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Crítica | Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Edição Definitiva)

por Kevin Rick
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  • Leiam, aqui, a crítica com spoilers do filme.

Eu acho interessante a abordagem de Zack Snyder para o Universo Cinematográfico DC, especialmente a pegada de tragédia grega mitológica que o cineasta incessantemente busca no épico. Desde o início de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, é bastante claro o desenvolvimento do grandioso, até diria homérico ou epopeico, guardada as devidas proporções, da sua obra sobre o embate de dois titãs. Snyder filma a tragédia infantil de Bruce Wayne como a origem de um mito heróico, principalmente na cena da caverna que vemos o menino voar com os morcegos, e a partir daí, temos um tratamento contínuo da tragédia heróica resultante dos eventos de O Homem de Aço com a destruição de Metrópolis, em relação ao humano vs divino.

Novamente, é uma abordagem interessantíssima, e que já foi feita nos quadrinhos múltiplas vezes, como em Injustice, mas que, aqui, ganha uma nova dimensão pelas lentes de um cineasta que realmente sabe filmar o épico e também a metáfora da sua discussão divina. Snyder muitas vezes filma Superman (Henry Cavill) como um ser distante, acima do humano, e tem um belíssimo take do personagem voando para salvar uma moça em cima de uma casa inundada, onde o diretor tampa o rosto do Superman com a luz solar. Este caráter messiânico dado pela câmera do Snyder transpassa muito bem o cerne da sua proposta no visual, e o roteiro, em certa medida, constrói bem a colocação do epítome humano (Batman), e também o maligno humano (Lex Luthor), contra um “deus” (Superman), como nas cenas que Bruce discute seu legado heróico com Alfred, ou então as várias piscadelas do diretor com referências à mitologias e deuses nos diálogos maniqueístas de Luthor.

Acredito que os problemas do filme original, em linhas gerais, são a desordem da montagem e a falta de desenvolvimento dos personagens, principalmente em relação aos seus motivos para o conflito. Isto, consequentemente, torna a narrativa nada coesa e emocionalmente distante, a despeito da curiosa abordagem mitológica. E, depois desta longa introdução da minha opinião geral da obra, eu finalmente adentro na versão estendida, denominada de Ultimate Edition, e que traz 30 minutos adicionais para a duração do filme, restando a grande pergunta: o tempo extra melhora a experiência? A resposta direta é sim ao pensarmos em dois pontos: contexto e caracterização.

Grande parte da adição sequencial reside no primeiro ato da película, e vemos isso logo no comecinho com a cena da África em que Lois Lane (Amy Adams) é sequestrada. Toda essa sequência é estendida no sentido de dar contexto para a causa da incriminação do Superman pelas mortes dos moradores do vilarejo, em que agora vemos que os soldados queimaram os mortos, tornando a conexão com o encapuzado mais plausível. Essa toada de aprofundamento nas justificativas para a divergência de opinião da mídia e do público é carregada para o restante do longa, com mais cenas de noticiário e principalmente de Clark assistindo a polaridade de posicionamentos à seu respeito, e o contexto evolui a caracterização do personagem ao trazer cuidado para a turbulência moral sobre seu papel, colocando em xeque, de maneira bem mais logicamente construída, a desconstrução da sua figura enquanto incólume divino, que é de suma importância para o arco do personagem desde que ele matou Zod.

Ademais, o primeiro ato é recheado de núcleos investigativos com Lois e Clark, novamente criando circunstância coesa para as discussões que anteriormente soavam espalhadas na desorganização da montagem. A obra até assume um teor de thriller político com o núcleo de Lois descobrindo as maquinações de Lex, desde o pagamento ao mercenários na África, sua exploração do sistema político e cobertura da mídia, pavimentando seu caminho vilanesco mais próximo da influência maquiavélica do que da estranheza peculiar cômica da obra original – mas ainda não gosto da interpretação cheia de maneirismos do Jesse Eisenberg. Além disso, o arco de Lois recebe importância para além da camada romântica, e há, antes do clímax e das batalhas colossais, um claro cuidado com desenvolvimento estrutural para Clark, Lois e Lex – sim, o morcegão continua resignado e recebe pouco, para não dizer nenhum, espaço extra de construção dramática.

Mas então, a Edição Definitiva torna a narrativa mais coesa, proporciona uma certa profundidade para os personagens e preenche melhor o debate da figura do Superman, contudo, lógica enquanto proposta cinematográfica não é o mínimo a se pedir de um projeto assim? Dessa forma, acredito que os 30 minutos adicionais melhoram a experiência contextual do primeiro ato, mas mantém os mesmos problemas gerais do filme: a motivação para o conflito dos personagens. O segundo ato praticamente não mudou, com exceção de um ou outro take de combate e a cena de Lex com Steppenwolf, mas o tema da fita, o embate dos heróis titulares, e também a inserção da Mulher-Maravilha (Gal Gadot), continua… vazio. A batalha entre eles baseia-se em mal-entendido e não confronto moral/filosófico, indo completamente na contramão da construção épica e mitologicamente figurativa do humano, seja ele Lex ou Bruce, superando a atormentada divindade.

Enfim, Batman vs Superman: A Origem da Justiça continua dividindo opiniões, e certamente meu texto será da mesma maneira divergente, mas, veja, ainda que contenha minha opinião geral da obra, o objetivo é a análise da extensão durativa da Edição Definitiva, e nela, pensando pelo lado positivo, cumpre-se a meta de proporcionar contexto ao conflito, especialmente da figura pessoal e midiática do Superman e as maquinações de Lex, também trabalhando a caracterização dos personagens no tempo extra, mas, no geral, mantém as mesmas problemáticas do épico conflito pouco construído no campo da causa, seja ela moral, política ou traumática, fazendo com que a tragédia de Snyder se sustente no visual e não na substância.

Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Edição Definitiva) | Batman v Superman: Dawn of Justice (Ultimate Edition) — EUA, 2016
Direção: 
Zack Snyder
Roteiro: David S. Goyer, Chris Terrio, Bob Kane, Bill Finger, Joe Shuster, Jerry Siegel
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot, Amy Adams, Jeremy Irons, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Laurence Fishburne, Holly Hunter, Tao Okamoto, Jason Momoa, Ezra Miller, Scott McNairy, Callan Mulvey, Lauren Cohen, Michael Shannon, Carla Gugino, Kevin Costner, Jena Malone
Duração: 181 minutos.

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