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Crítica | As Destemidas Defensoras (2013)

por Fernando Campos
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De todas as equipes da Marvel, uma das mais voláteis é a dos Defensores. Apesar de ter sido fundado por Doutor Estranho, Surfista Prateado, Hulk e Namor, o time não possui membros fixos; para ser um defensor, basta alguns heróis reunirem-se e nomearem-se, pronto. Devido a isso, houveram várias formações diferentes, no entanto, certamente, uma das mais interessantes foi formada, apenas, por heroínas, chamadas As Destemidas Defensoras.

Após a asgardiana Valquíria falhar em uma tarefa imposta pelas Mães Supremas, um grupo de guerreiros mortos ressuscita e começa a atacar um grupo de arqueologistas, na Terra, obrigando a asgardiana a impedi-los. Durante a batalha, ela luta ao lado de Misty Knight e a Doutora Annabelle Riggs. Após derrotarem os guerreiros, as três partem para Asgard, na tentativa de resolver o problema causado por Valquíria. Durante a jornada, elas conhecem outras heroínas, resultando no surgimento de um novo grupo, As Defensoras.

Como a própria premissa sugere, As Destemidas Defensoras é uma celebração às personagens femininas da Marvel. Portanto, tanto a equipe de heroínas quanto a de vilãs são compostas por mulheres, restando aos homens o papel da capangas. Mais do que isso,a HQ mostra como a editoria possui uma rica galeria de heroínas, mesmo que, muitas vezes, as personagens do sexo feminino sejam subestimadas por alguns escritores.

Mas o que torna As Destemidas Defensoras ainda mais interessante, é a discussão aberta sobre empoderamento feminino. O problema que obrigou as Defensoras a reunirem-se foi o fato de Valquíria não ter reunido um time de heroínas, uma ordem dada pela Mãe Suprema. Repare, por exemplo, como a asgardiana, em alguns momentos, se imagina em uma chuva de sangue, sentindo o peso da morte de inocentes. Ou seja, a falta de união feminina resultou em uma série de problemas e também é assim, no mundo real; enquanto as mulheres não unirem-se para lutar por seus direitos, continuaremos tendo um sistema desigual, misógino e machista.

Garotas, unam-se

Garotas, unam-se!

Mesmo que, durante o arco, apareçam diversas heroínas do universo Marvel, desde personagens sem expressão, como a Tundra, até as mais tradicionais, como a Viúva Negra, a base da equipe é: Misty Knight, Valquíria, Hipólita e a Dr. Annabelle Riggs. A interação entre elas, por si só, já vale a leitura, uma vez que é divertidíssimo acompanhar as diferenças entre uma personagem desbocada e sem meias palavras, como Misty Stone, com uma que utiliza o linguajar refinado asgardiano, como Valquíria; ou contraste entre Hipólita e a doutora Annabelle, uma extremamente orgulhosa e a outra bastante insegura. Além disso, há um belo romance entre Annabelle e Valquíria, mostrando nuances da personalidade cada uma. Só é uma pena que algumas personagens, como Dani Moonstar, ou até mesmo a vilã Caroline LeFay, nunca atendam as expectativas criadas sobre elas.

Falando nisso, a HQ mostra-se ainda mais preocupada com temas atuais ao mostrar, com naturalidade, a homossexualidade. Há, nesse arco, vários momentos em que personagens se beijam e, inclusive, sugerem ter relações sexuais. Aliás, logo na primeira edição, a homossexualidade de Annabelle é mostrada, com naturalidade, resultando em um dos momentos mais marcantes da história, o beijo entre ela e Valquíria, que, aliás, serve como base para uma parte importante da trama, o momento que dividem o mesmo corpo, após uma passagem por Valhalla.

O beijo entre Annabelle e Valquíria.

Porém, a HQ não resume-se apenas à abordagem sobre feminismo e homossexualidade, pelo contrário, o arco é divertidíssimo. Há aqui grandes sequências de ação. A edição #5, por exemplo, é um prato cheio para quem gosta de momentos épicos, sendo movimentada do início ao fim, aliás, nessas situações, os planos são sempre abertos, dando maior plasticidade e grandiosidade às lutas. Ademais, a trama é repleta de humor, com destaque para a hilária edição #9, que faz um contraponto entre heróis e heroínas, destacando que, enquanto eles estavam no bar, “chorando as pitangas” por seus insucessos amorosos, elas estavam na rua salvando a cidade.

Essa proposta leve pode ser reparada na arte de Willian Sliney, desenhando de maneira detalhista, ressaltando a beleza e diversidade das personagens, com muitas cores e uma constante luz iluminando-as. Além disso, é importante ressaltar que as heroínas não são retratadas de maneira apelativa. As personagens utilizam seus uniformes apertados mas, em nenhum momento, surgem em poses sensuais para agradar o público masculino, destacando a consciência do desenhista com seu material.

Para finalizar, quando Valquíria é consumida pela raiva e torna-se Brunhilda, a Dama do Ódio, ela espanca todos a seu redor, principalmente pela traumática relação com seu pai, Odin, que a criou de maneira bruta. Dona de um poder enorme, parecia que todas as heroínas seriam aniquiladas, visto que não tinham chance alguma na luta. No entanto, Annabelle, com coragem e amor, conseguiu evocar novamente a alma de Valquíria e salvá-la de seu próprio ódio. Essa parte da história, serve como uma interessante alegoria dos tempos atuais, uma vez que, por mais que seja desmotivante ver uma sociedade com tanto ódio, preconceito e intolerância, no fim, a única coisa que pode salvar tantas pessoas ruins, é o amor.

As Destemidas Defensoras (Fearless Defenders) – EUA, 2013/2014
Roteiro: Cullen Bunn
Arte: Willian Sliney (#1 a 3, #5 a 6, #8 a 12), Phil Jimenez (#4), Stephanie Hans (#7)
Arte-final: Willian Sliney (#1 a 3, #5 a 6, #8 a 12), Karl Kesen (#4), Aaron McConnell (#4), Stephanie Hans (#7)
Cores: Veronica Gandini (#1 a 3, #5 a 6, #8 a 12), Antonio Fabela (#4), Stephanie Hans (#7)
Letras: Clayton Cowles (todas)
Capas: Mark Brooks, Milo Manara, Mike Deodato, Skottie Young, Phil Jimenez, Antonio Fabela, Paul Mounts, Amanda Conner
Editoria: Ellie Pyle, Tom Brevoort

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