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Crítica | Amor à Queima Roupa

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Amor à Queima Roupa, de 1993, originou-se do primeiro filme que Quentin Tarantino dirigiu e co-escreveu, chamado My Best Friend’s Birthday, em 1987. Ainda amador, Tarantino costurou um filme de 70 minutos que, durante um incêndio, tornou-se um curta metragem de apenas 36 minutos e que foi mostrado aqui e ali em festivais esparsos, nunca sendo lançado comercialmente.

Mas o roteiro do filme, com um forte tom de comédia, tinha diálogos e o personagem Clarence que serviram de sustentáculo para Amor à Queima Roupa, que Tarantino conseguiu vender para os Weinstein depois do sucesso de Cães de Aluguel no festival de Sundance. Olhando com olhos “tarantinescos”, o filme é claramente um produto do diretor, que viria a firmar-se no mercado definitivamente no ano seguinte com o aclamado e até hoje reverenciado Pulp Fiction.

E, de fato, estão lá os diálogos longos, de veia pop e com um lado quase sádico que já estava mais do que presente em Cães de Aluguel e que viria a se intensificar em Pulp Fiction. Estão lá os personagens estranhos, mas cativantes e sempre com um lado sombrio que deixam os filmes de Tarantino tão saborosos.

Tony Scott, falecido em 2012, assumiu a cadeira de diretor e, claro, trouxe seu próprio toque ao filme, com energéticas cenas de ação e uma montagem frenética e eficiente. Pode-se afirmar, na verdade, que Amor à Queima Roupa é tanto um filme de Tarantino como é de Tony Scott e o conjunto da obra, apesar de inevitavelmente violento, é muito agradável, com uma narrativa fluida o suficiente, apesar de já percebermos seu final logo no início.

Esse começo nos apresenta a Clarence Worley (Christian Slater), um balconista de loja de quadrinhos que conversa com Elvis Presley (sim, isso mesmo!) e que está em um bar convidando uma mulher para assisitir uma sessão tripla de filmes setentistas de kung-fu estrelando Sonny Chiba (que viria figurar em Kill Bill: Volumes 1 e 2 como o fabricante de espadas Hatori Hanzo) no cinema. Seu convite, claro, não surte efeito, mas, mesmo sozinho, Clarence vai ao cinema e lá esbarra em Alabama Whitman (Patricia Arquette), com quem passa a noite, descobre que é uma garota de programa contratada por um amigo dele, mas que se apaixonou por ele e, em um piscar de olhos, os dois estão casados.

Acontece que Clarence não consegue deixar para trás o passado dela e resolve encarar o cafetão de sua esposa, Drexl Spivey (Gary Oldman, irreconhecível, mas sensacional) e, em uma briga, acaba matando-o e levando, por engano, uma maleta cheia de cocaína. A partir daí ele passa a ser caçado pelos traficantes da máfia italiana, ao mesmo tempo que vai para Los Angeles vender seu tesouro para um produtor de cinema (Saul Rubinek).

Pode parecer muita coisa, mas o roteiro de Tarantino funciona muito bem. Ele tem até tempo de inserir uma conversa entre Clarence e seu pai (Dennis Hopper) que não via há três anos e uma trama paralela em que a polícia quer prender o produtor. Isso tudo levando, muito naturalmente, a um sanguinolento embate que poderia muito bem ser comparado a uma versão extremamente anabolizada do clássico duelo triplo do final de Três Homens em Conflito.

Assistir Amor à Queima Roupa é especialmente interessante não só pelo roteiro de Tarantino e a direção segura de Scott, mas, também, para ver a quantidade de atores já famosos àquela época e também outros que viriam a se tornar famosos, todos fazendo pontas aqui e ali. Além dos vários já citados mais acima, temos Chritopher Walken no papel de um capanga siciliano que tem uma hilária – mas trágica – conversa com o pai de Clarence (o monólogo sobre a miscigenação racial dos sicilianos que sai da boca de Hopper é Tarantino puro), Brad Pitt como um maconheiro que não faz mais nada além de ficar sentado no sofá vendo televisão e passando informações importantes a quem quer que pergunte e Samuel L. Jackson como um traficante de drogas que aparece por 10 segundos no filme antes de morrer. E isso porque não estou nem contando com Val Kilmer, Michael Rapaport, James Gandolfini (em um papel que mais parece um prelúdio de Tony da Família Soprano), Chris Penn e Tom Sizemore.

E esse elenco gigante e, hoje, 100% reconhecível em cena, circula pelo filme de Scott sem poluir a obra ou tornar suas presenças incômodas. O trabalho de montagem fica à mostra, com cenas cirurgicamente cortadas para passar sua mensagem e pronto. É bem verdade, porém, que o “desaparecimento” do personagem de Christopher Walken nas cenas em Los Angeles não faz muito sentido, mas o crescendo da tensão e o inevitável e destruidor final (ainda que excessivamente melodramático e positivo), nos faz esquecer desse detalhe.

Aliás, falando sobre desaparecimento de atores, é interessante notar como existia uma época em que Christian Slater era chamado para protagonizar filmes de monta. Particularmente, nunca entendi o apelo do ator que tem poucas qualidades dramáticas, além de uma presença em cena nada imponente. Ele até funciona em Amor à Queima Roupa, mas não cumpre muito mais do que uma função burocrática, quase que ele mesmo sendo utilizado com um mero veículo para o desenrolar da narrativa.

Mesmo originado de um roteiro amador de Tarantino, Amor à Queima Roupa, graças ao talento dele para escrever diálogos inesquecíveis e inteligentes e ao timing de Scott para filmes de ação, é uma fita que merece respeito.

Amor à Queima Roupa (True Romance, EUA/França – 1993)
Direção: Tony Scott
Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco: Christian Slater, Patricia Arquette, Dennis Hopper, Val Kilmer, Gary Oldman, Brad Pitt, Christopher Walken, Michael Rapaport, James Gandolfini, Chris Penn, Tom Sizemore
Duração: 120 min.

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