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Crítica | Arquivo X – 10X1 e 10X2: My Struggle / Founder’s Mutation

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Obs: Há spoilers. As críticas da “série completa” e dos dois longa-metragens podem ser lidas aqui

Depois de 14 anos longe das telinhas, uma das séries mais importantes da televisão americana volta para sua casa original. Os Agentes Mulder (David Duchovny) e Scully (Gillian Anderson) estão de volta investigando o sobrenatural para o deleite nostálgico dos fãs.

Os primeiros dois episódios desta minissérie de apenas seis no total são bem diferentes, quase como se fizessem parte de duas séries não relacionadas, tanto em tom quanto em propósito, o que é estranho considerando o pouco tempo que Chris Carter terá para desenvolver sua nova história. Mas, antes de começar os comentários propriamente ditos, um esclarecimento: a Fox vem chamando este revival de “minissérie” ou “evento” e não de 10ª temporada, mas, para facilitar, resolvi indicar esta como a 10ª temporada da série clássica.

E a explicação para esta escolha mais do que se justifica pela estrutura de My Struggle, o primeiro e frenético episódio da minissérie. Nele, os espectadores são re-introduzidos à mitologia com uma breve recapitulação com narrativa em off de Mulder e tudo o que vemos no capítulo reconfirma os acontecimentos anteriores, sem negar nada diretamente. Sim, o casal de detetives está separado e o filho deles só é mencionado mais fortemente no segundo episódio, mas nada visto ali nega completamente o que veio antes, nem mesmo a revelação (nada) surpreendente bem ao final que o Canceroso (William B. Davis) ainda está vivo.

Dirigido e escrito por Chris Carter, o primeiro episódio, como disse, é marcado por um constante frenesi. Frenesi para fazer o status quo anterior voltar (ou seja, a reabertura do departamento Arquivos X no FBI) e frenesi para introduzir uma nova teoria da conspiração que parece querer mostrar que tudo aquilo que Mulder e Scully viveram ao longo dos seus 10 anos (ou quase) à frente do departamento foi uma gigantescamente intrincada cortina de fumaça com objetivos escusos que nem mesmo o roteiro dá conta de explicar direito. Como fio condutor, há Joel McHale (o Jeff Winger de Community) como Tad O’Malley, um apresentador de TV que é mais paranoico do que Mulder e que parece ter a chave para a tal conspiração: uma jovem (Sveta, vivida por Annet Mahendru) que fora abduzida diversas vezes, tendo inclusive engravidado várias vezes no processo, com seus fetos furtados pelos alienígenas.

Confesso que a narrativa me pareceu para lá de preguiçosa e cansada, com um roteiro confuso e verborrágico que é composto, basicamente, de uma sucessão de sequências expositivas em que O’Malley e Mulder, como pintos no lixo, expandem e engrandecem a cada segundo o que vão descobrindo, em uma concatenação sôfrega de raciocínios que beira o cômico. Mulder é retratado por Duchovny – em razão do roteiro – como um agente novato que não viveu o que viveu e que ainda “quer acreditar”, frase essa repetida inúmeras vezes. Scully não fica muito atrás e, eternamente cética apesar das barbaridades por que passou, continua do mesmo jeito, sempre servindo de âncora para os devaneios do parceiro. Em outras palavras, o primeiro episódio faz o espectador voltar para o começo da década de 90, em uma estranha escolha de caracterização por Carter que infantiliza seus clássicos personagens e chama o telespectador de bobalhão.

Ao trafegar excessivamente pelo caminho da nostalgia, o showrunner e criador da série simplesmente faz o que é mais seguro e garantido: repete os exatos caminhos trilhados anteriormente, recusando-se a sair da zona de conforto, como se ele estivesse apresentando Arquivo X pela primeira vez ao mundo. E esse marasmo narrativo ecoa também no lado visual, com enquadramentos e montagem que emulam o estilo noventista de se fazer séries. Cortes bruscos seguidos de resultados milagrosos (testes de DNA que parecem feitos em poucos minutos, transporte instantâneo de um lugar ao outro e a onipresença de Mulder são exemplos) e perpassado por uma trilha sonora que tenta ditar como o espectador deve se sentir (“olha, agora é uma cena de suspense”) literalmente estragam a volta da dupla para a televisão.

No entanto, a Fox foi sábia ao soltar dois episódios em dias consecutivos, pois o segundo ajuda a suavizar a mixórdia que é o primeiro. Em Founder’s Mutation, os agentes, já de volta ao FBI graças aos esforços do Diretor-Assistente Walter Skinner (Mitch Pileggi também de volta), investigam o aparente suicídio de um cientista da Nugenics Technology, controlada pelo recluso Dr. Augustus Goldman (Doug Savant, de Desperate Housewives). Isso leva à descoberta de um aparente esquema de experimentação genética em fetos sem conhecimento das respectivas mães, artifício que é usado pelo diretor e roteirista James Wong para trazer à tona William, o filho de Scully e Mulder em flashbacks hipotéticos do que poderia ter sido caso ele não tivesse sido entregue para adoção.

Com um passo bem mais cadenciado e com uma história suficientemente interessante, o episódio funciona melhor e empresta significado à relação de Mulder e Scully, depois de terem sido apressadamente juntados no episódio anterior. Até mesmo a fotografia ganha diferentes contornos aqui, com um ar mais leve ainda que o assunto “crianças com doenças genéticas” seja bastante pesado. Os momentos “pai e filho” e “mãe e filho” com um filtro sépia bem discreto dando a impressão de sonho também ajudam na construção dos personagens e são bem-vindos momentos para o espectador respirar.

O que espanta, porém, é que Founder’s Mutation parece ser um episódio solto, ou seja, um  daqueles desligados da linha narrativa principal da série e essa conclusão é corroborada pelo fato de que este seria o quinto episódio da minissérie. Ainda que esta seja uma das mais marcantes características de Arquivo X como um todo, não esperava encontrá-la aqui, em uma minissérie de apenas seis episódios. Teria sido preferível que o dilúvio de informações de My Struggle tivesse sido diluído em dois episódios no lugar de atochar tudo em meros 44 minutos próximos de ininteligíveis somente para, no momento seguinte, tudo o que aprendemos novamente seja ignorado completamente (é como se O’Malley e Sveta jamais tivessem existido).

Duchovny e Anderson, apesar da sempre ótima química, parecem cansados aqui, como se não aguentassem mais encarnar os personagens que os revelaram para o mundo. Parece faltar vigor a Duchovny, que não se esforça para mostrar qualquer tipo de empolgação em seu personagem, que mais parece um senhor aposentado que tem que ser empurrado para longe de seu confortável sofá em frente à televisão. E Anderson, apesar de sempre bela e com presença marcante, não apresenta nem um semblante da força que mostrou durante a série normal ou em seu ótimo trabalho recente em The Fall. Os dois estão no automático e olhe lá.

Gostaria de poder dizer que o que importa é que Mulder e Scully estão de volta, mas a grande verdade é que talvez tivesse sido melhor que a dupla permanecesse aposentada, com cada ator seguindo sua vida profissional própria. Não que o retorno da série seja imprestável – não é nem de longe -, mas parece-me um colcha de retalhos mal costurada para ganhar uns trocados vendendo nostalgia. Espero, porém, que os próximos quatro episódios apaguem essa impressão e eu seja forçado a me retratar em futuro próximo. Mas alguma coisa me diz que dificilmente isso acontecerá…

ps. A avaliação em estrelas acima é uma média dos dois episódios. Dou 2 estrelas para My Struggle e 3 estrelas para Founder’s Mutation.

Arquivo X – 10X01 e 10X02:  My Struggle / Founder’s Mutation (EUA, 2016)
Criador e showrunner:
Chris Carter
Direção: Chris Carter (10X01), James Wong (10X02)
Roteiro: Chris Carter (10X01), James Wong (10X02)
Elenco: David Duchovny, Gillian Anderson, Mitch Pileggi, William B. Davis, Joel McHale, Annet Mahendru, Doug Savant, Rebecca Wisocky, Omari Newton, Aaron Douglas, Vik Sahay, Ryan Robbins, Christine Willes, Kacey Rohl
Duração: 44 min. (cada episódio)

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