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Crítica | Aquaman (Piloto – 2006)

por Ritter Fan
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Ir à caça de pilotos de séries que acabam não sendo produzidas é pedir para se deparar com todo tipo de trasheira. Afinal, mesmo considerando as várias porcarias que acabam efetivamente chegando à televisão, é de se supor que o que nem mesmo consegue chegar lá não conseguiu sequer passar pelo duvidoso controle de qualidade das produtoras e, mais comumente, dos canais (especialmente os abertos). Mas Aquaman é, sem dúvida alguma, uma exceção à regra, já que a principal razão de o piloto tão festejado à época, com recorde de downloads quando disponibilizado legalmente, não ter se convertido em série, foi a fusão da Warner com a UPN e a subsequente criação da The CW, que alterou os planos-macro então estabelecidos.

Com o personagem ganhando um bem-sucedido e bem recebido tratamento live-action como coadjuvante em alguns episódios na longeva série Smallville, começando com Aqua, o quarto da quinta temporada, que foi ao ar em 2005, a ideia de uma derivação solo logo foi desenvolvida por Al Gough e Miles Millar, showrunners da série do Superboy. No entanto, no lugar de realmente fazerem um spin-off, convocando Alan Ritchson (o policial protagonista de Blood Drive) novamente para o papel ou mesmo partindo do cânone televisivo que eles mesmos estabeleceram, a dupla de showrunners resolveu começar do zero, ainda que, eventualmente, houvesse planos de crossovers (o que ficaria estranho, mas já vi coisas bem mais bizarras na TV). Portanto, o Aquaman do piloto não é o Aquaman de Smallville, o que provavelmente surpreendeu muita gente à época.

Para o papel principal, o escolhido foi Justin Hartley, curiosamente o ator que seria então aproveitado para viver Oliver Queen, o Arqueiro Verde, na mesma Smallville (haja confusão!) e que, hoje, notabilizou-se por seu papel como Kevin, em This is Us. Ele é Arthur “A.C.” Curry, um jovem que, como aprendemos no eficiente prólogo que se passa 10 anos antes, perdera sua mãe em circunstâncias mais do que estranhas, depois de uma tempestade que derrubou o pequeno avião onde estavam, sobrevoando o mítico Triângulo das Bermudas. Nesse incidente, não só sua mãe o chama de Orin, como lhe entrega um misterioso colar de cavalo marinho, mostra ter superforça e é atacada por uma criatura marinha desconhecida, com o pequeno Arthur sendo salvo por baleias.

Já crescido, ele já nos é mostrado com domínio sobre seus poderes, podendo nadar a enormes profundidades sem equipamentos e em velocidades impressionantes, a ponto de equiparar-se a um avião caça. No entanto, ele mantém suas habilidades escondidas de todos e também ignora suas origens, vivendo como dono de uma loja de mergulho com sua sócia Eva (Amber McDonald), apesar das constantes tentativas de seu pai adotivo (Lou Diamond Phillips) em fazê-lo se interessar por estudos formais, caminho que ele se recusa a enveredar justamente para ficar próximo do local onde sua mãe sumira anos antes, na esperança de um dia desvendar o mistério.

Sem maiores explicações, porém, esse dia começa a chegar, com alguns eventos em cadeia acontecendo em sua vida. O primeiro desses eventos que vemos é a descoberta de um náufrago no Triângulo das Bermudas usando o mesmo colar de A.C. e que diz precisar avisar Orin que “eles” estão chegando. Não demora e o rapaz é levado sob custódia do Almirante Brigman (Rick Peters) que vem investigando o ressurgimento de pessoas que desapareceram na região há décadas. Quando A.C. vai tenta ir até o lugar onde o naufrágio aconteceu, seu colar – assim como acontecera 10 anos antes – funciona como uma espécie de sinalizador, abrindo o que pode ser um portal. No entanto, a tenente Rachel Torres (Denise Quiñones) havia sido destacada para sobrevoar a mesma região e o raio de abertura do portal derruba sua aeronave. A.C, claro, a resgata e a leva ao hospital enquanto o outro náufrago ainda estava por lá, o que estabelece uma conexão entre os colares.

Como se toda essa estranheza não bastasse, aproximam-se de A.C. um homem chamado McCaffery (Ving Rhames, sempre com presença marcante) e uma bela e misteriosa mulher chamada Nadia (Adrianne Palicki, provavelmente a atriz mais azarada do mundo no que se refere a séries baseadas em quadrinhos, vide os pilotos de Aquaman e de Mulher-Maravilha, além de sua saída de Agents of S.H.I.E.L.D. para estrelar um derivado – Most Wanted – que foi cancelado antes mesmo da produção começar). Não demora, e o primeiro é revelado como seu guardião, conforme prometido ao Rei de Atlândida, de quem A.C. é filho e a segunda é uma sereia maligna que quer terminar o trabalho que começou 10 anos antes.

Se olharmos de forma estanque para o piloto, a repentina cadeia de acontecimentos incomoda. No entanto, a grande verdade é que é justamente essa a função de um piloto de série: jogar elementos normalmente misteriosos que serão desenvolvidos em capítulos e temporadas posteriores. Faz parte do jogo e, no final das contas, o roteiro de Gough e Millar realmente é eficiente em alcançar o resultado de aguçar a curiosidade do espectador. Sim, há uma boa quantidade de breguice nos relacionamentos, além de uma atmosfera Barrados no Baile, só com gente bonita, bem torneada e de sorrisos muito brancos de um lado a outro, mas, justiça seja feita, como um semi-derivado de Smallville, não dava para esperar coisa diferente. Aliás, nem mesmo hoje em dia, se considerarmos o material DC-CW que temos disponível, é realmente possível dizer que Aquaman é muito diferente do padrão desse tipo de série, o que não é algo necessariamente ruim, vale dizer.

Aliás, é particularmente surpreendente a qualidade do CGI e dos efeitos práticos no piloto, demonstrando que a Warner, à época, realmente apostava no projeto, com um orçamento para o episódio inaugural estimado em sete milhões de dólares. E é perfeitamente possível ver onde o dinheiro foi empregado, tanto com a maquiagem de Nadia transformada em sereia assassina, como também no uso de fotografia submarina, uso de jatos militares e uma boa quantidade de CGI não só para representar os poderes de A.C., notadamente a super-velocidade na água, como também para lidar com o acidente aéreo inicial e o resgate do pequeno Orin pelas baleias e as sequências noturnas climáticas em alto-mar, com o embate entre o herói e Nadia.

Em termos de elementos dos quadrinhos, há uma mistura de origens, seguindo, porém, as ideias gerais do parentesco e legado de Aquaman e elementos iconográficos importantes como o farol, Mercy Reef, o poder de comunicação com animais marinhos e outros, algo que, muito provavelmente, seria abordado em temporadas futuras com mais ênfase. Diferente de Smallville, grande parte do passado do jovem já é desvendado desde o início, pelo menos em pinceladas amplas. Mas, na linha da série do Superboy, Aquaman não tem um uniforme e, claro, é impossível dizer se um dia ele o teria, ainda que suas roupas civis acompanhem o clássico laranja e verde de seu uniforme dos quadrinhos, em uma bem-vinda piscadela.

Aquaman é um daqueles raros pilotos não convertidos em série que deixa uma ponta de curiosidade no espectador pelo que ele poderia ter sido. O panorama do que hoje é o universo compartilhado das séries da DC na The CW, iniciado por Arrow em 2012, poderia ter sido bem diferente se Aquaman tivesse recebido luz verde em 2006. Se para melhor ou pior, fica na seara da pura especulação.

Aquaman (Idem, EUA – 2006)
Direção: Greg Beeman
Roteiro: Al Gough, Miles Millar
Elenco: Justin Hartley, Lou Diamond Phillips, Denise Quiñones, Rick Peters, Ving Rhames, Amber McDonald,  Adrianne Palicki, Daniella Wolters
Duração: 42 min.

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