Home TVEpisódio Crítica | Better Call Saul – 1X09: Pimento

Crítica | Better Call Saul – 1X09: Pimento

por Ritter Fan
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estrelas 5,0

Obs: Há spoilers da série. Leia as críticas dos episódios anteriores, aqui.  

Vince Gilligan foi devagarinho apresentando seus personagens, fazendo-nos torcer por Jimmy apesar de também nos introduzir ao seu passado como Slippin’ Jimmy (ou Jimmy Sabonete na tradução) e de nós conhecermos seu futuro como Saul e fazendo-nos sofrer com o problema psiquiátrico de Chuck, que tem que literalmente confinar seu vasto conhecimento jurídico à sua casa, no escuro, já que não consegue viver perto de campos elétricos, por menores que sejam. Vince Gilligan também foi nos obrigando a odiar o almofadinha do sócio de Chuck, Howard Hamlin, sócio principal atuante do mega-escritório HHM. E, pior ainda, de maneira sorrateira, Gilligan foi mais aos poucos ainda construindo a prática de Jimmy focada em idosos, fazendo-o descobrir um potencial caso gigantesco e ficando feliz no processo, somente para visivelmente deixá-lo na beira de um inevitável precipício.

E era óbvio que esse precipício viria pelas mãos vilanescas de Howard Hamlin ainda que fosse claro que algum tipo de envolvimento de Chuck ocorreria (sua morte, agravamento da doença, pode escolher). Afinal, não existe ninguém que odeia mais Jimmy do que ele. Aprendemos que, apesar da pequena vitória do futuro Saul ao passar na prova da Ordem e tornar-se um advogado, ele se recusou a empregá-lo no HHM. E, dito e feito, Howard se recusa, depois que Chuck convence Jimmy a trazer a HHM como peso pesado em seu caso milionário, em deixá-lo ocupar uma sala em seu escritório como associado ou algo do gênero. Nós esperávamos isso, não é mesmo?

Sim, esperávamos. Não era surpresa. Gilligan estava caminhando por um caminho claro, sem desvios.

Não fosse um estranho telefonema que Chuck dá na noite anterior à fatídica reunião na HHM… Manusear celulares, para ele, mesmo se sentindo melhor, é uma tortura. Mas, não. Não pode ser…

Mas é. Gilligan vem e nos puxa o tapete. Ele seguia sim na direção da queda de Jimmy, mas o vetor dessa queda é a pessoa que Jimmy mais ama, seu próprio irmão mais velho que o livrou da cadeia e, apesar de seu passado, o colocou no caminho da luz. A rasteira que levamos é dura, pois a conversa entre os irmãos depois que Jimmy descobre sobre a ligação e conecta os pontos é impiedosa. Não há desculpas plausíveis para a ação de Chuck.  Não há “poréns” e “todavias”. Há, apenas, um sentimento difícil de classificar. Vergonha? Inveja? Desdém? Desgosto? É realmente complicado categorizar o que Chuck realmente sente pelo fato de seu irmão ter lutado e, mesmo valendo-se de curso por correspondência e uma faculdade, digamos, de reputação inexistente, ter conseguido passar na dificílima prova da Ordem. Chuck não o quer como advogado, pois Chuck entregou-se de corpo e alma à profissão e Jimmy não é merecedor de ser seu par.

Uau. E isso é uma conversa entre irmãos! E um deles doente, que precisa da constante ajuda do outro que, mesmo tendo suas razões escusas aqui e ali, realmente faz o que faz de coração. A transformação nos semblantes de Bob Odenkirk e de Michael McKean já valem um Emmy duplo aqui. O desapontamento crescente de Jimmy e a raiva incontida de Chuck se chocam e nos chocam.

E a fotografia que vimos em Bingo, com planos abertos e americanos, privilegiando o espaço aberto, o vazio ao mesmo tempo que desvelando a intimidade dos personagens, volta com força total em Pimento. Sentimos mais uma vez a solidão de Jimmy, a beira do precipício ali, pertinho. Sentimos que ele não tem saída, que seu mundo acabou e não em razão de um inimigo aberto, visível, mas sim de um inimigo velado, escondido às claras (tecnicamente, às escuras) à sua frente. É um momento dilacerante tanto para Jimmy quanto para nós, espectadores.

Mas o episódio não é só dor. Muita atenção é dada a Mike em sua missão de juntar dinheiro para sua nora e neta. Depois de dar um cachorrinho vira-lata para a netinha, ele parte para servir de guarda-costas de um criminoso de primeira viagem, gerando um excelente e bem colocado alívio cômico em Pimento. Desde a sequência inicial em que Mike demonstra todas as sua habilidades em um guarda-costas falastrão e faz outro gigante correr até o momento da “troca” com os traficantes, tudo funciona perfeitamente para tentar dar algum equilíbrio à sobriedade do que vemos do lado de Jimmy, em uma interessante inversão da lógica da série.

Mesmo com esse lado mais leve a encargo do carrancudo Jonathan Banks, que novamente tem uma atuação digna de nota, vemos que Mike caminha em caminho que fatalmente se cruzará com o de Jimmy novamente. Pode não ser agora – mas suspeito que já veremos uma prévia no episódio que encerra a temporada – mas a ascensão de Saul tem clara ligação com a queda de Mike (e de Jimmy, lógico).

Vince Gilligan mais uma vez soube nos manipular. Nos levou por um caminho claramente iluminado por sua linha narrativa certeira, somente para, de repente, mostrar que tudo era uma ilusão orquestrada por sua mente destruidora. Gilligan, nós amamos odiá-lo pelo que você faz com seus personagens!

Preparados para o season finale?

Better Call Saul – 1X09: Pimento (EUA, 2015)
Showrunner: Vince Gilligan
Direção: Thomas Schnauz
Roteiro: Thomas Schnauz
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Michael McKean, Raymond Cruz, Julie Ann Emery, Jeremy Shamos, Steven Levine, Daniel Spenser Levine, Eileen Fogarty
Duração: 47 min.

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