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Crítica | Beleza Oculta

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Apesar de muitas outras razões, será principalmente pelo tratamento quase terapêutico em relação ao luto que Beleza Oculta (2016) terá impactos diferentes sobre o público. Embora esse mesmo princípio seja uma verdade para qualquer produção artística, algumas tornam essa diferença de recepção ainda maior, dada a força passional do argumento em questão.

A perda de um filho e a extrema dificuldade de lidar com isso é o tema central da obra, que coloca Will Smith como o pai enlutado, silencioso a maior parte do tempo e deixando, aos poucos, de viver, negligenciando o trabalho e fazendo com que seus amigos e sócios pensem em um modo de afastá-lo da agência de publicidade que ajudou a criar. Alguns problemas paralelos são abordados ao longo da obra, ligando o isolamento do protagonista com as imperfeições da vida ao redor dos que o cercam, como a fragilidade da saúde de Simon (Michael Peña, interpretando seu papel com grande simpatia), e diferentes querelas familiares com Claire (Kate Winslet, mal dirigida e pouco aproveitada) e Whit (Edward Norton, demasiadamente plácido e também mal dirigido).

Já nos primeiros trinta minutos percebemos estar diante de um tema duro e emocionante, com um bom elenco em cena. Todavia, devido ao roteiro, a condução do diretor David Frankel (de O Diabo Veste Prada) e a forma como alguns personagens foram construídos, vemos bons atores parecerem insossos, com uma única exceção, o papel da Morte, maravilhosamente interpretada por Helen Mirren. As outras forças do Universo para quem Howard escreve, como uma forma de demonstrar seu descontentamento pela perda da filha, o Tempo (Jacob Latimore) e o Amor (Keira Knightley) são bem trabalhadas e recebem bons momentos de seus respectivos atores, embora nada grandioso.

Esse desperdício de bom elenco está diretamente ligado ao roteiro de Allan Loeb, por ser segmentado demais e por perder completamente a linha na reta final do filme, mudando um pouco a nossa forma de olhar para o trio de “forças do Universo”, que até então imaginávamos como atores contratados. A ideia não é nova, mas é muito boa, e tem lampejos desse lado astuto no filme, que é fazer personagens reais fingirem ser sobrenaturais e depois revelar que eles eram, de fato, seres sobrenaturais. O problema é quando esse tipo de linha dramática é colocada em um roteiro sem jamais se explicar para todas as partes do jogo. Metade do impacto que a revelação no traz, simplesmente se perde.

Como destaquei no início, o teor passional do texto terá impacto diferente nos espectadores e mesmo os que acharem o filme ruim, como eu achei, deverão se emocionar em algum ponto da fita, a despeito de todos os clichês de louvor à vida, ao amor e à oportunidade de fazer algo bom e novo para as pessoas que amamos, criar um legado e um impacto na vida dos outros, como uma carta eterna, uma presença eterna, a ser sentida, apesar da dor, mesmo quando não estivermos mais aqui.

A dinâmica é obviamente pontuada por um tipo de linha moral que suscita esperança, tem sua beleza e sentido na obra, mas quando chegamos ao fim, a razão que ela poderia ter com uma conclusão decente, cai por terra. Os personagens em torno de Howard são abandonados pelo roteiro e o protagonista, de repente, está em uma situação que nos parecia estranha no começo, mas para ele era algo plenamente familiar. Na ânsia de gerar duas grandes surpresas, o autor deixou de lado a praticidade e desses dramas. Péssima escolha.

Fora o roteiro e direção, Beleza Oculta tem uma equipe técnica trabalhando bem. Seu elo fraco é a edição, principalmente no miolo do filme. Os figurinos e a fotografia (atenção para as belas sequências noturas) se destacam do todo, criando uma atmosfera propícia para arrancar lágrimas do espectador, o que parece ser uma intenção constante de David Frankel desde que nos fez derreter em Marley & Eu (2008). A diferença é que no filme do adorável labrador, apesar dos problemas, havia um bom fechamento da história e coerência no texto, apesar de não ser perfeito. Mas não há nada disso em Beleza Oculta, que termina com muita emoção e muita interrogação.

Beleza Oculta (Collateral Beauty) — EUA, 2016
Direção: David Frankel
Roteiro: Allan Loeb
Elenco: Will Smith, Edward Norton, Kate Winslet, Michael Peña, Helen Mirren, Naomie Harris, Keira Knightley, Jacob Latimore, Ann Dowd, Liza Colón-Zayas, Natalie Gold, Kylie Rogers, Shirley Rumierk, Alyssa Cheatham, Benjamin Snyder
Duração: 97 min.

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