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Crítica | Anjos da Noite

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Não há como assistir Anjos da Noite e não enxergar as fortes influências de Matrix na obra. A franquia das Wachowski tivera seu último capítulo lançado no mesmo ano desse primeiro longa-metragem de Len Wiseman como diretor. Dito isso, apesar de contarem com inúmeros elementos praticamente idênticos, o filme de vampiros e lobisomens consegue garantir sua identidade visual, principalmente pelo fato de Wiseman ter começado sua carreira cinematográfica justamente no departamento de arte, tendo trabalhado em longas como StargateIndependence Day e MIB: Homens de Preto. Essa marca da obra, todavia, não consegue esconder os seus evidentes problemas, que vão desde o roteiro até a direção em si.

A trama gira em torno de uma guerra entre os vampiros e os lycans (lobisomens), criaturas da noite que há mais de um milênio lutam entre si. Nesse cenário, temos a protagonista Selene (Kate Beckinsale), uma vampira cuja principal missão é acabar com os membros da raça rival. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando ela descobre que os lobisomens estão à caça de Michael (Scott Speedman) por razões desconhecidas. Logo ela acaba se envolvendo em uma conspiração que irá colocar em xeque tudo o que ela tomava como verdade, expondo o real estopim desse interminável conflito.

Anjos da Noite assume a velha narrativa do escolhido, a primeira das influências deixadas por Matrix. De fato, chega até a ser engraçado quando paramos para pensar e enxergamos que o argumento da obra é praticamente igual ao filme das Wachowski. Vejam: Michael é um humano normal que descobre uma inteira nova realidade sobre o mundo em que vive no momento que vira alvo de uma perseguição por figuras desconhecidas. No processo ele é salvo por uma misteriosa mulher, por quem acaba se apaixonando e com o andar da projeção descobrimos que ele é especial de alguma forma, sendo capaz de acabar com esse grande conflito. É claro que a diferença entre as duas franquias está no detalhe, mas só pelo fato de podermos aplicar essa mesma descrição para dois filmes lançados em um período menor que de cinco anos já podemos identificar a falta de originalidade do texto do longa sobre as criaturas da noite.

Felizmente a forma como esse universo é apresentado dá uma revitalizada na obra. Len Wiseman, mesmo posicionando sua história no século XXI, dá um ar quase vitoriano às suas imagens. As constantes fumaças, a presença quase que exclusiva de prédios do final dos anos 1800, ao lado da escuridão vigente no filme criam essa forte linguagem visual. Estamos falando de uma história que se passa, do início ao fim, durante a noite e não poderia ser de outra forma, considerando as criaturas abordadas. As vestimentas dos personagens centrais evidentemente é puxada diretamente de Matrix, mas Beckinsale parece realmente fazer parte daquelas roupas.

A forma como os vampiros são retratados, salvo pelos seus ocasionais chiados traz uma mistura da visão moderna trabalhada por Anne Rice em conjunto com a obra de Bram Stoker – vemos o passado e o futuro desses seres fantásticos convergindo para um mesmo ponto e o uso da tecnologia mesclada com as antigas formas de arquitetura é colocada no filme de maneira orgânica, traduzindo para a imagem a ancestralidade de tais criaturas e, ao mesmo tempo, sua evolução ao longo dos anos. Além disso, é bastante difícil vermos, seja no cinema ou na televisão, um trabalho de maquiagem e prostético (os dentes) que não seja exagerado demais, Anjos da Noite é uma dessas exceções, o que torna toda a experiência mais agradável.

 Por outro lado, enquanto que o design dos lycans chama a atenção pela utilização de efeitos práticos, o que afasta a obra da grande maioria dos filmes que apelam do CGI, a forma como eles se movimentam acaba tornando o longa-metragem extremamente datado. Isso, naturalmente, poderia ter sido resolvido por um trabalho mais cuidadoso da direção, que não necessitava ter exposto tanto esse lado do filme ao espectador, o uso da escuridão, das sombras e do corte no momento certo resolveria muitos dos problemas da obra. Wiseman certamente poderia ter aprendido mais com Alien.

Outro grande deslize do filme é a sua duração prolongada. Com momentos simplesmente descartáveis e sequências de ação exageradamente longas, a duração da projeção poderia ter sido encurtada em, no mínimo, vinte minutos. O resultado que vemos acaba nos cansando pela sua repetitividade, prejudicando cenas que certamente surtiriam mais impacto através de um trabalho de edição mais conciso. O final, com direito ao “você morreu e não sabia”, clássico de Cavaleiros do Zodíaco também não ajuda a construir uma percepção muito positiva da obra.

No fim, Anjos da Noite é um longa-metragem que acaba agradando aquele que não espera uma sensacional história de vampiros e lobisomens. Com evidentes acertos no seu lado visual, o filme peca pelo seu roteiro que não foge do comum e pela sua direção e montagem fracas, que mostram demais e tornam toda a experiência bastante cansativa. Felizmente alguns desses problemas acabaram sendo corrigidos nas sequências.

Anjos da Noite (Underworld) — EUA, 2003
Direção:
Len Wiseman
Roteiro: Danny McBride
Elenco: Kate Beckinsale, Scott Speedman, Shane Brolly, Michael Sheen,  Bill Nighy, Erwin Leder, Sophia Myles
Duração: 121 min.

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