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Crítica | Better Call Saul – 3X07: Expenses

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

Obs: Há spoilers da série. Leiam, aqui, as críticas dos episódios anteriores.

Obs 2: Ritter Fan reviu a franquia Piratas do Caribe (a preferida dele) e decidiu dar uma de Luiz Santiago e tirar férias no Caribe, com muita praia e muito sol. Por isso, irei substitui-lo essa semana.

Assim como Off Brand, episódio da semana passada, Expenses é um capítulo funcional, feito para movimentar a trama de todos os personagens, enquanto, é claro, trabalha a queda de Jimmy McGill e, aqui, mais do que nunca, vemos o advogado chegando muito próximo do fundo do poço, mesmo considerando sua “vitória” no tribunal contra Chuck. Mesmo tendo o avanço da narrativa como principal objetivo, o diretor e roteiristas Thomas Schnauz, que já trabalha com Gilligan desde Breaking Bad, nos oferece alguns momentos que valem ouro, mostrando como Better Call Saul é uma das melhores séries da atualidade.

Expenses já abre com um plano mais aberto, com Jimmy e outras pessoas desconhecidas contra um muro de tijolos, não por acaso dividido em linhas. É claro que a intenção é traçar o paralelo com criminosos sendo fichados pela polícia, ou o reconhecimento de suspeitos e, de fato, todos ali cometeram algum crime, visto que estão à espera da van para realizarem o serviço comunitário. Mais que isso, porém, Schnauz cria um vínculo mais sutil com a mudança de identidade, que aparece em Breaking Bad, com a pessoa esperando o veículo chegar com os documentos novos, pronto para levá-lo para um outro lugar. Desde já entendemos qual será o foco do episódio, queda de McGill, que abrirá espaço para a ascensão de Saul, que nascera no final de Off Brand.

Creio que todos já tivemos aquele dia especial no qual tudo parece dar errado e, claro, tal situação se torna ainda pior quando a conta bancária se aproxima, perigosamente, do zero (ou abaixo disso, em alguns casos). Nesse episódio vemos que Jimmy não está tendo um dia assim, e sim semanas, com tudo que ele construíra nas duas primeiras temporadas indo por água abaixo, desde sua relação com Kim, até o seu nome em si, que ficará, para sempre manchado em razão de sua suspensão. O roteiro sabiamente vai preenchendo a narrativa com tais choques a fim de criar a sensação de claustrofobia, a qual o protagonista sente e, é claro, nós próprios acabamos sentindo também. Passo a passo, McGill se vê sem ter por onde ir e, quando colocado contra o muro, Slippin’ Jimmy toma seu lugar, pronto para tirá-lo da emboscada.

Chega a ser impressionante ver como Bob Odenkirk se transforma, como se tivesse interpretando um personagem completamente diferente. Na sequência no bar, com James e Kim, vemos seu olhar se escurecer, com o personagem sendo tomado, de súbito, por uma mórbida seriedade, enquanto planeja destruir um total desconhecido apenas porque ele foi um babaca com o garçom. Somado a isso temos sua raiva quando Chuck é mencionado pela sua parceira, mostrando todo o ressentimento guardado em seu coração, algo que, claro, se mantém até a sequência final, na qual Jimmy claramente busca passar a perna em seu irmão mais uma vez, provavelmente o culpando pela sua desgraça.

Com isso em mente, fica fácil enxergar a estrutura criada por Vince Gilligan e Peter Gould nessa temporada. Sua primeira metade nos trouxera a escalada até o julgamento, construindo toda a tensão entre os irmãos, até que ela explodiria diante dos juízes, advogados e testemunhas. A partir desse capítulo, então, o que vemos são as consequências, que afetam não só os McGill, como todos aqueles relacionados a eles, desde Kim até Hamlin. Não acredito que seja um chute muito grande ver tudo isso sendo destruído, assim como acontecera em Breaking Bad. Nessa destruição, o único sobrevivente (figurativamente falando, claro) seria Saul Goodman.

Em paralelo, seguindo uma via similar, temos Nacho e Mike. O primeiro continuando seu plano para acabar com Salamanca e o segundo tentando viver uma vida “limpa” e enxergando que isso significará apenas o esquecimento. Um dos aspectos mais curiosos da série é como seus diferentes focos se destacam em determinados momentos. Já tivemos o arco de Mike como o mais engajante por um tempo, para, depois, nossa atenção ser virada para Jimmy. Fica bastante claro que a intenção dos showrunners é a de não deixar a narrativa perder sua velocidade, com a tensão se originando de pontos distintos. Dito isso, o que vemos aqui é a construção do que, possivelmente, veremos no finale, que deve nos trazer o infarto de Salamanca, finalmente. Claro que poderia haver um pouco mais de movimentação nesses arcos, mas entendemos a intenção da produção em deixar tudo para o clímax.

Se há alguma palavra que possa caracterizar Expenses, sétimo episódio da terceira temporada de Better Call Saul, é justamente essa: construção. Vemos, novamente, o muro sendo erguido a fim de ser derrubado no final, as peças se reposicionando para um novo jogo, já que a primeira partida se encerrara em Chicanery. O jogo, porém, é diferente agora: Jimmy precisa sobreviver a esse momento de crise e nessas horas, somente há uma pessoa para quem ele pode ligar: Saul.

Better Call Saul – 3X07: Expenses (EUA, 22 de maio de 2017)
Criação: Vince Gilligan, Peter Gould
Showrunner: Vince Gilligan
Direção: Thomas Schnauz
Roteiro: Thomas Schnauz
Elenco: Bob Odenkirk, Jonathan Banks, Rhea Seehorn, Patrick Fabian, Michael Mando, Michael McKean, Raymond Cruz, Julie Ann Emery, Jeremy Shamos, Steven Levine, Daniel Spenser Levine, Eileen Fogarty, Mel Rodriguez, Mark Proksch, Mark Margolis, Giancarlo Esposito, Steven Bauer, Ann Cusack, Lavell Crawford, Laura Fraser
Duração: 53 min.

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