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Crítica | Benzinho

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Benzinho funciona quase como uma demonstração de todos os esforços que um cineasta pode ter em emular um grande sucesso de Sundance. O filme teve uma boa repercussão no Festival, não por menos. O diretor Gustavo Pizzi conseguiu reunir um punhado de elementos que geralmente fazem sucesso entre o público indie e posicionou-os numa família semidisfuncional brasileira, mas não é certeiro ao entregar-se ao seus argumentos.

Para um filme cujo mote sejam as dificuldades que uma família de classe média baixa passa, pouco é tratado fora do nível superficial. A figura materna da Karine Teles que interpreta uma mulher se segurando para não deixar-se levar pela ansiedade não passa de uma caricatura, e mesmo quando deve empenhar-se em sequências de histeria vai pouco além do vergonhoso. O tom de Benzinho vai do naturalista ao caricato, desistindo aos poucos da face dramática para revelar sua visão afetuosa porém singela demais sobre o mundo que ali é retratado.

Os problemas envolvendo maternidade, violência doméstica, crise financeira, são reprimidos e deixados em aberto para dar luz aos momentos de descontração da família, mas sem abandonar a encenação da classe média que o diretor dá vida. O ponto positivo seria a casa da família que é bem estruturada naquele “caos ordenado”, onde tudo parece fora de lugar ao mesmo tempo que há o pertencimento. É um lugar simples onde moram três adultos e quatro crianças, uma estante de livros ao lado da banheira é verossímil ainda que fora do comum. É um espaço muito convidativo para o fio condutor que o filme poderia ser, mas tudo se deixa levar e se perde muito facilmente, numa trama tão sensível quanto as paredes da própria casa.

Se não é um filme sobre os problemas da família, sobre a casa, seria um filme sobre o peso que aquela mãe carrega? Deveria. Há os já citados momentos de histeria, onde Karine precisa descarregar depois de um dia inteiro correndo atrás do trabalho, cuidando dos filhos, lidando com as insatisfações dela, do marido e da irmã. É uma figura muito comum no imaginário brasileiro a da mulher cujo destino é assentar-se na casa e cuidar de todas as responsabilidades tornando-se um suporte emocional desprezado pelo família, mas que no final do dia acaba estourando e dando um reinício no seu estado emocional que reflete o do resto da família.

Por mais que hajam algumas tentativas de criar conflitos para dar algum peso ao filme, Benzinho se restringe à comédia agridoce. Tudo é deixado de lado para dar ao público o que eles mais querem: o lado afetuoso de um ambiente tradicional que reflete muito na domesticação do grande público que prefere filmes leves aos bem resolvidos, sintoma que prova a preferência de alguns cinéfilos pelas medíocres comédias argentinas. Há várias discussões que começam a ser comentadas ao longo do filme, mas todas são esquecidas, e por quê não dizer perdoadas? No fim do dia todo mundo dorme feliz, mas quem segura toda a dor do mundo segue sendo a mãe.

Benzinho – Brasil, 2018
Direção: Gustavo Pizzi
Roteiro: Gustavo Pizzi, Karine Teles
Elenco: Karine Teles, Otávio Muller, Adriana Esteve, Konstantinos Sarris, César Troncoso, Mateus Solano, Camilo Pellegrini, Ariclenes Barroso, Pablo Riera, Lucas Gouvêa, Ingrid Guimarães
Duração: 95 min.

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