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Crítica | Apaixonados (1949)

por Luiz Santiago
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Com roteiro coescrito por Samuel Fuller, Apaixonados é uma obra sobre o choque entre as aparências e a realidade, sobre o amor que assalta a qualquer um sem explicação, e sobre as complexas relações entre pessoas que se encontram em lados diferentes do contrato social.

O filme é um noir de Douglas Sirk, que já vinha de duas produções seguidas do gênero (Emboscada e Sonha, Meu Amor) e tinha a habilidade de filmar com elegância as mais sujas e condenáveis situações dramáticas, uma característica que não agradou nada a Samuel Fuller – que tinha simpatia por um cinema ais cru e de moral mais questionável. Anos depois, Fuller chegou a dizer que Sirk havia “distorcido” suas palavras através das imagens.

Se levarmos em consideração o cinema de Fuller, que estrearia atrás das câmeras mesmo naquele ano de 1949, com o longa Eu Matei Jesse James, podemos dizer que seu colega alemão deu sim um caráter mais suave (ou “distorcido”) ao drama frio da mulher que sai da prisão em liberdade condicional (a femme fatale, vivida com competência por Patricia Knight) e se vê entre a possibilidade de construir uma vida honesta e a herança de uma vida pouco louvável no passado, problema agravado pela presença quase ameaçadora de um homem por quem ela é apaixonada.

A trama nos guia por uma sequência instigante de eventos, suspense e pequenas reviravoltas (um triunfo do texto de Helen Deutsch e Samuel Fuller) que termina por nos colocar como torcedores do casal improvável e, ao mesmo tempo, explora o caráter maldoso de ambos os lados da tela, investindo em julgamentos à primeira vista, conclusões precipitadas, ações por instinto e tentativas de mudança de um estilo de vida, ato bastante comum no cinema noir e na vida real de qualquer pessoa.

Há símbolos espalhados no decorrer da narrativa, guiando-nos para um ambiente familiar que nunca foi o verdadeiro motivo da história. Aliás, o núcleo de Apaixonados é a relação perigosa e (meio) criminosa entre um homem e uma mulher. Essa relação passa dos limites aceitáveis pela sociedade e chega a um ponto arriscado e decisivo onde, feliz ou infelizmente, a boa consciência vence e as coisas ganham contornos menos acidentados e mais conciliadores.

Com um texto bem escrito e uma direção cheia de glamour — com direito a belíssimas composições dentro da casa da família do policial Griff Marat (vivido com estranha simpatia por Cornel Wilde) e temática social como plano e fundo — Douglas Sirk nos entrega aqui não só um ótimo e sombrio romance mas também um instigante estudo sobre a alma feminina.

Há quem reclame do tom menos duro que a obra adotou na reta final, mas esse caminho não se desvia da proposta geral da fita, se olharmos os atalhos que Sirk tomou no decorrer da história. Olhando mais de perto, veremos que a aparente felicidade é restabelecida de maneira frágil e veio pisoteando regras e pessoas. Se esse status do desfecho justificar os meios questionáveis para ser conseguido, então temos aí duas coisas nada felizes com as quais nos preocuparmos. E é aí que faz sentido o final ser como é.

Apaixonados (Shockproof) – EUA, 1949
Direção: Douglas Sirk
Roteiro: Helen Deutsch, Samuel Fuller
Elenco: Cornel Wilde, Patricia Knight, John Baragrey, Esther Minciotti, Howard St. John, Russell Collins, Charles Bates
Duração: 79 min.

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