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Crítica | Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (Trilha Sonora Original)

por Lucas Nascimento
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estrelas 5,0

Depois de ter reinventado o tema do Homem-Morcego com James Newton Howard há sete anos, Hans Zimmer encararia sozinho a árdua tarefa de compor a música do aguardadíssimo desfecho da saga de Christopher Nolan, em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Agora sem Howard (que declarou que sua contribuição artística para a história havia se esgotado, simples assim), um breve ar de temor pairou por meus ouvidos por um instante. Por mais que o alemão seja excepcional, a divisão musical da trilogia era clara: Zimmer com a ação, Howard com o drama. Seria agora a trilha sonoral final um eterno balacutacu? Felizmente, não.

Zimmer revela sua faceta dramática para o Morcego logo em On Thin Ice, uma faixa triste e que ecoa como uma brisa solitária em um dia de inverno. Os violinos e o coral baixo são perfeitos para o Bruce Wayne aposentado e melancólico, sendo muito eficiente também em provocar uma certa nostalgia, uma bravura heróica que encontra-se dormente. Funciona bem para a apresentação de Gotham City no primeiro ato e também para a introdução de John Blake em um poderoso diálogo.

Mas, é claro, temos muito barulho, já que o novo tema principal de O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma das peças sonoras mais pulsantes e icônicas de toda a carreira de Zimmer. Gotham’s Reckoning nos apresenta à música selvagem e amedrontadora do vilão Bane, e a decisão de Zimmer aqui foi muito interessante: além dos tambores e baterias, a faixa traz um característico uso de coral em um dialeto árabe. A frase “Deshi, Deshi, Basara Basara” (aqui, o trecho fonético تيجي بسرعة ), que significa algo próximo de “Ascensão” ou “Ele se levanta” é repetida constantemente ao longo da faixa, imediatamente conferindo uma identidade marcante para o mercenário de Tom Hardy. Quatro anos depois, permanece memorável.

Uma curiosidade interessante é que Zimmer desejou um coral de milhares de pessoas, algo praticamente impossível para uma produção do tipo. Sua saída foi recorrer à internet em uma experiência interativa na qual usuários de todo o mundo poderiam mandar seu canto de Deshi Basara para serem incluídos na mixagem. Revelo que até mesmo eu entrei na brincadeira, mas com certeza o compositor não se agradou com minhas capacidades bem limitadas de cantoria…

A força brutal do vilão rende atos de terrorismo e assaltos marcantes, e a faixa do álbum que se dedica às ações de Bane é The Fire Rises, que cobre toda a sequência da Bolsa de Valores e a perseguição de motos que a segue. Não temos o canto árabe aqui, mas os trompetes de Zimmer e a percussão desesperada dos sintetizadores garantem uma música alarmente e desesperada para sua primeira metade. A segunda, centrada no ataque à Bolsa, é a perfeita definição de um “caos calmo”, com diversos instrumentos de corda sendo tocados de forma constante, mas em um volume baixo, criando uma tensão palpável para a presença do mercenário.

A chegada de Bane também traz de volta o arco da Liga das Sombras e o legado de Ra’s Al Ghul, então a música retoma alguns dos temas de Batman Begins, ao mesmo tempo em que oferece novos acordes. Born in Darkness traz um violoncelo grave que emite uma característica quase indiana, oriental para o conto da Esposa do Mercenário e as origens de Bane, enquanto Necessary Evil surge no final do longa para dar continuidade a essa história, oferecendo um acorde muito mais agudo para revelar a real natureza de Miranda Tate.

E se já não estivesse excelente com o núcleo de Bane, ainda temos Selina Kyle, a Mulher-Gato. Mind If I Cut In? se inicia com um violoncelo misterioso, a fim de sugerir a dualidade da personagem, apenas para logo depois partir para um delicioso piano acompanhado de um , facilmente construindo o caráter de imprevisível, malandra e sagaz de Kyle. É interessante também como os temas dos personagens vão se misturando, com as notas delicadas de Selina aparecendo em Nothing Out There, um tema mais dramático de Bruce Wayne durante um diálogo com Alfred na Batcaverna. Se Anne Hathway pode não ter sido icônica como Michelle Pfeiffer no papel, eu sempre me lembrarei do tema de Zimmer na menção da personagem.

Voltemos agora ao Batman, claro. É dramático e melancólico durante a maior parte musical, mas ver a catarse explosiva que se segue na inebriante Why do We Fall?, para quando Bruce enfim escapa do poço gigantesco, ou do retorno do Morcego em Despair, é algo que eleva o status do filme. O encerramento da trilha sonora se dá na longa Rise, que retoma com força temas dos dois longas anteriores para marcar o sacrifício de Wayne e o epílogo em Gotham City, sendo uma peça emocionante e dramática, trazendo os acordes de On Thin Ice de forma mais grandiloquente, para finalmente chegarmos no tema de A Dark Knight que encerrou o filme anterior com brilhantismo, e novamente o faz aqui.

Um perfeito desfecho, para a trilogia e também para a contribuição de Hans Zimmer com a história.

The Dark Knight Rises: Original Motion Picture Soundtrack

Composto e conduzido por Hans Zimmer
Gravadora:
WaterTower Music
Ano: 2012
Estilo: Trilha Sonora

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