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Crítica | Bates Motel – 3ª Temporada

por Luiz Santiago
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estrelas 4

O estado mental de Norman Bates ganhou nesta 3ª Temporada de Bates Motel um patamar ainda mais grave, mais profundo, cada vez mais parecido com o que vemos em Psicose (1960) e, para falar a verdade, com o que veríamos em Psicose II (1983), Psicose III (1986) e Psicose IV – O Início (1990). Ampliando o escopo de semelhanças com o clássico de Hitchcock, trazendo os pontos mais densos do livro de Robert Bloch e criando em cima dessas bases uma série de coisas novas, algumas ruins e outras muito boas, os produtores da série conseguiram realizar uma ótima terceira temporada, com alguns erros, é verdade, mas intensa e forte em aspectos dramáticos.

Tendo em vista os dois anos que ainda restam — algo que pode mudar, obviamente, se o retorno para a A&E valer a pena investir em algo fora dos planos, pois Bates Motel foi pensada para ter apenas 5 temporadas –, podemos dizer que o ritmo dos acontecimentos e a composição do quadro mental, comportamental e afetivo de Norman em relação à sua mãe e às outras pessoas que o cerca ganha nuances interessantes e representadas com primazia por Freddie Highmore, que está muito seguro e simplesmente notável no papel, acompanhado de perto pela excelente Vera Farmiga.

Se atentarmos para as mudanças sutis ou as explosões de ódio que Norman tem ao longo dos 10 episódios — sendo a sua “atuação premiada” a do episódio 6, Norma Louise, que é também o melhor a temporada –, conseguimos aproximá-lo cada vez mais de Anthony Perkins, considerando a idade do personagem/ator, e isso torna o trabalho de Highmore ainda mais instigante para quem conhece a obra na qual a série se inspira.

O grande impasse desse ano foi a inserção de tramas que simplesmente não pertenciam ao corpo central da série e que nos impediram de aproveitar melhor o que de fato interessava. Veja por exemplo o tratamento dado a Bob Paris e seu Arcanum Club. Tudo relacionado a ele é exagerado, forçado e pouco crível dentro do que já era maduro no show e só aceitamos de fato essa parte da trama porque, querendo ou não, ela termina muito bem em Unconscious, servindo de impulso para o novo comportamento do Xerife Alex Romero, algo a ser melhor explorado na próxima temporada, assim como o resultado do transplante de Emma (se é que ela vai fazer); o futuro de Dylan e o futuro de Caleb, que voltou aqui de forma quase gratuita mas acabou se encaixando bem na história corrente. Não foi uma volta ideal, mas diferente do péssimo retorno de Bradley, uma distração com cara de “fechar bem todas as pontas”, Caleb recebeu boa exploração do roteiro e foi peça importante para desencadear sentimentos e instintos que nenhum outro personagem poderia fazer. Nada disso podemos dizer de Bradley.

Outros personagens como Annika, Chick e James possuíram tramas mais aceitáveis no montante da temporada, embora não tenham sido explorados como deveriam, especialmente James; ou, de outra parte, ganharam um destaque repentino para depois sumir do mapa, como no caso de Chick, que apesar de semi-descartável, contou com uma ótima atuação de Ryan Hurst.

A relação entre interior e exterior ao hotel ou a visita a lugares diferentes de White Pine Bay sempre receberam boa atenção nas temporadas anteriores, mas aqui existe um significado ainda maior ao mostrar ou explorar esses lugares, algo que os diretores e os fotógrafos tiveram muito cuidado em preparar.

Como a história central está solidificada e muitíssimo bem guiada pela dupla principal — me espanta que Vera Farmiga não tenha sido indicada ao Emmy pela dobradinha Norma Louise e The Last Supper –, vemos que os diretores tentam brincar com a sensação de claustrofobia, de enclausuramento dos personagens, uma brincadeira que ganha contornos até nas formas mais comuns de espaços fechados, como dentro de um carro, um quarto ou um banheiro, por exemplo. Conseguem pegar as sementes estéticas e dramáticas de um futuro que já conhecemos?

Todas as pistas para um Norman Bates adulto estão fixadas aqui nesta 3ª Temporada. Facilmente perdoáveis pela forma como terminaram, os erros da temporada não foram tão absurdos como alguns espectadores gostam de salientar e reclamar, e a trama tem sim um caminho claro sobre o que quer e para onde está indo. O Finale da temporada, apesar de não ser brilhante, é bastante tenso e ajuda a aumentar a nossa curiosidade para o que vem a seguir. Como disse, não é brilhante, mas é bom. Norman não está mais tão escondido em relação aos seus atos e cada vez mais incorpora a mãe ou assume uma postura decisiva de enfrentá-la. O Inferno começa a tomar conta do pseudo-Paraíso de Norma e Norman Bates.

Bates Motel – 3ª Temporada (EUA, 2015)
Direção: Tucker Gates, Tim Southam, Christopher Nelson, Nestor Carbonell, Phil Abraham, Ed Bianchi, Roxann Dawson
Roteiro: Carlton Cuse, Kerry Ehrin, Steve Kornacki, Alyson Evans, Erica LipezScott Kosar, Philip BuiserBill Balas, Torrey Speer (baseado nos personagens de Psicose, de Robert Bloch).
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Max Thieriot, Olivia Cooke, Nestor Carbonell, Nicola Peltz, Kenny Johnson, Keenan Tracey
Duração: 45 min. cada episódio

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