Obs: Contém spoilers dos números anteriores, cujas críticas podem ser lidas aqui. Leia também as críticas de todo o Millerverso de Batman, bem aqui.
Os atrasos constantes na publicação de Cavaleiro das Trevas III geram outros efeitos negativos além do atraso em si. Em primeiro, os leitores acabam esquecendo da minissérie, o que inevitavelmente esfria seu hype. Em segundo, e talvez pior ainda, seja a expectativa de ler algo explosivo a cada número, algo que compense os meses na demora entre lançamentos. Isso já havia acontecido em Cavaleiro das Trevas II, mas lá, diferentemente de A Raça Superior, foram apenas três números com muito mais páginas cada um, o que de certa forma compensava, ainda que o resultado final tenha sido desapontador.
Na terceira minissérie dessa versão futurista e mais idosa de Batman, o formato é de muitos números – nove no total – que começaram a sair em novembro de 2015 e que divide espaço com histórias secundárias que não desenvolvem de verdade a narrativa principal. Com isso, o resultado é uma publicação central de 22 ou 23 páginas que parece anti-climática e pouco recompensadora. Talvez uma análise futura de toda a minissérie mude minha visão, mas fato é que a análise compartimentalizada, por edição, sofre muito diante desses atrasos e o que é devidamente entregue ao leitor.
O caso em questão fica bem ilustrado com o 6º número de A Raça Superior, que começa exatamente do ponto onde a última edição parou: uma chuva artificial de kriptonita derruba os kriptonianos liderados pelo extremista religioso Quar, da ex-cidade miniatura de Kandor, colocando Batman e Superman (este trazido do casulo de matéria negra por Aquaman e Carrie Kelly), ambos com armaduras, em pé de igualdade com os invasores em Gotham City. O grande plano de Batman, como mencionei na crítica anterior, é deliciosamente exagerado, chegando às raias do absurdo, algo que claramente vem da mente jocosa de Frank Miller, que consegue inserir suas críticas – esta à indústria de quadrinhos e seus roteiros cada vez mais fora de proporção – em cada linha narrativa. Mas o desfecho do plano é desapontador. O embate prometido entre os “melhores do mundo” e o exército de kriptonianos resume-se a um ou dois socos desferidos por uma raivoso Batman e um Superman que parece uma estátua de ferro. O restante da ação é seccionado entre os habitantes e a polícia de Gotham City e um embate interessante, mas brevíssimo entre Kelly e Baal, não afetado pela chuva verde, por estar de namorico com Lara, filha de Superman com a Mulher-Maravilha, como vimos na péssima história secundária do número anterior.
E, com isso, aquilo que era majestoso, aquilo que prometia o embate do século acaba de maneira anti-climática e rápida, em uma edição que qualquer leitor acabaria em não mais do que cinco minutos e isso se for lento. Claro que, por ser composta de nove número, não era possível esperar a batalha final aqui, mas a expectativa era grande para uma resolução não mais do que medíocre que tenta emular situações do clássico O Cavaleiro das Trevas, encerrando-se com um cliffhanger que homenageia a história original, mas que nem isso faz com verdadeira propriedade.
A história secundária, desta vez, lida com uma narrativa diretamente paralela à principal, com Carrie Kelly enfrentando Lara em um improvavelmente longo combate corpo-a-corpo que sofre interferência da Mulher-Maravilha. Por incrível que pareça, essa história consegue funcionar melhor do que a principal, por ter calma e tranquilidade para lidar com as duas “herdeiras” dos maiores super-heróis da Terra. Ainda que, obviamente, Lara pudesse acabar com tudo em questão de segundos, a suspensão da descrença se faz necessária para aceitarmos uma luta protraída que mantém seu charme até o fim, ganhando relevo com a presença majestosa da Amazona. A arte de Miller fará muita gente torcer o nariz, algo que tem sido comum entre aqueles que não entendem o tom de auto-paródia que o artista vem tentando imprimir em seu trabalho a anos. Poses e traços exagerados, feitos mesmo, com direito a bat-símbolo na bunda de Kelly marcam a história que, porém, é agraciada pela arte final de Andy Kubert, que consegue frear o lápis de Miller e criar um conjunto harmônico bastante satisfatório.
A Raça Superior possivelmente será uma obra final melhor do que a soma de suas partes. Mas, enquanto não é possível ter essa visão de conjunto, a análise fragmentada e atrapalhada pelos atrasos nas publicações é tudo o que é possível fazer. E o resultado desaponta.
Batman – Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior #6 (DK III: The Master Race #6, EUA – 2016)
Roteiro: Frank Miller, Brian Azzarello (ambas as histórias)
Arte: Andy Kubert (história principal), Frank Miller (história secundária)
Arte-final: Klaus Janson (ambas as histórias)
Cores: Brad Anderson (história principal), Alex Sinclair (história secundária)
Letras: Clem Robins (ambas as histórias)
Editora nos EUA: DC Comics
Data original de lançamento: 19 de outubro de 2016
Editora no Brasil: Panini Comics
Páginas: 52 (as duas histórias mais páginas extras com capas variantes e esboços)