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Crítica | Batman Begins (Trilha Sonora Original)

por Lucas Nascimento
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estrelas 4,5

Eram tempos sombrios para o Homem-Morcego. Uma grande ironia, na verdade, pois o Morcego encontrava- se no limbo após ser ridicularizado no excessivo e cartunesco Batman & Robin, de Joel Schumacher. E para o reboot mais realista e maduro de Christopher Nolan, Batman era apenas reconhecido musicalmente por dois temas musicais: o da série de TV de Adam West composto por Neil Hefti e a icônica peça de Danny Elfman para os filmes de Tim Burton. Para servir à pegada mais sombria de Batman Begins, Nolan iniciava a gloriosa parceria com Hans Zimmer, além de contar com James Newton Howard.

A colaboração entre os dois era clara: Zimmer se concentraria na ação, enquanto Howard lidaria com os temas mais dramáticos. E antes de mergulharmos na análise da trilha em si, vale apontar a brilhante sacada da dupla ao batizar cada uma de suas faixas:

  1. Vespertilio
  2. Eptesicus
  3. Myotis
  4. Barbastella
  5. Artibeus
  6. Tadarida
  7. Macrotus
  8. Antrozous
  9. Nycteris
  10. Molossus
  11. Corynorhinus
  12. Lasiurus

Cada um desses atípicos nomes em latim referem-se a diferentes espécies de morcegos, e o observador mais persipcaz reparou que as iniciais das faixas 4 a 9 formam um nome… Enfim, apenas uma divertida brincadeira da dupla.

O estilo adotado aqui serve como um amálgama da própria personalidade dividida de Bruce Wayne, o que levou a dupla a um equilíbrio forte entre música clássica e eletrônica. O início de Vespertillio durante os logos iniciais já desperta com um som eletrônico absolutamente envolvente e sombrio, que remete diretamente ao som de uma capa sendo agitada ao vento, algo que vem a calhar nessa história de origem. Daí para frente, temos um expressivo uso de violoncelos e violinos. Ainda nesta faixa, temos o forte tema de sopros heróicos que acompanham a jornada de Bruce Wayne ao monastério de Ra’s Al Ghul. É uma música grandiosa que vai se construindo com uma nota forte de trompete e que evoca um senso de aventura épica fortíssimo, bem acompanhado pela percussão eletrônica.

O drama é um elemento que domina grande parte da produção, especialmente pelo trauma e formação de Wayne. Barbastella oferece uma peça triste e melancólica para o assassinato de Martha e Thomas Wayne – após uma apresentação imponente, mas que se move com toques de tragédia em Macrotus -, em uma combinação de cordas lentas, um leve coral infantil e notas delicadas de piano que ajudam o espectador a sentir a dor de Bruce em tornar-se um órfão. A faixa continua e acaba por tornar-se uma metáfora para todo o arco do personagem, aumentando a intensidade de sua percussão e retomando o tema épico de Vespertillio, para o momento em que um agora adulto Wayne revisita a caverna de morcegos, enfim abraçando as trevas.

Trevas é a próxima seção da trilha, que abraça esse caráter pertubador com Artibeus. É uma faixa bem experimental com estética abstrata e orgânica, formada a partir de sons distorcidos de cordas, sintetizadores e outros efeitos impossíveis de identificarmos. Ideal para a primeira atuação de Batman e seu considerável poder de intimidação em relação aos bandidos durante a captura de Falcone nas docas. Tadarida mantém esses elementos ao apresentar musicalmente o Espantalho, mas também abraça uma composição de cordas desesperada e trágica para as consequências do primeiro encontro entre o Cavaleiro das Trevas e o alterego de Jonathan Crane.

Quando entramos no campo da ação, Zimmer assume totalmente. A excelente Molossus é o tema central nesse quesito, aparecendo na perseguição do Batmóvel. É uma agitada percussão de batidas eletrônicas e tambores que vai construindo uma entrada de violinos maravilhosa e uma explosão de trompetes que grita bravura, certamente elevando o nível da cena e construindo uma espécie de padrão que seria fielmente seguido pelos próximos dois filmes – e, devo apontar, por outros compositores do gênero.

https://www.youtube.com/watch?v=-dGUdE1GoG4

Myotis Antrozous seguem essa mesma estrutura durante as lutas de Wayne contra a Liga das Sombras: a primeira delas durante sua rebelião no monastério e a segunda durante o clímax em Gotham. Cada uma delas trazendo diferentes acordes que enfim se juntariam para formar o tema principal do herói (principalmente na nota alongada de trompete em Antrozous) que ouvimos propriamente nos créditos finais.

Pode não ser uma música que abrace a força do ícone como a de Danny Elfman, mas o trabalho de Hans Zimmer e James Newton Howard é perfeito para o tipo de filme que Christopher Nolan quis fazer, complementando de forma orgânica sua abordagem sombria e realista. E é algo repleto de personalidade e originalidade, que só ficaria melhor nos próximos exemplares.

Batman Begins: Original Motion Picture Soundtrack

Composto e conduzido por Hans Zimmer e James Newton Howard
Gravadora:
Warner Bros. Records
Estilo:
Trilha Sonora
Ano:
2005

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