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Crítica | Batman: Terra Um – Volume Dois

por Ritter Fan
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estrelas 4

Obs: Há spoilers somente do Volume Um.

Foi longa, muito longa a espera pelo Volume Dois de Batman: Terra Um. Quase três anos! Nesse meio tempo, a DC Comics lançou outros dois volumes de Superman: Terra Um e o volume inaugural de Novos Titãs: Terra Um. Foram quase três anos de espera que, porém, valeram a pena.

Para quem não conhece, Terra Um é uma linha de graphic novels da DC que, livre das amarras da continuidade, reconta as histórias de seus maiores heróis. Sei que isso já aconteceu outras vezes, notadamente na linha Elseworlds da Editora, mas Terra Um tenta criar um novo universo, mais ou menos como a Marvel fez no ano 2000, com seu universo Ultimate. Contudo, no lugar de histórias serializadas, a DC elegeu publicar em formatos auto-contidos, publicados como graphic novels em capa dura (e depois cartonada), o que dá uma certa solenidade a cada lançamento.

tem recebido, sem dúvida, o melhor tratamento dessa linha, apesar do intervalo entre volumes. A dupla Geoff Johns e Gary Frank, que voltaram para o Volume Dois, apresentaram uma história estilo Ano Um do herói que, no meu livro, rivaliza com o que Frank Miller fez. E, agora, no lugar de simplesmente dar um salto temporal grande, Johns e Frank abordam substancialmente o mesmo Batman seis meses depois: um pouco mais bem treinado por Alfred, mas ainda longe de ser o herói a que nos acostumamos. Fazendo referência direta à sequência mais famosa do Volume Um, quando Batman, confiante, salta de um prédio ao outro somente para se quebrar todo na queda, vemos o Morcego conseguindo completar o salto e espancando bandidos em fuga. Seu problemas principal agora é automobilístico, pois usa um carro normal e não tem lá muita segurança atrás do volante. Há também outros problemas que Wayne tem que lidar em seu crescimento como herói de Gotham City, mas contar mais seria estragar a diversão.

Enquanto que o primeiro volume tinha como vilão o Pinguim, em uma versão muito interessante em que ele era o corrupto Prefeito Oswald Cobblepot, agora o antagonista é o misterioso Charada. E, novamente, Johns recria um icônico vilão de maneira original e galgada na realidade. Nada de um maluco vestido de verde e com pontos de interrogação na roupa. Mas não sem enganem. Os elementos clássicos estão todos lá, basta saber procurar. O que Johns faz é escrever um personagem que afasta as excentricidades que sempre marcaram os vilões de Batman e que foca em objetivos mais mundanos e correlacionáveis. Da mesma maneira, personagens introduzidos no Volume Um, como os irmãos Jessica e Harvey Dent são mais explorados, com as consequências que todos nós conhecemos, mas sempre com uma reviravolta interessante, especialmente no caso desses dois. Jim Gordon está de volta, assim como seu parceiro Harvey Bullock. Indo um pouco mais para o lado exagerado, John também introduz Killer Croc na estrutura narrativa, mas sempre fazendo o máximo para abafar caracterizações que fogem demais da pegada mais pé no chão que procura dar à história.

Aliás, a narrativa é interessante e vem naturalmente a partir das consequências da morte de Cobblepot ao final da graphic novel anterior. Batman e a nova prefeita Jessica Dent e o promotor público Harvey Dent têm que desvendar o mistério de cinco oficiais do governo que teriam herdado o império do crime do Pinguim. A narrativa parece complexa, mas Johns dá cabo dela com bastante eficiência, mesmo considerando a profusão de novos personagens e situações.

Confesso que a resolução não é das melhores, pois o roteirista acaba usando um pouco de deus ex machina para apressar as coisas, mas, no frigir dos ovos, seu trabalho é mais uma vez sólido e digno do legado de todos os personagens. É muito interessante, por exemplo, ver o desenvolvimento de Bruce Wayne e de Batman ao longo da narrativa. Wayne não é um playboy e Batman não é um detetive. Ambas famosas características desses personagens opostos são aspectos que vão ao pouco sendo erigidos por Johns, que faz uso de uma narrativa orgânica para alcançar seus fins. O mesmo vale para Jim Gordon que, apesar de ter menos destaque aqui do que no Volume Um, continua sua escalada na polícia, com o aprofundamento de sua relação com o misterioso Homem Morcego.

Gary Frank, capitaneando a arte, continua retrabalhando aspectos icônicos de cada um dos personagens. O uniforme de Batman mudou, mas ainda não alcançou a versão final. Vemos um “trabalho em progresso” por parte de Wayne e Lucius Fox para armar o herói do que há de melhor na medida das necessidades. As caracterizações de Jessica e Harvey Dent são particularmente interessantes, a primeira bela e esguia e o segundo quase que um brutamontes raivoso. E Frank sabe usar a luz e as sombras para trabalhar a futura identidade vilanesca do Duas Caras, mas de maneira inteligente e que forçará o leitor a revisitar seus desenhos desde o começo com os acontecimentos no final em procura das pistas visuais que definitivamente estão lá. O Charada é um ser das sombras tanto quanto Batman e o pouco que aparece revela uma caracterização humana, que condiz com as dos demais personagens. A única dissonância no trabalho de Frank é mesmo Killer Croc, que precisa do aspecto monstruoso para funcionar. Nesse ponto, o que vemos não é lá terrivelmente original e o resultado quebra um pouco a imersão que a obra como um todo exigiria. Mas não se pode ter tudo, não é mesmo?

Batman: Terra Um continua o certeiro caminho para criar um riquíssimo novo universo para Batman. É uma obra que vale cada centavo e toda a espera.

Batman: Terra Um – Volume Dois (Batman: Earth One – Volume Two, EUA – 2015)
Roteiro: Geoff Johns
Arte: Gary Frank
Arte-final: Jonathan Sibal
Cores: Brad Anderson
Editora (nos EUA): DC Comics (lançamento: 12 de maio de 2015)
Editora (no Brasil): não publicado no Brasil na data de lançamento da presente crítica
Páginas: 158

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