Claro que esse é um detalhe menor, quando comparamos ao restante das tragédias desse filme, que preocupa-se mais em (tentar) criar jump scares, através dos velhos truques de cortes rápidos, planos encurtados e ocultação de parte do cenário, do que efetivamente construir seus personagens. Belle é completamente unidimensional e o único fato que sabemos sobre ela é que ela é irmã gêmea de James. O roteiro poderia até desenvolver as desavenças dela com sua mãe, mas esse fator, introduzido logo nos minutos iniciais, somente se faz presente quando é conveniente, culminando em uma revelação por parte de Joan, que acaba configurando-se como um plot-twist extremamente mal realizado, visto que é abandonado pouco tempo depois, sem influenciar em basicamente nada.

Não bastasse isso, o roteiro de Franck Khalfoun introduz algumas passagens oníricas, que não contam com qualquer lógica interna, alternando os ponto de vistas, como se ele houvesse primeiro pensado tal sequência como realidade e, no meio do caminho, tivesse desistido e transformado-a em sonho. Esse deslize é tão explícito que é capaz de quebrar por completo a imersão do espectador, gerando um grande “ué” em sua mente (ou boca, se você for daqueles mal-educados que falam durante a sessão). Essa falta de cuidado no texto estende-se para o tratamento dado a inúmeros dos personagens, que desaparecem durante boa parte da projeção e retornam quando é conveniente, questão que se aplica à irmã mais nova, Juliet.

Esse deslize poderia até ser ocultado por um bom trabalho da atriz principal, mas, infelizmente, não é isso que vemos aqui. Bella Thorne parece incapaz de demonstrar qualquer emoção, jamais convencendo-nos de fato. Dessa forma, a responsabilidade de manter a atmosfera de terror viva é deixada, por completo, nos ombros da maquiagem de Cameron Monaghan, sendo a única coisa que efetivamente funciona nesse filme e que, tragicamente, é alternada, em certos momentos, para um péssimo uso de CGI.

O resultado disso tudo é mais um filme da franquia que não consegue envolver-nos de forma alguma. Com roteiro artificial, não-atuação da atriz principal e, claro, mera repetitividade da trama geral, Amityville: The Awakening é puramente mais do mesmo, capturando praticamente todos os defeitos dessa péssima série cinematográfica. Permanece o mistério de como a franquia durou tanto e resta a esperança de que, enfim, ela será devidamente aposentada.

Amityville: O Despertar (Amityville: The Awakening) — EUA, 2017
Direção:
 Franck Khalfoun
Roteiro: Franck Khalfoun
Elenco: Jennifer Jason Leigh, Cameron Monaghan, Bella Thorne, Jennifer Morrison,  Mckenna Grace,  Thomas Mann, Kurtwood Smith, Taylor Spreitler
Duração: 85 min.

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