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Crítica | Arrow – 6ª Temporada

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Tenho certeza que aqueles que acompanham minhas críticas das temporadas de Arrow estão com os olhos arregalados no momento, incrédulos depois de verem a quantidade de estrelas que acabei dando para a 6ª. Mas é o trabalho do crítico: ele precisa dar sua opinião quando uma série é ruim, mas também precisa reconhecer quando ela melhora. E foi o que aconteceu aqui, em uma surpresa que realmente não esperava mais a essa altura do campeonato. Se Arrow chegou ao fundo do poço com a 4ª temporada e, lutando muito, alcançou apenas a mediocridade na , a série de Greg Berlanti, Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg conseguiu chegar a seu ponto mais alto até agora, ultrapassando até mesmo a razoavelmente boa temporada inaugural, a única que, até agora, podia ser classificada dessa forma.

Como isso foi possível? Acho que a resposta é muito simples e pode ser resumida em uma palavra só: foco. No lugar de perder tempo com aqueles insuportáveis flashbacks que, se faziam sentido no começo, já haviam perdido completamente sua utilidade, o que temos aqui são episódios com boa concatenação, que usam sua duração de maneira homogênea, sem usar bengalas narrativas como essa. Além disso, a temporada toda conta uma história só dividida em dois arcos bem definidos, com bons vilões nos dois, um sendo o “sucessor” natural do outro. Outro aspecto importante é que a dinâmica – e a cisão – do Team Arrow é trabalhada com alguma organicidade, criando conflitos internos relevantes e que não se resolvem magicamente, de um episódio para o outro. E, finalmente, emudecendo e colocando de lado os enlouquecedores momentos de “amorzinho” entre Oliver e Felicity, temos a trama familiar de Oliver como pai, defendendo e aproximando-se de seu filho.

Se os três episódios iniciais são difíceis de aturar – demorei dois meses para passar por eles! – por não conseguirem se achar e por desenvolverem de maneira extremamente atabalhoada as consequências do plano master-vilanesco de Prometheus na temporada anterior, o restante flui com uma certa facilidade, com bem menos fillers do que a média das quatro temporadas anteriores e com bons encaixes narrativos que afastam os clássicos dénouements de sete ou oito minutos que sempre marcaram a série, substituindo-os por roteiros que não deixam o ritmo cair e não encapsulam cada episódio nele mesmo.

Melhor ainda, o clímax explosivo em Lian Yu gera efeitos duradouros na equipe e é usado de forma orgânica ao longo da temporada. O primeiro desses efeitos é a morte de Samantha, a mãe de William, filho de Oliver. Sem ela, o Arqueiro Verde passa a ter o garoto integrado de forma completa em sua vida, e a temporada não simplesmente o descarta quando conveniente, fazendo Oliver até mesmo largar o manto de vigilante para cuidar do jovem, passando-o para o sempre fiel John Diggle. Falando aliás no ex-guarda-costas de Oliver, John sofre efeitos físicos depois das explosões, o que afeta seus nervos e sua habilidade de ser Spartan e até mesmo o Arqueiro Verde, fazendo-o com que, orgulhosamente, ele esconda a condição do grupo e envolva-se com drogas ilegais vendidas pelo traficante mequetrefe Ricardo Díaz (Kirk Acevedo), preparando o caminho futuro que esse vilão trilharia. Finalmente, a ilha também aproxima a Laurel do Mal de seu pai Quentin, depois que ele a salva e mantém isso também guardado a sete chaves. Cada um desses pontos ganha desenvolvimento digno ao longo de grande parte ou toda a temporada, minimizando algo que era comum anteriormente, ou seja, as resoluções-relâmpago que introduziam um problema e o resolvia no intervalo de minutos (ou de um ou dois episódios) sem que houvesse tempo de maturação.

Não se enganem, porém. Arrow continua com seus maneirismos, mas eles estão mais domados nesta temporada, como se os showrunners tivesse saído da adolescência e chegado à vida adulta de uma hora para outra, entendendo que a fotografia escura por si só não torna sombria uma série. Mas os problemas estão lá, a começar das sequências de luta pouquíssimo inspiradas e uma câmera enlouquecidamente frenética nas sequências de ação. Há uma tentativa de sofisticação com o uso até bastante constante de planos-sequência alongados mostrando um trabalho técnico acima do medíocre, mas elas não só não têm função narrativa, estando lá apenas para servir de enfeites, como também artificializam cada pancadaria, revelando-as mais ainda como elas são, meros passos de balé com gente vestida de couro e empunhando flechas, varas, bolinhas voadoras (sério, esses gadgets do Senhor Incrível conseguem ser mais ridículos do que o próprio personagem…) e pistolas (outra coisa que não entendo: quer dizer então que o Arqueiro não mata mais, mas seus amigos podem sair fuzilando os bandidos???).

Além disso, a temporada é indecisa na forma de abordagem de alguns personagens. Oliver, que  se divide entre filho, prefeitura e vigilantismo, larga seu “trabalho noturno” de lado depois de prometer ao filho que ele é a prioridade, mas não se faz de rogado em viajar para os confins de um país fictício juntamente com o sempre bacana Slade Wilson para resgatar o filho de seu amigo. E, como se isso não bastasse, ele volta a ser o Arqueiro praticamente sem pestanejar ou dar satisfações ao filho, revelando até mesmo que ele é possessivo com o uniforme verdejante. Mas as inconsistências existem também com Dinah, que parece tomar posições antitéticas a praticamente cada episódio e também com o próprio John Diggle, também pai de família, mas que, por uma razão que realmente me foge, quer porque quer vestir o manto de Arqueiro Verde e bate o pezinho e faz beiço quando Oliver tira o pirulito da mão dele. Chega a ser dolorosamente ridículo.

E nem vou perder tempo falando de Felicity, pois a personagem realmente não tem jeito. Ela é a maior muleta da série, já que a loira falastrona é uma especialista em praticamente tudo que existe. Ou melhor, especialista não, uma sumidade. Qualquer sistema pode ser hackeado em questão de segundos (sim, segundos) e ela conhece de composição de bombas até engenharia quântica. Não duvido nada que, se ela pegar um arco e flecha, saberá atirar melhor  do que o próprio Arqueiro Verde também.

Ocorre que esses vários problemas que persistem ao longo da temporada ficam em segundo plano diante da já mencionada estrutura de história única que, se não é exatamente uma novidade, ganha contornos bem mais lógicos por intermédio de roteiros de efetivamente fazem sentido dentro da estrutura que a série precisa carregar para não trair seu legado. Com isso, a história começa com um mirabolante plano de vingança colocado em movimento por Cayden James (Michael Emerson), o master-hacker que Felicity ajudara a libertar na temporada anterior, para desacreditar Oliver Queen e, em última análise, vingar-se dele pela morte de seu filho. Sim, mais uma vez os showrunners recorrem às ameaças de destruição de Star City  (deve ser obrigação contratual deles, pois vou te contar…), mas o importante é que Cayden é apenas uma escada para Ricardo Díaz que, no começo, fica nas sombras, mas que, lá pelo episódio 13, começa a mostrar sua cara, em um plano ainda mais sofisticado – e cheio de peças móveis que simplesmente temos que aceitar com uma boa dose de suspensão de descrença – para tornar-se um chefão do crime. É com Díaz que  a série realmente deslancha, já que é por intermédio de sua interferência direta na narrativa que a sub-trama que  lida com a investigação federal contra Oliver Queen para provar que ele é o vigilante começa a pagar dividendos.

Tanto Michael Emerson quanto Kirk Acevedo estão muito bem em seus papeis vilanescos, o primeiro com toda aquela sua forma ameaçadoramente suave que ele empresta a seus personagens e o segundo vestindo uma capa de “vilãozinho porcaria” que logo é trocada por algo bem mais complexo e cheio de motivações passadas que emprestam urgência e real senso de ameaça a tudo o que ele faz. Aliás, até mesmo Katie Cassidy mostra que não é só um rostinho bonito ao trabalhar com alguma complexidade sua personagem dividida entre ser uma vilã assassina e filha “postiça” de um pai cheio de amor para dar, no caso, claro, Quentin Lance, vivido por Paul Blackthorne, também conhecido como o único realmente bom ator do núcleo fixo da série, e cuja morte, na temporada, será muito sentida futuramente.

Com um final que muda o status quo da identidade nada secreta de Oliver e que mantém vivo o grande vilão – algo que realmente não esperava e que é uma potencialmente ótima notícia para o que vier por aí – a 6ª temporada de Arrow é um quase inacreditável oásis de qualidade em comparação com tudo o que veio antes. No entanto, a temporada não é, sozinha, justificativa suficiente para, quem não acompanha a série, começar agora tendo que aturar os torturantes anos anteriores. Por enquanto, esse ressurgimento das cinzas que testemunhei aqui deve ser visto como uma exceção que confirma a regra do que é Arrow. Se o jogo virou de verdade, só o tempo dirá.

Arrow – 6ª Temporada (EUA, 12 de outubro de 2017 a 17 de maio de 2018)
Showrunners: Greg Berlanti, Marc Guggenheim, Andrew Kreisberg
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Stephen Amell, David Ramsey, Willa Holland, Paul Blackthorne, Emily Bett Rickards, Echo Kellum, Rick Gonzalez, Joe Dinicol, Juliana Harkavy, Manu Bennett, Collin Donnell, Colton Haynes, Josh Segarra, Kathleen Gati, Michael Emerson, Kirk Acevedo, Katie Cassidy
Duração: 1056 min. (23 episódios)

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