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Crítica | “Black Sabbath” – Black Sabbath

por Luiz Santiago
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Formada em Birmingham, Reino Unido, no ano de 1968, a banda Black Sabbath teve como membros originais o quarteto Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). Antes desse primeiro formato, os amigos estiveram juntos na The Polka Tulk Blues Band que em seguida viraria Earth, até que Geezer Butler assistiu a um filme chamado As Três Máscaras do Terror (1963), do cineasta italiano Mario Bava. Como o título do filme em inglês é Black Sabbath, o músico se inspirou no conceito e começou a rascunhar algo que seria a música de abertura do primeiro álbum de estúdio do grupo, lançado em uma sexta-feira 13, em setembro de 1970.

O significado do álbum Black Sabbath para o rock é inestimável. E digo isso em vários aspectos. A decadência do movimento hippie, os horrores do Vietnã, o terrível episódio com os Hells Angels no show dos Stones, as transformações e readequações do rock psicodélico, a constante vertente experimental musical no Reino Unido, tudo isso fez o BS querer aumentar e distorcer o blues rock ao máximo, criando um som que seus colegas do Led Zeppelin e do Deep Purple não faziam, o que dá à banda a quase tranquila (embora isso sempre traga discordâncias) classificação de “primeira a gravar um disco Heavy Metal”.

  • Marte, da Suíte Os Planetas de Gustav Holst: inspiração para o riff de Black Sabbath

Classificações à parte, qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade musical e conhecimento histórico da música entre final dos anos 1960 e início dos anos 1970 sabe o quão esse álbum merece respeito. E talvez seja até possível perdoar o produtor Rodger Bain pelo tímido trabalho que ele faz no disco, porque, imaginem só, produzir um álbum de uma banda chamada Black Sabbath e com uma faixa de abertura (Black Sabbath) que fala da chegada de Satã numa espécie de “grande momento”, escolhendo o eu lírico do poema e atormentando as pessoas, influenciando-as com seus desejos, já deve ter sido um ato corajoso o bastante para o produtor. E mesmo com essa produção receosa de correr [mais] riscos e uma mixagem um pouco problemática, especialmente nas faixas The Wizard e Evil Woman, o disco é uma pérola incrustada no início da década, uma viagem para os abismos infernais, para as terras mágicas de um quase-Gandalf ou para os muros de um vilarejo idílico mas que esconde alguma coisa em sua quietude.

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Eu estou entre as pessoas que pensam a canção Black Sabbath como um grande filme de terror. As imagens poéticas são poderosas e claras o bastante para no fazer imaginar. O macabro riff repetitivo, o vocal entoado como uma obscura trova medieval por Ozzy Osbourne, a inquieta bateria de Ward, a água, o vento, os sinos e os trovões do início, tudo é perfeitamente equilibrado para nos gerar uma sensação de medo, que cresce aos poucos na introdução e chega às estrofes em pura sombra. Trata-se não só da melhor faixa do álbum (e aqui eu sei que pago a língua no que disse sobre a produção) mas também de uma das melhores dentro de seu gênero.

Composta pelos 4 membros da banda, The Wizard é, apesar do exagero — veja aqui um momento em que o produtor poderia intervir –, uma grande canção. A linha musical da gaita é muito boa e a subsequente progressão de acordes também, mas a repetição entre as estrofes acaba não fazendo bem à faixa e a mudança daí para os refrões não é tão interessante quanto na música anterior, com seu trítono perfeitamente executado tanto vocal quanto instrumentalmente.

Já a “simplicidade” na concepção de Behind the Wall of Sleep, que é baseada em um conto de H.P. Lovecraft chamado Beyond the Wall of Sleep (1919), entrega uma canção menos pesada, porém, com instrumentos melhor identificáveis, cada um com entradas e saídas bem moduladas e com pontes inteligentes. O que a impede de ser melhor são os ruídos (vulgo ‘efeitos sonoros’) que ouvimos nos vocais de Ozzy, mas essa adição não chega a atrapalhar a audição, muito pelo contrário, nos prepara para a excelente N.I.B., que fecha o Lado A do álbum.

E o diabo volta! Com letra que narra uma história do ponto de vista de Lúcifer, N.I.B., que originalmente não tinha significado sombrio e depois foi incorporado pela banda a definição Nativity in Black, é claramente inspirada em Sunshine Of Your Love, do Cream, mas nem por isso deixa de ter a marca do Black Sabbath. A harmonia descendente do refrão, o tamborim que curiosamente funcionou muito bem na frase e os intoxicantes riffs (aqui, tanto da guitarra quanto do baixo) não fazem feio e até nos faz relevar a regravação de uma música da banda Crow, Evil Woman, que apesar da boa execução, tem um refrão que se repete a perder de vista e nem o excelente Iommi faz com que ela fosse de grande valia para o álbum. Na verdade, apesar de não ser a única regravação, para mim é a mais deslocada do todo, embora, repito, eu não a ache ruim, apenas fraca. A mais fraca do disco.

Sleeping Village é um delicioso mistério. Uma das canções mais criativas do LP, com multi-sessões, ritmos e destaques instrumentais diferentes e tudo isso permeado por apenas um verso. É uma faixa predominantemente instrumental com uma letra que pode ter vários significados — simbólico, metafórico, literal ou de duplo sentido — e também formas diferentes de mostrar esse vilarejo que dorme para o público, um exercício que não termina, mas é ligado aos acordes iniciais da maior faixa do álbum, Warning, música dos The Aynsley Dunbar Retaliation.

Barulhento, distorcido, sombrio/demoníaco, ousado, pioneiro, Black Sabbath foi o primeiro passo de uma das bandas mais marcantes da história e que, mesmo se não tivesse feito Paranoid, Master Of Reality, Volume 4 ou Sabbath Bloody Sabbath, já teria lugar cativo no coração (e nos pesadelos) de muitos fãs pelo mundo a fora, só por este primeiro lançamento.

Aumenta!: Black Sabbath
Diminui!: Evil Woman
Minhas canções favoritas do álbum: Black Sabbath,  N.I.B  e  Sleeping Village 

Black Sabbath
Artista: Black Sabbath
País: Reino Unido
Lançamento: 13 de setembro de 1970
Gravadora: Vertigo
Estilo: Heavy Metal

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