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Crítica | Batman: Ano 100

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Gotham City, 2039. Cem anos após a primeira aparição de Batman na cidade, o vigilante mascarado é novamente avistado. Desta vez, o herói de outrora é perseguido pelo suposto assassinato de um agente federal. Nas mãos do competente roteirista e desenhista, Paul Pope, revivemos em Batman Ano 100 uma história de grande similaridade ao Ano Um de Frank Miller, como uma nova introdução para o herói neste futuro distópico que, aos poucos, é formado.

As primeiras páginas da revista já nos jogam no meio da perseguição do herói pelos agentes federais. Com quadros inteiramente destinados a ações, sem diálogos, a não convencional arte já começa a chamar atenção. Ao invés de traços harmônicos, enaltecendo as condições físicas do herói, temos personagens distorcidos, admitindo não só expressões faciais, como diferentes formas, feições de acordo com o momento que se encontram. Quando parado, o Homem-morcego admite sua aparência mais comum enquanto que, em movimento, conta com uma maior distorção, recurso comum nas animações e que, nestas gravuras estáticas, garantem uma notável sensação de movimento.

Não é somente por essa razão, contudo, que Pope opta por determinado traçado. Através do desconforto gerado por tal retratação, o autor cria em nós a distinta percepção de que existe algo errado ali. Estamos em uma época desconhecida, sim, mas há algo por trás dessa perseguição ao Morcego. Cria-se, portanto, um diálogo claro entre o personagem principal e o leitor, ao passo que ambos passam a considerar a mesma possibilidade, ainda que o roteiro só trabalhe com essa possível “ameaça” nas entrelinhas. Aos poucos, é claro, descobrimos a verdade por trás do suposto assassinato, ao mesmo tempo que acompanhamos uma narrativa dual, focada em Batman e Jim Gordon ao mesmo tempo.

Neste ponto imagino que alguns devem ter sentido um estranhamento. Jim Gordon? Em 2039? Ele tem quantos anos, cento e quarenta? Não, o que vemos é apenas o neto do velho comissário de polícia. E sim, o roteiro desliza claramente nesse ponto ao colocar neste personagem o mesmo primeiro nome, além de uma aparência e personalidade idênticas. Um simples Gordon no sobrenome bastaria para criar o interessante paralelo criado entre esta e a história assinada por Frank Miller.

Run Batman, Run!

Run Batman, Run!

As referências à famosa graphic novel, porém, não param por aí. A roupa do Homem-morcego é a mesma de Ano Um, além de um uso similar de cores, que se apoia bastante nas cores primárias, utilizando constantemente a velha figura do herói nas sombras, com apenas seus olhos brancos a mostra. No caso temos a troca das tonalidades amarelas pelas vermelhas, denotando mais uma vez um iminente estado de calamidade daquela sociedade sombria.

Essa tensão deixada no ar tanto pela arte quanto pelo roteiro vai ganhando maior presença conforme avançamos nas páginas da revista. Passamos a enxergar ali um Estado policial, criando mais um interessante paralelo com as histórias dos anos iniciais do vigilante. No início a polícia era corrupta e vivia nas sombras da criminalidade de Gotham, agora é o total oposto, com um uso de força indevida. Ambas as situações, porém, pedem a intervenção de Batman e, cem anos após, vemos uma espécie de nova origem para o herói.

É através dessas comparações que Ano 100 se destaca, dialogando com, e referenciando, toda a longa história editorial do Homem-morcego. Trata-se de um roteiro simples, mas com detalhes nas entrelinhas que garantem a admiração do leitor, em especial aqueles que acompanharam a progressão do herói. Com uma arte sem igual, Pope consegue trazer o mesmo espírito de Ano Um, criando uma narrativa que se destaca por si só, não simplesmente permanecendo à sombra de gigantes.

Batman: Ano 100 (Batman: Year 100 – EUA, 2006)
Minissérie em 4 edições
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Roteiro: Paul Pope
Arte: Paul Pope
Cores: José Villarrubia
Páginas: 232

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