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Crítica | As Aventuras do Príncipe Achmed

Excelência e encanto em uma animação de 1926.

por Luiz Santiago
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A história do cinema é uma grande aventura para quem se destina a estudá-la, reservando aos cinéfilos e estudiosos uma boa quantidade de tesouros inestimáveis pelo caminho. Os gêneros cinematográficos constituem, é claro, um importante capítulo dessa aventura, e a animação é, certamente, um dos mais interessantes. Foi em pesquisa ao gênero que eu me deparei com uma adaptação dos contos das Mil e Uma Noites, o filme As Aventuras do Príncipe Achmed (1926)¹, sexto filme da diretora alemã Lotte Reiniger, uma pioneira no uso da animação em sombras chinesas, e autora deste que é considerado o primeiro (ou segundo)² longa-metragem de animação da história do cinema.

As Mil e Uma Noites já é, como elemento cultural e produto literário, uma aventura deliciosa e cheia de imprevistos, acontecimentos inusitados, magia, fuga e retratos sociais e simbólicos diversos. Na arte de Lotte Reineger, esses contos se tornam verdadeiras epifanias. A maneira um pouco ilusionista com que a diretora realiza suas produções confere a cada quadro um espetáculo individual, principalmente pela coloração geral das cartelas e mudanças desses filtros de cor, ao indicar se estamos em um espaço interno ou externo; ou alteração da atmosfera, temperatura e tensão dramática das cenas. Além disso, é com uma perfeição inacreditável que vemos as figuras recortadas em cartolina preta movimentarem os dedos, a boca, o corpo. Não só um trabalho de extrema paciência, mas também de grande perfeccionismo poderia dar origem a um filme assim.

A animação contém todo tipo de personagem e possui romance, traição, maldade e diversos outros temas caros à sua origem literária. Até Aladim aparece como um dos personagens principais, já na parte final da película, que é dividida em vários atos com focos narrativos bem diferentes, inclusive nas problemáticas tratadas pelo roteiro. A música de Wolfgang Zeller (responsável por outra genial trilha sonora, em 1932, para o filme O Vampiro, de Carl Th. Dreyer), é uma sinfonia tão intensa quanto a história narrada. A fotografia de Carl Koch (que colaboraria futuramente com Renoir em diversos departamentos) cria dimensões impressionantes para uma animação de 1926.

A improbabilidade de algumas sequências não impede que o espectador aprecie com enorme prazer essa obra-prima da animação. As Aventuras do Príncipe Achmed é um filme completo, tecnicamente impecável e muito divertido. Em pouco mais de uma hora, consegue se impor como uma obra necessária para todos os cinéfilos e admiradores do gênero. Um filme definitivamente imperdível e coluna central para o estudo da História do Cinema animado.

1 – O filme demorou três anos para ser concluído, portanto, é comum encontrarmos algumas fontes citando-o entre 1923-1926.

2 – Na verdade, o primeiro longa-metragem de animação do cinema foi o argentino El Apóstol, de 1917, dirigido por Quirino Cristiani. O filme tinha 70 minutos de duração, mas foi completamente perdido em um incêndio, em 1926. Depois desse, o longa-metragem de animação mais antigo que se tem notícia é este, As Aventuras do Príncipe Achmed.

As Aventuras do Príncipe Achmed (Die Abenteuer des Prinzen Achmed) – Alemanha, 1926
Direção: Lotte Reineger
Roteiro: Lotte Reineger
Duração: 65min.

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