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Crítica | Batman: Strange Apparitions

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

É muito comum esquecer que Batman, mesmo antes de renascer de maneira muito mais pesada nas mãos de Frank Miller, em O Cavaleiro das Trevas e, depois, em Ano Um, já gozava de uma reputação sombria. A percepção geral era que, antes de Miller, Batman era sempre retratado como a famosa série sessentista cheia de onomatopeias pulando na tela. No entanto, isso, apesar de não ser completamente equivocado, está também longe da verdade, pois o Homem Morcego já contava com narrativas memoráveis, fortes e bem construídas.

E isso se deu especialmente durante a década de 70, mesmo com o declínio nas vendas das revistas de super-heróis. Nesse período, um dos arcos mais lembrados do herói ganhou, depois, o nome de Strange Apparitions (ou “Aparições Estranhas”, ainda que a tradução direta não faça sentido em português em relação ao que a expressão quer dizer). Trata-se de um longo arco publicado entre 1977 e 1978, na revista Detective Comics entre #469 e 479, em que Batman enfrenta vários vilões diferentes, por razões diferentes, mas com uma linha narrativa comum por detrás: a proibição de Batman ser Batman pela Câmara de Vereadores de Gotham City, comandada por Rupert Thorne. Entre os #469 e 476, o roteiro foi de Steve Englehart (que havia criado o Senhor das Estrelas para a Marvel logo no ano anterior) e os três números finais ficaram ao encargo de Len Wein, criador do Monstro do Pântano e Wolverine.

Tudo começa com a introdução de um novo vilão, com direito até à uma história extra separada contando sua origem, o Doutor Fósforo, que envenena a cidade, incluindo o mordomo Alfred e o Comissário Gordon. Fósforo manobra Thorne para que ele proíba o vigilantismo de Batman, colocando a polícia contra o herói e, mesmo depois de derrotado, Thorne continua nesse processo, por sentir que isso beneficiará seus esquemas de corrupção.

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Hugo Strange descobre a identidade secreta de Batman!

A partir daí, o Homem Morcego passa, então, a enfrentar Hugo Strange, que ressuscita e descobre a identidade secreta de Batman, no melhor mini-arco dentro do arco maior. Nele, Strange monta um elaborado esquema para atrair os milionários de Gotham para uma clínica-fachada que ele usa como mecanismo para capturar Batman. Tomando o lugar de Bruce Wayne, Strange passa a vender as ações do império do multimilionário playboy até que a intervenção de Robin – àquela época às voltas com os Titãs – reverte o quadro. Strange é assassinado por Thorne, em uma particularmente violenta sucessão de quadrinhos que revela a tortura do cientista louco pelos capangas do vereador. Depois, ele aparece como fantasma para Thorne, justificando o título pelo qual o arco ficaria conhecido.

Em seguida, Batman enfrenta, na ordem, Pinguim (#473), Deadshot (#474) e Coringa (#475 e 476). São histórias decididamente menos inspiradas, especialmente a que envolve o Palhaço do Crime, já que ele decide transformar todos os peixes dos EUA (sim, os peixes) em seres com seu rosto (sim, isso mesmo) para que todo mundo tenha que pagar direitos autorais para ele quando consumirem os bichos (não, você não leu errado!). A narrativa envolvendo Thorne continua e é tecnicamente concluída em Detective Comics #476, mas considera-se que, pela situação ser mencionada nos três números seguintes, seu fechamento derradeiro só ocorre em Detective Comics #479, o que não é exatamente uma verdade, pois Thorne só aparece no #477, onde Batman enfrenta as ilusões causadas pelo Dr. Tzin-Tzin em uma história que tem um lado psicológico tão interessante quanto mal explorado.

Nos dois números finais, o que vemos, na verdade, é o surgimento de mais um novo vilão, ou melhor, a terceira versão de um mesmo vilão: o Cara de Barro III. Vilão trágico, Cara de Barro tem um tratamento melancólico e muito efetivo em um roteiro que dá bastante espaço para aprendermos sobre a angústia dele. Batman, por outro lado, abandonado por Silver St. Cloud, cujo namoro ele começa no início de Strange Apparitions, deixou-se afetar por isso e não consegue se concentrar direito, em uma caracterização bastante forçada do Homem Morcego como um homem que teve o coração despedaçado por uma mulher.

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Rupert Thorne, o grande vilão do arco, sendo assombrado pelo fantasma de Hugo Strange.

Apesar de toda sua falta de coesão narrativa, o arco funciona e permite que a clássica galeria de vilões de Batman se misture com dois novos, além de apresentar um Deadshot com novo uniforme e introduzir Silver St. Cloud no universo do Morcegão. Do lado da arte, o trabalho de Walt Simonson nos dois primeiros números é excepcional, criando uma atmosfera sombria e detalhada para as histórias. Depois, Marshall Rogers passa a desenhar os demais números, sem qualquer solução de continuidade, ainda que seus rostos sejam menos trabalhados do que se comparado com a arte de Simonson. No geral, porém, todo o arco flui naturalmente em termos de arte.

Strange Apparitions por vezes não parece um arco propriamente dito, mas ele é um dos melhores exemplos do Batman setentista, que merece ser conhecido por todos.

Batman: Strange Apparitions (EUA)
contendo: Detective Comics #469 a 477
Roteiro: Steve Englehart, Len Wein
Arte: Walt Simonson, Marshall Rogers
Editora: DC Comics
Publicação original: de maio de 1977 a outubro de 1978
Páginas: 22 por número

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