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Crítica | “Anthems for Doomed Youth” – The Libertines

por Luiz Santiago
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estrelas 4

De 1997 a 2004, tendo como produto desse período dois álbuns de estúdio, a banda britânica The Libertines dava uma nova cara ao punk rock que voltava a dar as caras na terra da rainha, com novas abordagens líricas e o característico som cru, “de garagem”, que lhe era de praxe. Formada pelos vocalistas e guitarristas Carl Barât e Pete Doherty e completada pelo baixista John Hassall e pelo baterista Gary Powell, a banda se separou em 2004 devido a conflitos entre Barât  e Doherty — conflitos aumentados pelo amplo uso de drogas e prisões do último — voltando a se reunir oficialmente para um grande e único evento em 2010, ocasião em que foram acompanhados pelo cineasta Roger Sargent, que dirigiria o documentário The Libertines – There Are no Innocent Bystanders (2011).

Se contarmos desde The Libertines, o último álbum de estúdio da banda, passaram-se 11 anos até que surgisse Anthems for Doomed Youth (2015), um álbum gravado na Tailândia e que reúne velhos amigos já em outra idade, tendo passado por outras bandas e com novas bagagens musicais.

Ao mesmo tempo que soa maduro, Anthems não perde a linha da “velha banda” e em alguns momentos chega a ser condescendente demais com a própria mitologia do Libertines, um possível medo dos músicos e do produtor Jake Gosling em se afastar demais dos 2 únicos discos do grupo e com isso, dispersar o público. Para um retorno depois de tanto tempo — e sendo esse retorno um possível ponto final em “coisas não resolvidas” da banda –, jogar entre novidades e sons já conhecidos foi a melhor receita. E mesmo eu admitindo que isso resultou em algumas fraquezas nas faixas do miolo do disco, tais como You’re My Waterloo e Belly of the Beast, só para citar as mais afetadas, em nenhum momento a qualidade cai a ponto de tornar uma faixa descartável.

As músicas de abertura do álbum, Barbarians e Gunga Din possuem ecos de Up the Bracket (2002) e The Libertines (2004), mas com uma vitalidade ainda mais expressiva, coro próximo ao de arena (ou garagem, se preferir), referências musicais ao punk “clássico” nos refrões, com bateria enlouquecida, linha do baixo em constante mudança e frases de efeito na letra. São canções deliciosas e com pontes líricas e instrumentais bastante coesas, o que mostra maior rigor dos músicos na finalização das faixas, postura que tem ainda melhor resultado na produção de Jake Gosling, que apostou na capacidade do grupo em criar um grande número de variáveis dentro de seu próprio estilo. Se peca parcialmente por não ousar, Gosling acerta em cheio na qualidade do que produz, o que acaba compensando um pouco a falta (ou a pouca presença) de “sangue novo” no disco.

As muitas brincadeiras poéticas do grupo aparecem em performances bem divertidas como na canção Fame and Fortune — preste atenção na dicção propositalmente em relevo — e na balada folk rock Anthem for Doomed Youth, uma espécie de reafirmação da alma do disco em pequenas sessões rítmicas e tonais nos instrumentos e voz, algo que pode parecer estranho para quem não está acostumado com o estilo, mas que é muito bem executado. A mesma variação em tom de divertimento — um exercício de violão emulando Bob Dylan à primeira vista — aparece na excelente Iceman, que vai ganhando novidades impensáveis ao longo da faixa, passando do violão à guitarra de forma muitíssimo criativa, tendo ainda um refrão em tons menores, riff marcante e criativa percussão aliada a ótimos efeitos sonoros.

Da reta final, apenas Fury of Chonburi apresenta algum desconforto nos instrumentos, mas mesmo assim é uma canção que vale a pena estar no disco. As outras todas são ótimas dentro de suas propostas, de Heart of the Matter, que mistura Ramones, The Clash e Libertines em uma faixa rápida, objetiva e viciante até a pop rock The Milkman’s Horse, passando pela deliciosamente indie com sabor de Beatles Glasgow Coma Scale Blues e pela experiência da banda em um outro território, na faixa Dead for Love, fechando o álbum com melancolia e reflexão.

Anthems for Doomed Youth traz os Libertines de volta com um vigor e qualidade que quase faz jus à longa espera de 11 anos para o retorno do quarteto. Não é um álbum impecável, mas é um ótimo álbum, daqueles que você ouve repetidamente, sem cansar, por bastante tempo. Se brincar, estará na minha lista de melhores do ano, dependendo de quantos álbuns for essa lista.

Aumenta!: Gunga Din
Diminui!: 
Minhas canções favoritas do álbum: Barbarians, Iceman  e  Heart of the Matter

Anthems for Doomed Youth
Artista: The Libertines
País: Reino Unido
Lançamento: 11 de setembro de 2015
Gravadora: Virgin EMI
Estilo: Garage Rock Revival, Indie Rock

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