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Crítica | Bates Motel 4X08: Unfaithful

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Spoilers!

Leiam as críticas dos demais episódios de Bates Motel aqui. E leiam as críticas para as várias versões de Psicose de Hitchcock aqui.

Com que então Freddie Highmore não se contentou em entregar ao público interpretações aplaudíveis em Bates Motel. Ele precisava fazer algo mais. Algo como escrever o seu primeiro roteiro e, de sobra, transformá-lo em um dos melhores episódios da 4ª Temporada. Este é Unfaithful.

Depois do anúncio de tempestade visto em There’s No Place Like Home e considerando este momento da temporada, era de se esperar que entrássemos em um terreno de brigas e ameaças reais de coisas ruins que estão por acontecer. E em tudo isso é impressionante o quanto Highmore, que é marinheiro de primeira viagem em roteiros, conseguiu arquitetar os pontos centrais da história, dar sentido às pequenas linhas narrativas em andamento e acrescentar muito mais lenha à fogueira de ódio que Norman passa a arder em relação à sua amada mãe.

Tomemos por exemplo a encruzilhada de fidelidade (quase moral) na qual Rebecca é colocada. Sem saber, Romero está sob vigilância e há pessoas de dentro da força policial que querem sua cabeça, um fato que no passado havia sido indicado mas que tomou o caminho distanciado da investigação, saindo de cena. Essa suspeita volta agora dentro de um contexto propício e nos deixa em dúvida sobre qual será o verdadeiro ponto final do xerife, visto que Norman tem um modus operandi bastante específico em sua vontade de matar em nome da mãe e, com essa investigação, o casamento que Norma tanto batalha para manter — ela realmente gosta do xerife, pelo visto — está prestes a sofrer um “rompimento legal”.

Ainda nesta linha, vemos o diretor Stephen Surjik guiar o drama através de contrapontos, valendo-se menos da montagem e mais de ações em planos um pouco maiores ou sequências que ganham par minutos depois, uma continuidade que se harmoniza bem ao tom que Freddie Highmore imprimiu em seu roteiro, o tom do confronto pelo poder.

Existe uma camada um pouco escondida no episódio, por suas muitas simbologias, que é a batalha (que sabemos estar perdida para um dos lados) por atenção, amor e por estar no controle de tudo. Em temporadas passadas nós observamos que Norma expunha isso na forma como guiava Norman e às vezes Dylan. Mas os filhos cresceram e ela se tornou mais defensiva, sustentando algumas opiniões e agredindo através do tom de voz, palavras ou gritos quando se sente ameaçada de alguma forma (lembram-se do recente caso da janela?). Mas as coisas vão de um jeito que entendemos que isto não é o bastante. Norma, todavia, não sabe ou não quer perceber isso — vejam como ela mente para si mesmo ao encontrar Dylan na rua e falar sobre Norman –, e este episódio é uma tentativa da personagem se agarrar a um último refúgio recente, daí o corajoso confronto com o filho, com interpretações bárbaras de Highmore e Vera Farmiga.

Indícios metafóricos do texto e da direção de arte nos dão pistas adicionais sobre o caráter do drama encenado, como o aquecedor da casa quebrado; os tons marrons e azuis que pontuam a fotografia do começo ao fim; e Norman enlouquecido brandindo o machado (símbolo fálico poderoso e ao mesmo tempo castrador) para cima de Romero. Nessa dualidade entre a frieza relacionada às decepções e desprezo e o calor relacionado ao amor e à raiva, temos os blocos dos personagens desenvolvidos como um caminho crítico para o final. Highmore foi muito inteligente em esquematizar os pontos centrais do episódio em tal medida que tudo se encaixasse. Pena que ele deixou uma ponta solta criada anteriormente, a presença de Caleb, que nesse mesmo sentido poderia ganhar um “rumo para o final”. Isso, no entanto, não tira o mérito do roteiro e nem a força que esse episódio teve.

Pela primeira vez temos uma briga entre Norma e Norman que nos indica um nível de raiva sem precedentes. Ambos se sentem ameaçados e ambos querem ter o poder da última palavra, querem controlar a situação. Norman percebeu que sua ameaça a Romero falhou e fingiu ao aceitar a realidade, mas a palavra é justamente essa: fingimento. Aqui, ele só é verdadeiro em suas exposições de raiva e pesar por crer ter pedido a ligação com a mãe. É chegado o grande momento. Estamos em um terreno que já esperávamos chegar. A inimizade passa a ganhar do amor entre os dois. Preparem-se, todos.

Bates Motel 4X08: Unfaithful (EUA, 2016)
Direção: Stephen Surjik
Roteiro: Freddie Highmore
Elenco: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Max Thieriot, Olivia Cooke, Nestor Carbonell, Craig Erickson, Jaime Ray Newman, Danny Mac, Sian Sladen
Duração: 42 min.

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