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Crítica | Batman: O Que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?

por Luiz Santiago
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Ele é o protetor de Gotham City, o espírito vingador da cidade, seu Cavaleiro das Trevas. Por anos, ele travou sua guerra de um homem só para manter as ruas seguras, mas, esta noite, a guerra causou sua última e maior baixa… o próprio Batman.

O Cruzado Encapuzado agora descansa em um caixão no Beco do Crime, o lugar onde nasceu. Seus amigos mais próximos e seus inimigos mais mortais se reúnem para prestar uma última homenagem. Cada um deles conta uma história diferente sobre o Homem-Morcego que conheceram: como ele viveu… e como ele morreu.

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SPOILERS!

Na linha das comemorações dos 70 do Batman, em 2009, e aproveitando o tema da morte do Morcego trabalhado, à época, tanto em Descanse em Paz quanto em Crise Final, a DC Comics não quis perder a oportunidade de fazer uma homenagem “derradeira” ao Cavaleiro das Trevas, entregando a Neil Gaiman a grande responsabilidade de criar uma “história final” do Homem Morcego, colocando um hipotético fim às revistas Batman Vol.1 e Detective Comics Vol.1, exatamente o que o Mago Alan Moore fizera na sua hipotética história final do Superman, na inesquecível O Que Aconteceu ao Homem de Aço? (1986).

O conceito para o arco, nos dois casos, é bastante parecido. Ambas as histórias dividem o mesmo início de título (haverá um O Que Aconteceu à Incrível Amazona? em 2032?) e tratam de maneira assumida a morte do protagonista. Na introdução dessa aventura, Gaiman fala da imediata noção de que ele não poderia se aproximar, jamais, daquilo que Alan Moore fizera. E a justificativa que o autor dá é perfeitamente adequada ao personagem em questão. A trama não poderia ter sorrisos e piscadelas. E foi com isso em mente que ele iniciou a jornada de morte do Cruzado de Capa, com o corpo no caixão e a visita de grandes vilões de sua galeria ao longo dos anos.

Por ser um arco em duas partes com o intuito de homenagear e finalizar a vida de um herói, não é de se espantar a quantidade de referências dessa saga, tanto no roteiro quanto na arte. Andy KubertScott Williams realizam um esplendoroso trabalho ao emular diversos estilos artísticos de desenhistas icônicos que passaram pelo herói, com destaque de cara para Jim Aparo e Bill Finger, que aparecem em placas de Gotham já no início da Batman #686. No decorrer da edições, veremos representados os Batmans das Terras Um (Superman #76), Dois (Detective Comics #27), Nova (Detective Comics #567), Trinta e um (O Cavaleiro das Trevas) e Quarenta e três (Chuva Rubra), cada um deles acompanhando uma variação vilanesca e uma “história de como o Batman morreu”.

O que pesa bastante aqui é o caráter fortemente pessoal que a abordagem de confissão envolta em questões sobrenaturais (ou seriam cósmicas?) e confissões de personagens (uma fala cúmplice em direção ao leitor?) implica para o público. Eu, por exemplo, conheço pessoas que simplesmente morrem de amores por esta saga, ao passo que eu, mesmo numa releitura, para a presente crítica, anos depois de lê-la pela primeira vez, continuo achando “apenas” algo com um conceito inteligente, um aplaudível trabalho artístico e muita, muita confusão — não no sentido positivo. O ideal de renascimento e relação de mortes em um único espaço me pareceu algo difícil de digerir. E dramaticamente espalhou demais a nossa atenção, fazendo com que esse aspecto da história se erga mais pela nostalgia e nosso conhecimento prévio da Era e histórias ou Universos representados do que pela própria narrativa.

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É possível perceber o claro apelo emocional que essa abordagem nos traz, e aqui, deixo claro que a minha visão para a história é a de que, se existe uma Força (Deus) nos Universos onde os muitos Batmans vivem, eles concedem um “prêmio” ao Morcego antes de sua reencarnação, após suas muitas mortes. E esse “prêmio” é reencontrar-se com sua mãe, achar que está tendo uma experiência de quase morte e entender a si mesmo como algo muito maior, adquirindo um senso de “missão” antes d reencarnar. A parte trágica, da perda dos pais, também está inclusa, mas colocada em perspectiva, muda de figura. Tudo isso é muito legal e faz com que a nosso contato com a obra ganhe contornos familiares e até sentimentais inesperados. Na minha leitura, porém, apesar do entendimento de força e do significado que tudo isso tem para o personagem, as coisas acabaram não se elevando — e aqui, por tudo o que já foi dito, a comparação é inevitável — a O Que Aconteceu ao Homem de Aço?. A relação dos muitos Batmans, a forma solta como cada história [não] se relaciona e a concepção cósmico-mística de Gaiman não me cativaram tanto assim.

Com painéis e referências a páginas das revistas da Era de Ouro, mais à série televisiva de 1966, encontramos em O Que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas? uma nostálgica viagem por 70 anos de Batman, tendo, claro, os esperados momentos (além dos já citados anteriormente) de Ano UmDesafio do Morcego Humano, Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo e A Queda do Morcego. Um fim que, dependendo da entrega e aceitação do leitor para o tipo peculiar de narrativa adotada por Neil Gaiman aqui, será inesquecível. E mesmo que este não seja o caso, o final é, no mínimo, uma boa e divertida leitura para todos. A propósito, quero dizer que a minha história favorita, dentre todas as narrativas, é a de Alfred. Qual é a versão de bat-morte favorita de vocês aqui?

Whatever Happened to the Caped Crusader? (EUA, abril e junho de 2009)
Contendo:
 Batman Vol.1 #686 e Detective Comics Vol.1 #853
No Brasil: Panini Comics, 2013
Roteiro: Neil Gaiman
Arte: Andy Kubert
Arte-final: Scott Williams
Cores: Alex Sinclair
Letras: Jared K. Fletcher
Capas: Andy Kubert, Alex Sinclair
Editoria: Mike Marts, Janelle Asselin
48 páginas

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