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Crítica | As Vantagens de Ser Invisível

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Though nothing, will keep us together
We could steal time, just for one day

Se fôssemos anotar a quantidade de filmes sobre adolescência lançados nos últimos vinte anos precisaríamos de cadernos e mais cadernos e mesmo assim não conseguiríamos listar todos. Poucos, contudo, captam tão bem a explosão emocional dessa faixa etária de forma tão precisa quanto As Vantagens de Ser Invisível, dirigido e roteirizado pelo mesmo escritor do romance original, Stephen Chbosky, o que já é digno de nota, considerando que são poucas as vezes que uma adaptação encabeçada pelo próprio autor que acaba se sobressaindo e o que recebemos é tão bom quanto o material fonte.

Charlie (Logan Lerman) é um jovem que sofre de depressão e acaba de entrar no ensino médio. Temeroso em relação a esse novo estágio de sua vida, ele acaba se tornando praticamente invisível, socialmente excluído, até conhecer Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), dois alunos do último ano que o acolhem em seu círculo de amigos. O filme, a partir daí, lida com a melhoria psicológica de seu protagonista em paralelo com os típicos dramas adolescentes, em especial sua paixão por Sam, que o leva em uma montanha russa emocional que nos deixa ao mesmo tempo ansiosos e receosos pelo que está por vir.

É impressionante como o roteiro de Chbosky consegue colocar em imagem a instabilidade de Charlie, são situações comuns a todos nós, mas há tamanha sinceridade no que assistimos que não conseguimos deixar de ficarmos vidrados na tela. Ao mesmo tempo, ele lida com a depressão do personagem de maneira assustadoramente realista e aos poucos nos revela mais das causas da doença, trazendo um plot twist angustiante que tira o longa-metragem do comum e o coloca muito acima da média. As questões abordas são um choque de realidade e a forma como são retratadas fazem desta uma obra que merece e deve ser assistida por qualquer adolescente – mesmo o uso de drogas, primeiro mostradas com seus bons efeitos colaterais mostram seus malefícios mais adiante na projeção.

A direção de Stephen também chega a surpreender, especialmente em virtude de sua pouca experiência com os longas. Ao adotar um foco subjetivo em Charlie, ele consegue nos transportar para dentro de seu protagonista. Quando está sozinho, nos sentimos sozinhos, quando está rodeado de amigos, nos sentimos no calor desse círculo social. Mesmo sua angústia, timidez (como quando está prestes a dançar ou beijar alguém) trazemos para nos próprios e não podemos deixar de lembrar de nossas próprias experiências, que fizeram, para alguns, o ensino médio uma verdadeira maravilha e para outros uma tortura indescritível. A beleza de As Vantagens de Ser Invisível está aí, em seu caráter eterno – não importa em que década vivemos, sempre passaremos por situações parecidas, pois, apesar das mudanças tecnológicas e filosóficas, o ser humano continuará sendo o que ele é: uma mistura de incertezas, emoções, sentimentos que podem gerar coisas verdadeiramente maravilhosas e coisas terríveis.

Sequer mencionar o trabalho de atuação do trio principal, Logan, Emma e Ezra, seria uma grande injustiça de minha parte. Miller faz um trabalho que nos choca especialmente em virtude de seu longa anterior, Precisamos Falar Sobre o Kevin – de psicopata ele passa para um jovem engraçado, divertido e bastante descontraído. Sabiamente, Chbosky utiliza o personagem para abordar a questão da homossexualidade em uma sociedade ainda muito preconceituosa e praticamente grita para o espectador: seja você mesmo, não se esconda, mostrando que a árdua tarefa de se revelar pode tirar um peso de suas costas. Watson, por sua vez, carrega uma dose emocional gigantesca, ela vive claramente a incerteza de sua personagem, é uma mulher cujo futuro está para ser decidido e isso faz com que não consiga lidar com outros aspectos de sua vida direito – mesmo ela colocando Charlie em uma terrível posição, não podemos deixar de nos afeiçoar por Sam e entender seu lado, tamanha é a sinceridade de Emma em seu trabalho, que já se destacara no decorrer da franquia Harry Potter. Lerman, por sua vez, é o que conta com a maior responsabilidade: deve viver uma mistura de tristeza, alegria, raiva, paixão e arrependimento, ao mesmo tempo que cativa o espectador e nesse quesito ele consegue de forma que qualquer um que tenha passado por algo parecido irá aplaudir o garoto.

A trilha musical também não deixa a desejar e, ao contrário de muitos filmes do gênero que vemos por aí, não cai no erro de colocar uma música famosa a cada momento dramático. Temos aqui um claro exemplo de como menos é mais através do uso de Heroes, de David Bowie, que sumariza perfeitamente a jornada pela qual o protagonista passa. Além do trecho colocado no início da crítica, que bem representa sua relação com Sam, Bowie escreveu a música em sua fase de Berlim, para onde fora para se recuperar de seu vício nas drogas – a canção, no filme, portanto, simboliza a vitória do personagem principal sobre sua depressão.

Apesar de todos as qualidades, o filme ainda cai em um pequeno deslize normal para adaptações de livros que seguem uma estrutura de diário ou carta. Ao trazer uma narração em off constante, muitas vezes temos uma simples constatação de fatos que já vemos em tela, o que acaba tirando o efeito dramático de alguns trechos. Felizmente aqui, o caso é mais ameno que em A Culpa é das Estrelas, por exemplo, mas ainda assim prejudica o longa em determinados aspectos.

Dito isso, As Vantagens de Ser Invisível não deixa de ser um excelente filme, que serve para entreter, educar e nos lembrar de uma complicada parcela de nossa vida. Trata-se de uma abordagem madura e atemporal de problemas pelos quais passamos, um retrato sincero de como um jovem pode se recuperar de traumáticos eventos e passar a viver sua vida de fato e a uma prova de como a amizade e o amor podem tirar qualquer um de seus momentos mais sombrios.

As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower) – EUA, 2012
Direção:
 Stephen Chbosky
Roteiro: Stephen Chbosky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Dylan McDermott, Kate Walsh, Nina Dobrev, Paul Rudd
Duração: 102 min.

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