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Crítica | Asterix, o Gaulês

por Ritter Fan
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Toda a Gália está ocupada… Toda? Não! Uma pequena aldeia resiste bravamente ao invasor, numa região cercada por acampamentos fortificados dos romanos.

Asterix sempre teve um lugar especial em minha vida. Meu primeiro contato com as histórias do pequeno gaulês foi ainda antes de aprender a ler, com meu pai me contando suas aventuras para eu dormir. Por isso, não foi surpresa alguma que, quando aprendi o abcedário, passei a assaltar a coleção de álbuns do Asterix de meu pai, lendo e relendo todos eles vorazmente. E fico muito grato por isso, pois Asterix, de uma tacada só, criou meu gosto por quadrinhos, aguçou meu gosto por leitura em geral e me deixou extremamente curioso com a História do Mundo, especialmente a Egípcia, a dos Vikings e, claro, o Império Romano.

Criado pelos saudosos René Goscinny (roteiro) e Albert Uderzo, Asterix e sua turma foi à luz primeiro em forma seriada, na revista franco-belga Pilote, em 29 de outubro de 1959. A primeira história completa ganhou o simples título de Asterix, o Gaulês e ela nada mais é do que a compilação, em forma encadernada, naquele formatão lindo europeu conhecido como “banda desenhada”, das páginas da Pilote. Depois, Asterix passou a ser publicado diretamente nesses álbuns grandes, contando, hoje, com 38 deles, sendo 26 por Goscinny e Uderzo e oito somente por Uderzo, depois do falecimento de Goscinny em 1977. Agora, Asterix é escrito pela dupla Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, apontada como sucessora de Uderzo e que começou os trabalhos com Asterix entre os Pictos, em 2013.

Mas, voltando ao começo, a ideia de Goscinny e Uderzo era genial: aliar quadrinhos com aulas de história. Com essa premissa, eles trabalharam a ideia de que o Império Romano, comandado por Júlio César, havia dominado toda a Gália (França) com a exceção de uma pequena aldeia na região do que hoje é a Bretanha, lá pelos idos dos anos 50 a.C. O segredo para o sucesso dessa pequena aldeia é a poção mágica do druida Panoramix, que dá superforça a quem a bebe da mesma forma que o efeito do espinafre com Popeye. Asterix tem como melhor amigo um volumoso carregador de menires (enormes pedras cerimoniais) chamado Obelix. A vila, comandada pelo chefe Abracurcix ainda conta com personagens como o ferreiro Automatix, o peixeiro Ordenalfabetix, o bardo Chatotorix e o ancião Veteranix, só para citar alguns.

Nessa primeira história, Goscinny estabelece as regras, focando especialmente na poção mágica. Todos dependem dela para manter longe os romanos dos acampamentos fortificados que cercam a vila. A exceção é Obelix que, como logo aprendemos, caiu no caldeirão da poção quando pequeno e, com isso, seu efeito tornou-se permanente. No entanto, apesar de apresentar a vila e seus principais habitantes nas primeiras páginas, Goscinny logo dá um jeito de fazer com que Panoramix seja sequestrado pelos romanos de Petibonum (um dos acampamentos fortificados que cercam o local) para que, sob tortura (limitada a cócegas nos pés com uma pena), conte o segredo da poção. Com isso, Asterix – e apenas ele – vai ao resgate do druida e, usando sua astúcia, passa dias no acampamento infernizando a vida dos coitados dos romanos.

A história é simples, mas muito eficiente. Apesar da natureza originalmente serializada, a narrativa é fluida e não se socorre de repetições de situações ou reapresentações de personagens. Além disso, como os gauleses se resumem a Asterix e Panoramix por boa parte da história, temos tempo para aprender sobre a personalidade de cada um e apreciar os divertidos nomes romanos dos legionários (como Calígula Minus) e as diversas brincadeiras com o latim, que se tornaria marca registrada de todos os volumes.

Ainda não vemos, portanto, a sana espancadora de Obelix, que viria já no volume posterior e Ideiafix, o inseparável companheiro canino de Obelix. Até mesmo Chatotorix amarrado na festa comemorativa final está ausente, ainda que já seja estabelecido que o bardo é um péssimo cantor.

Os desenhos de Uderzo são belíssimos, ainda que não em sua forma final ainda. Apesar de todos os homens gauleses terem bigodes e cabelos compridos, cada um tem sua personalidade e seus traços bem definidos. O mesmo vale para os legionários romanos que, apesar de imberbes, tem elmos e mesmo assim conseguimos identificá-los sem dificuldade e por mais efêmera que seja sua passagem na história (normalmente apanhando de algum gaulês). Além disso, Uderzo sabe preencher os quadros com informação suficiente para nos posicionar na história sem a ajuda de textos, além de incluir um sem-número de gags visuais em cada página, que só acrescentam ao texto esperto de Goscinny.

Asterix é um prazer narrativo e visual como poucos. Uma grande criação, que já começou sua vida editorial em altíssimo nível, abrindo caminho para um sensacional passeio histórico pelo então vastíssimo Império Romano e até mesmo pelo Nova Mundo. Uma maravilha, por Tutatis!

  • Crítica originalmente publicada em 29 de outubro de 2014. Revisada e atualizada para republicação hoje, 25/03/2020, como parte da versão definitiva do Especial Asterix do Plano Crítico.

Asterix, o Gaulês (Astérix, le Gaulois, França/Bélgica – 1959/1961)
Roteiro: René Goscinny
Arte: Albert Uderzo
Editora original: Pilote (serializada a partir de 29 de outubro de 1959 e lançada em formato encadernado em 1961)
Editoras no Brasil: Record e Salvat (ambas em formato encadernado)
Páginas: 50

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