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Crítica | Batman Confidential: Amantes e Loucos

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Um dos grandes mistérios por trás da figura do Coringa é justamente a sua origem. Raras são as vezes que nos deparamos com alguma história do vilão antes dele começar a aterrorizar Gotham, contribuindo ainda mais para o simbolismo por trás de sua imagem – sua posição como antítese do Homem-morcego. O arco Amantes e Loucos, publicado na revista Batman Confidential, nas edições de #07 a 12, decide descartar esse mistério, nos entregando os motivos por trás da transformação do homem, no Príncipe palhaço do crime. Mas isso não somente estraga o icônico personagem, arqui-inimigo do Morcego?

Ao princípio diríamos que sim. Humanizar o Coringa é algo totalmente desnecessário, tudo o que precisamos saber é que o próprio Batman foi parcial ou totalmente responsável pelo seu surgimento, o estopim por trás de sua insanidade. Michael Green, em seu roteiro de estreia no mundo dos quadrinhos, aproveita justamente esse fator. A história tem início como qualquer outra, balões de pensamento ocupam as páginas enquanto Batman segue sua rotina de patrulha pelas ruas de Gotham. Ele nota que, pela primeira vez desde que iniciara sua cruzada, a cidade está quieta e não se trata de um silêncio perturbador, indicando a iminência de algo terrível e sim uma quietude assinalando que seu trabalho está gerando frutos.

Pouco depois, o Homem-morcego se depara com uma loja assaltada. O roubo foi realizado com maestria, sem nenhum alarme disparado, mas, ainda assim, todas as pessoas ali dentro foram mortas. Seguimos para o foco em um homem de meia idade, desmotivado em um bar, afirmando que sua vida perde o sentido, que nada mais lhe traz satisfação. Essa figura se tornaria o Coringa e o texto dessas seis edições trabalham em cima dessa gradual transformação, ao mesmo tempo que não se distância do conceito canônico de que o Morcego teve sua participação na criação desse psicopata.

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Green nos traz pontos interessantes, enfatizando a psiquê do herói. Ele não esperava tais frutos negativos de suas ações e o roteiro deixa isso claro, levando o vigilante bem próximo a um ponto de ruptura. Trata-se dos anos iniciais de sua “carreira” e ele ainda está se adaptando. Como algumas páginas deixam bem claras, no princípio da história, sua jornada é inteiramente pautada nos erros e nos acertos, ao passo que cada dia traz a ele uma notável evolução. Amantes e Loucos se torna ainda mais interessante por retratar um período específico e crucial dentro da história de Batman. Aqui vemos o início da transição de seus anos iniciais para a “era” dos supervilões de Gotham. O herói começa a se deparar não mais apenas com simples criminosos ou gangsteres e sim com a loucura que marca o estabelecimento do Asilo Arkham. Nas palavras do próprio roteirista, aqui ele se depara com monstros e não apenas homens monstruosos.

De forma cuidadosa, a fim de não estragar o vilão, Michael Green não oferece detalhes de sua vida antes daquele ponto. Vemos, de fato, somente o momento preciso de sua transformação, que leva um homem já psicopata a se tornar ainda mais louco. A arte de Denys Cowan trabalha bem o aspecto perturbador da obra, acrescentando anos a alguns rostos, a fim de criar um registro mais simbólico que realista. O traço, por vezes, acaba tornando os personagens muito similares e não dá a eles características bem definidas. Algumas expressões faciais também desagradam nosso olhar, quebrando o drama presente nas páginas – o mesmo vale para o caráter de esboço presente na revista, que poderia contar com uma maior limpeza em diversos pontos.

Apesar disso, contudo, Amantes e Loucos consegue nos cativar, trazendo uma história bem construída que se destaca pelo trabalho em cima da mente de Bruce Wayne. Diversos elementos emblemáticos do universo do Morcego tem sua origem contada aqui e, dentre eles, o próprio Coringa. Sua história faz jus ao personagem e não desaponta, ainda que nos deixe com aquela dúvida: isso foi realmente necessário? Tal pergunta, contudo, resta a cada leitor responder – devemos, no fim, decidir, se queremos saber a origem do Rei palhaço do crime ou não.

Batman Confidential #07 a 12  (EUA, setembro de 2007 – fevereiro de 2008)
Arco: 
Amantes e Loucos
Editora: 
DC Comics
Roteiro: Michael Green
Arte: Denys Cowan
Cores: I.L.L.
25 páginas (cada número)

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