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Crítica | Batman: Renascimento

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

SPOILERS!

O caminho até aqui:

A nova fase do Morcegão em Rebirth é estabelecida com mistério e uma inesperada aproximação do roteiro com o gênero horror, opondo uma postura mais amigável para Bruce Wayne/Batman de um lado da moeda, e de outro, mostrando um mundo que não combina nada com esse otimismo. Pelas indicações que tivemos neste one-shot, o início de Batman: Rebirth será um misto de reformulações decentes e bons novos começos, cada um com um pé em um extremo de emoções e segredos.

Que tal o novo uniforme?

Que tal a nova versão do uniforme? E esse morcego meio art déco?

Scott Snyder e Tom King nos mostram de cara a diferença de tom entre este Batman e aquele que conhecemos nos Novos 52. Sem nenhum traço de existencialismo — já deu o que tinha de dar, não é mesmo? — o personagem age em duas frentes; a primeira, na Mansão Wayne e a segunda, na Torre Wayne a nas ruas. Nesses locais, vemos o herói resolver problemas financeiros junto a Lucius Fox e guiar Duke Thomas pela Batcaverna a fim de lhe fazer uma “proposta para algo novo“. É neste ponto que o roteiro dá a primeira pisada na bola.

Por se tratar de um renascimento de Universo, era lícito que os personagens não comuns para o público — especialmente se surgiram nos Novos 52 — fossem melhor contextualizados, mas não é o que acontece aqui. Tomando por conhecida a figura de Duke Thomas, os autores seguiram o drama de “eu não quero ser Robin” e mostraram algumas cenas de treinamento e conversa de meias-palavras que coloca o jovem, ao menos em um primeiro momento, numa posição de segundo combatente do crime, não exatamente ajudante do Morcego. Isso, porém, só será confirmado em definitivo a partir da edição #1 da nova série.

Para quem não está familiarizado com a fase anterior, vai aqui um apanhado geral sobre Duke Thomas:

Duke apareceu pela primeira vez na Batman #21 dos Novos 52, em um evento chamado Ano Zero. Ele entra em cena já demonstrando grande inteligência e coragem, sendo impedido pelo Batman de, sozinho, enfrentar um certo vilão e seus jogos mentais. Depois, com o retorno do Coringa a Gotham, Duke se torna um alvo “ideal” para o Palhaço: ele e sua família são sequestrados, mas Batman os salva. Porém, os pais de Duke são afetados pelo gás do riso e ficam loucos. O retorno mais efetivo do personagem ao bat-Universo — nem vou falar de Fim dos Tempos, porque aquilo… deixa pra lá… — se deu na série Nós Somos Robin (iniciada em agosto de 2015), onde vários jovens de Gotham vestiram o uniforme de… vocês sabem… Robin!… em uma iniciativa liderada por um ‘misterioso benfeitor’.


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Apresentando o novo Homem-Calendário.

Apresentando o ‘novo’ Homem-Calendário.

Um dos grandes atrativos aqui foi a escolha sábia para o que deveria ser mexido e como deveria ser mexido. Com isso trago à tona o Homem-Calendário (Julian Day) e a forma como os autores pensaram a manipulação das condições e fatores climáticos e a estrutura de seu corpo ao longo dessas mudanças. Isso, além de genial — porque faz o personagem ser relevante, apresentar verdadeira ameaça inteligente e principalmente mostrar-se de forma nova sem precisar de novas origens polêmicas e desnecessárias –, funciona na criação do padrão narrativo da história: cada dia da semana é uma estação diferente do ano, devido a manipulação de Julian e sua atmosfera polinizada. Isso abre as portas para a diagramação e explanação elíptica da saga.

O trabalho artístico de Mikel Janín nas cenas de grande movimento e o trabalho de coloração de June Chung em toda a obra possuem um ótimo papel na representação das estações. Elas servem como emoções humanas e como princípios ativos para o Batman e para Bruce, que se mostra mais engraçado, preocupado, agressivo ou tutor em decorrência dessas mudanças. Se a base central aqui não tivesse um nível considerável de desprendimento e se Duke não fosse colocado como cânone angular desse Universo, a minha nota subiria bem mais, porque o trabalho de divisão narrativa e a arte da revista são sensacionais.

Uma Bat Caverna cinematográfica e meio steampunk; um Julian Day "desabrochando" na Primavera; e Duke recebendo a "proposta de algo". Reparem no uniforme.

Uma Batcaverna cinematográfica meio steampunk; um Julian Day “desabrochando” na Primavera; e Duke recebendo a “proposta de algo novo” do Batman. Reparem no uniforme preto e amarelo!

Durante a leitura, não pude deixar de perceber temas visuais de Ano Um, especialmente na sequência em que Bruce e Duke treinam e conversam em uma árvore. A dinâmica entre os dois também tem um sabor de “tempos passados”, nada imediatista nas conversas ou forçado demais na aceitação, um trabalho que contrasta e negativiza mais a apresentação sem contexto do personagem aqui. Mas acreditem: dá para entender e superar esse erro de Snyder e King no tratamento a Duke.

Nesta edição, o leitor irá passar de uma primeira página lenta que rapidamente pula para para ação de grande porte e então para mais uma abordagem compassada, alternando constantemente esses impulsos. Daí, passa-se para uma página meio nojenta, com Bruce e seus poucos pelos aparados, todo suado, conversando com Lucius e fazendo exercícios no topo da Torre Wayne (a intenção foi adicionar a hashtag #sexy, mas em meio a tanto suor a coisa ficou nojenta) e, por fim, a um tom de mistério a partir de uma ação final de Alfred e do que se conclui na conversa entre Bruce e Duke. Batman: Renascimento serve como ponte entre os Novos 52 e Rebirth. A promessa para a nova fase é, como aparentemente tudo no atual momento da DC, interessantíssima.

Batman: Renascimento (Batman: Rebirth #1) — EUA, 1º de junho de 2016
Roteiro: Scott Snyder,Tom King
Arte: Mikel Janín
Cores: June Chung
Letras: Deron Bennett
Capas: Mikel Janín
24 páginas

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