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Crítica | Bates Motel 4X06: The Vault

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Spoilers!

Leiam as críticas dos demais episódios de Bates Motel aqui. E leiam as críticas para as várias versões de Psicose de Hitchcock aqui.

Em muitos aspectos, especialmente no enredo, The Vault é muito similar ao capítulo que o antecedeu, Refraction. Ocorre, porém, que a diferença entre os dois se dá justamente no ponto de ação que compartilham e que é diferente da linha mais física em cheia de confrontos diretos que marcaram esta temporada até o episódio quatro, Lights of Winter.

Tanto Refraction quanto The Vault compartilham uma linha narrativa mais plácida, analítica, elencando práticas psicológicas na tentativa de nos explicar melhor o problema de Norman e o alcance mental e corporal que ele tem — além do “produto final” disso, que é o assassinato e o travestismo vindo da dissociação de personalidade, claro. À medida que se aprofunda sem medo na origem do trauma psicológico sem deixar de mostrar picos cada vez mais intensos no comportamento de Norma e colocando duas frentes com um grande ponto de interrogação em Dylan, Caleb e Romero, vemos que alguns de nossos temores relacionados a esses personagens se dissipam e dão lugar a algo muito mais interessante, um frenesi que é bem mais a cara de Bates Motel.

Neste momento, vocês que vem acompanhando minhas críticas sobre esta temporada devem achar que enlouqueci, porque eu venho falando de um ponto de interrogação para Dylan e Caleb desde o episódio dois. Mas vejam, a coisa aqui é completamente diferente. Percebam que de forma extremamente sutil — e esse roteiro de Scott Kosar é uma aula de como fazer grandes coisas sendo sutil, a ponto de ser muito mais cruel e moralmente doloroso — as pontas soltas deste ano do show se encontram ou são relativamente cauterizadas; tudo vem à tona e é rapidamente problematizado de maneira orgânica no episódio, desenvolvido com o máximo de cuidado para chegar do outro lado com um grande suspense.

Coisas como a chave para o cofre de Bob Paris, Caleb e Chick que eram mistérios possíveis até aqui parecem encontrar um rumo correto, seja ele qual for, e sobra espaço para que o drama cresça a partir dessas ações. E é isso que faz de The Vault um episódio tão bom e tão superior ao anterior. Ele cresce em cima de tablados dramáticas que ou considerávamos perdido ou não víamos como poderiam ceder algo bom para a série à essa altura. Eis que vem um bom roteirista e coloca essas pequenas peças nos trilhos sem retirar Norman de seu mergulho pessoal, sem interromper a linha ‘Dylemma’ e, por outro lado, fechando ou dando novos rumos ao assédio de Chick em relação a Norma e a Romero uma das posturas e frases mais simples e sensacionais da temporada por tudo o que representa para o momento em que surge e para ele mesmo (Ok… Where are we going?) e preparando o caminho para algo que sabemos que será ruim mas que não temos ideia do que pode ser. Só sabemos que está relacionado a Norman. E o ciclo se fecha, porque voltamos a ele.

Será completamente absurdo se Freddie Highmore não for lembrado ao menos nas indicações em massa para os prêmios de TV que contemplarão a temporada 2016-2017. A entrega do ator ao papel, a delicadeza e quantidade enorme de detalhes que traz para sua atuação e a excelente transformação que ele faz entre as duas personalidades — a ponto de o diretor optar por não usar trilha sonora no momento… apenas um leve manear de cabeça já nos indica a presença de Norma tomando a personalidade do filho. Pensem o quanto isso é poderoso. — e a ligação que o texto e os figurinos faz dele com a mãe, mesmo estando distantes, é algo que dá orgulho para qualquer espectador e que deve ser lembrado nas premiações da temporada. Todo o elenco dá um verdadeiro show e cena, mas Freddie Highmore e Vera Farmiga estão simplesmente imbatíveis.

Entre o equilíbrio, a ameaça suspensa e toda a melancolia que os tons verde e azul da fotografia mais a claustrofobia que o diretor Olatunde Osunsanmi nos indica entre o passado e o presente representados neste episódio (destaque dessa escolha para a sala do Dr. Gregg e toda a origem do trauma de Norman que conhecemos através de sua regressão), o espectador percebe o quão profundo Bates Motel pode mergulhar. Há momentos de intenso desconforto moral e até físico ao tratar de temas tabus neste episódio (a cena final, com Norman pegando na mão da mãe enquanto… bem, vocês sabem… me destruiu por completo), situação que torna o que já era complexo em algo ainda mais difícil de se julgar ou pensar a respeito. O espectador não aprova, mas passa a entender, de verdade e não apenas na superfície, o que move o perturbado Norman Bates.

Bates Motel 4X06: The Vault (EUA, 2016)
Direção: Olatunde Osunsanmi
Roteiro: Scott Kosar
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Max Thieriot, Olivia Cooke, Nestor Carbonell, David Cubitt, Damon Gupton, Ryan Hurst, Kenny Johnson, Jaime Ray Newman, Luke Roessler, Victoria Cruz
Duração: 42 min.

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