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Crítica | Batalha em Elderbush Gulch e O Massacre (1914)

por Luiz Santiago
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Mesmo que tenhamos em mente a visão nada louvável com a qual se mostrava os índios nos primeiros westerns, é um tremendo choque assistir a Batalha em Elderbush Gulch, de D.W. Griffith, especialmente sabendo que o diretor já tinha mostrado os nativos de forma limpa de preconceitos em The Red Man and the Child (1908).

O roteiro deste curta, assinado por Griffith e Albert Phillips, apela para o mais íntimo sentimento do público, colocando em risco um bebê e dois filhotinhos de cachorro, estes últimos, caçados pelos índios (preguiçosos e cruéis) como alimento! No início do curta, os nativos chegam a fazer uma dança invocatória para os deuses mandarem cachorros para eles comerem.

Griffith já mostrava aqui o seu empenho em criar espetáculos chamativos, focando a batalha entre selvagens e colonos. Com a ajuda de Billy Bitzer, que acaba exagerando na quantidade e tamanho das íris ao redor da lente da câmera, o diretor consegue prender o público através de uma forte tensão conseguida pela montagem e pela grandiosidade das filmagens, mesmo que haja aí uma série de erros de posicionamento de câmera ou percepção do ator em relação a um determinado objeto (em dado momento, uma das órfãs olha por uma pequena janela aberta na parede de seu quarto e vê um grande campo de batalha que jamais poderia ser visto daquele ponto, já que a casa não estava no alto e nem tinha vista desimpedida).

Mesmo que seja concebido à moda épica, Batalha em Elderbush Gulch falha ao tentar mostrar um ataque indígena a uma vila de colonos pelo motivo mais banal e torpe possível. E isso sem contar a quase má-fé na aplicação da ideologia colonizadora. De qualquer forma, é um exemplo marcante de como os índios eram vistos em boa parte dos westerns no início de século XX, mesmo que haja um grande exagero na visão de Griffith aqui.

Batalha em Elderbush Gulch (The Battle at Elderbush Gulch) – EUA, 1913
Direção:
D.W. Griffith
Roteiro: D.W. Griffith, Henry Albert Phillips
Elenco: Mae Marsh, Leslie Loveridge, Alfred Paget, Robert Harron, Lillian Gish, Charles Hill Mailes, William A. Carroll, Frank Opperman, Lionel Barrymore, Harry Carey, Henry B. Walthall
Duração: 29 min.

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O Massacre (1914)

No caminho oposto à sua visão tenebrosa dos índios em Batalha em Elderbush Gulch, D.W. Griffith faz em O Massacre um exercício interessante sobre a culpa dividida entre colonos e nativos. Mesmo que ainda possamos ver preconceito no tratamento a eles, aqui, esta abordagem se entende contextualizadamente dentro de um período histórico, diferente daquela realizada pelo diretor no já citado Elderbush Gulch, um filme demonizador e de má-fé que sinceramente não entendo como Griffith teve coragem de dirigir.

Mais uma vez o diretor foca em um tema familiar como ponto de partida para a aventura – um soldado se casa com uma jovem e um tempo depois eles se mudam para terras distantes do oeste. Na travessia, o perigo se apresenta e ameaça a todos mortalmente –, investindo também nos admiráveis e recorrentes planos abertos sobre a pradaria, onde vemos uma grande batalha acontecer. A concepção é épica mas não sua constituição visual. A mensagem de guerra, todavia, é dada com competência.

O final do filme é impiedoso, apesar de atentar um pouco contra a boa vontade do público, algo que também não podia ser diferente, uma vez que chocaria demais matar a heroína e seu bebê em toda a carnificina. De toda forma, o título não é apenas um marketing barato, de fato há um terrível massacre e não é apenas homens maus que morrem.

Creio que dos primeiros westerns, O Massacre seja um dos mais corajosos na exposição de pilhas de mortos e grande violência de um ataque indígena mostrada na tela, coisa que sabemos ter sido uma espécie de tabu envernizado mesmo nas décadas posteriores.

O Massacre (The Massacre) – EUA, 1914
Direção:
D.W. Griffith
Roteiro: D.W. Griffith
Elenco: Wilfred Lucas, Blanche Sweet, Charles West, Alfred Paget, Lionel Barrymore, Robert Harron, Claire McDowell, Charles Craig, Edward Dillon, Charles Gorman
Duração: 29 min.

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